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As suspeitas sobre Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

As suspeitas sobre Bolsonaro

Tipo Opinião
Bolsonaro e Milton Ribeiro (Foto: Clauber Cleber Caetano/PR)
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR Bolsonaro e Milton Ribeiro

Obstruir a Justiça, atrapalhar investigação, vazar dados sigilosos da Polícia para suspeitos, interferir em inquérito estão entre as mais graves faltas que podem ser cometidas por um agente público. Os elementos contra Jair Bolsonaro (PL) são comprometedores. Porque, inclusive, não se limitam à gravação interceptada do ex-ministro Milton Ribeiro, ao fato de o relato feito à filha ao telefone ter se confirmado, desde Bolsonaro estar em viagem aos Estados Unidos até a efetiva realização da busca e apreensão anunciada. Ou ao fato de a mulher do ex-ministro, Myrian Ribeiro, ter dito, também em conversa interceptada, que o marido sabia da operação porque foi avisado por “alguém do alto”. “Ele tava… no fundo, não queria acreditar, mas ele tava sabendo. Falei… pra ter rumores do alto é porque o negócio já tava certo.” Ribeiro é pastor, mas esses “rumores do alto” não eram de nenhum anjo. Além disso tudo, pesa também contra Bolsonaro as muitas suspeitas e evidências anteriores de que ele pretenderia intervir na Polícia Federal para proteger pessoas próximas.

A principal acusação partiu de Sergio Moro, que deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmando que o presidente teria intenção de interferir na Polícia Federal no Rio de Janeiro, supostamente para proteger familiares. A troca ocorreu — e até o diretor-geral da PF caiu.

Na época em que o presidente cobrava a demissão do então diretor-geral, Maurício Valeixo, houve ainda uma troca de mensagens que aponta clara intenção de impedir que aliados fossem atingidos. Bolsonaro enviou a Moro, então ministro, o link de notícia do portal O Antagonista. O título era: "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas." O presidente comentou: "Mais um motivo para a troca." Moro se explicou dizendo que foi o Supremo Tribunal Federal (STF) quem determinou as diligências. Na ocasião, o presidente cobrava a saída de Valeixo, que ocorreu logo depois.

As mensagens não deixam dúvida do que Bolsonaro dizia: a investigação da PF sobre aliados era motivo para trocar o comando da instituição. Os fatos são graves e em conjunto reforçam a história que se desenrola agora: o presidente ter acesso a informações do inquérito e vazá-las a um aliado investigado combina com o nível de influência que ele insistia para ter e não estava conseguindo antes. Após mudanças, parece ter chegado lá. Ter instituições públicas a serviço de interesses particulares ajuda a ter pressentimentos.

Quem colocou o presidente na confusão

Houve reações de Bolsonaro, de aliados e da família à vinculação do presidente ao caso. No dia da prisão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, afirmou no Twitter: “Parece que a intenção desse juiz é querer humilhar o Milton, é querer causar um desgaste grande ao governo querendo vincular essa suspeita que existe sobre um ex-integrante do governo a atual gestão do presidente Bolsonaro.” Ele completou: “Tudo farão para tentar desgastar a imagem de um presidente honesto sem qualquer caso de corrupção.”

Ora, não estão vinculando Bolsonaro à história. O presidente está vinculado. A ligação nasceu em um dos primeiros áudios, no qual Milton Ribeiro dizia que era orientação do presidente prestigiar os pastores na distribuição de verbas. Na época, Bolsonaro não viu nada demais no áudio, segundo Ribeiro. Depois, foi Bolsonaro quem se atrelou, ao afirmar que colocaria a cara no fogo. Após a prisão, reconheceu que era exagero, mas reafirmou que botaria a mão no fogo. No dia seguinte, toma-se conhecimento do áudio no qual Ribeiro enrola de vez o presidente. Faz relato com informação que ele não deveria nem poderia ter, e a atribui a Bolsonaro.

Não cabem teorias da conspiração ou paranóias nesse caso. Quem enrolou o presidente foi o ex-ministro por quem ele colocava a cara no fogo, e o próprio Bolsonaro ao se amarrar ao ex-subordinado. Quem coloca cara no fogo é para se queimar.

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