Lula tenta avançar sobre o eleitorado de Ciro Gomes
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez ajuste na estratégia e tenta tirar votos de Ciro Gomes (PDT), na esperança de vencer no primeiro turno. Esse passo estava no plano dos petistas, mas para o fim de setembro. Ali seria feito um apelo na perspectiva de voto útil, para tentar definir logo a eleição. Porém, a campanha de Lula decidiu antecipar a estratégia, e já deu passos nesse sentido.
Nesta terça-feira, 6, Lula fez referências a Ciro, sem citar o nome dele. "Além do candidato a presidente temos os candidatos da oposição. Sei que às vezes vocês ficam chateados porque a oposição nos ataca. É normal. Eles me atacam porque eles têm medo que eu ganhe no primeiro turno. A gente não tem que ter vergonha de dizer que quer ganhar no primeiro turno. Quem tem 5, 6, 7 ou 8, sonha em chegar a 40 ou 30 para ir ao segundo turno? Ora, por que quem tem 45 não pode sonhar apenas com mais 5 e ganhar no primeiro turno?", indagou, em conversa com aliados, acompanhada por jornalistas.
Lula ainda ironizou o fato de, segundo ele, alguns candidatos não conseguirem fazer comício em campanha. "Não faz comício não é porque não quer, é porque não junta gente. É preciso ter história, é preciso ter programa, é preciso ter compromisso para juntar o povo na rua e discutir com eles", afirmou. A fala é pretensamente genérica, mas o alvo prioritário é Ciro.
Campanha petista incomodada
A mudança da postura na campanha de Lula teria entre as motivações o incômodo com a postura de Ciro. Há entendimento de que o pedetista foi longe demais nas críticas, Inclusive à saúde física e mental de Lula. Há interpretação de que os ataques de Ciro não têm servido ao candidato, mas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ontem, por exemplo, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, compartilhou vídeo de Ciro com críticas e acusações contra Lula, citando corrupção em Furnas. Atitudes como essa teriam levado à decisão da campanha de avançar contra o PDT.
Não é só isso. Em pesquisas recentes, Ciro e também Simone Tebet (MDB) tiveram oscilações positivas. Coisa pouca, na margem de erro. Mas, no cenário de Lula e Bolsonaro estabilizados, o avanço dos que estão atrás, discreto que seja, faz crescer a possibilidade de segundo turno.
Além disso, pelo perfil do eleitorado e pela sinalização da consolidação de voto apontada nas pesquisas, a campanha de Lula sabe que o voto de Ciro é aquele mais factível de ser atraído. Essa ação, como escrevi anteriormente, estava prevista, mas ocorreria mais adiante.
Lula contava com o apoio de Ciro no segundo turno. Quem acompanha a postura que o pedetista tem tomado em relação ao PT sabe que isso é mais que improvável. Todavia, o risco do confronto é afastar também os eleitores de Ciro.
No 7 de setembro, Bolsonaro tem mais a perder que a ganhar
Como no ano passado, Bolsonaro fará do 7 de setembro um grande momento de demonstração de força política. Haverá hoje grandes manifestações. Se maiores ou menores que em 2021, veremos. Há, porém, ambiente de tensão. Instituições reforçam a segurança. No ano passado, Bolsonaro usou a demonstração de força para ameaçar e pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). Acabou tendo de recuar e divulgou carta escrita por Michel Temer (MDB) para se retratar.
Hoje o cenário é de eleição. Demonstração de força impressiona, tem impacto e sinaliza viabilidade eleitoral. Mas, ameaçar e promover turbulências institucionais, semanas antes da eleição, pode aumentar mais a rejeição do que garantir votos.
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