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Bolsonaro é pequeno e o horizonte dele é o mês que vem
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro é pequeno e o horizonte dele é o mês que vem

Presidente rebaixou o sentido de uma data simbolicamente muito importante
Tipo Opinião
 Bolsonaro sugeriu comparar primeiras-damas como critério de voto (Foto: EVARISTO SA/AFP)
Foto: EVARISTO SA/AFP  Bolsonaro sugeriu comparar primeiras-damas como critério de voto

Jair Bolsonaro (PL) tem capacidade de mobilizar apoiadores da qual nenhum político brasileiro nem sequer se aproxima. As principais manifestações de ontem tiveram tamanho considerável. Para isso, em vários lugares, valeu-se da estrutura de Estado. Usou as Forças Armadas. No Rio de Janeiro, até forças estrangeiras foram usadas num desfile naval. As embarcações estão no Brasil para um exercício naval multinacional. E foram usadas como atração de público para um ato de campanha. Afinal, os aliados não expõem as multidões presentes como demonstração de apoio ao presidente? E é mesmo. Para reunir esse público, aparato estatal foi mobilizado. Isso é grave.

A data de ontem é simbólica. O 7 de setembro, o grito do Ipiranga, foi escolhido como para representar um processo. Não é que o Brasil era colônia (àquela altura reino unido, na verdade) de Portugal num dia e no dia seguinte era independente. Muita coisa aconteceu antes de depois de 7 de setembro de 1822 para a separação de fato da antiga metrópole. Foram anos de crises, guerras, negociações e pagamento de muito dinheiro, como indenização. De todo modo, simbolicamente, a comemoração dos 200 anos é o marco da celebração da nacionalidade. É a principal data cívica do Brasil. Bolsonaro usou para pedir voto, como se fosse uma quermesse, um bandeiraço, um adesivaço, uma panfletagem.

O Brasil é governado por um homem pequeno, de mentalidade tacanha e visão estreita. Ele não tem tamanho para ser presidente, como não tinha para ser deputado. Segundo Ernesto Geisel, nem para ser militar. Bolsonaro não teve a dimensão do significado da data de ontem. De como poderia ser um marco da passagem dele pela presidência.

Ontem foi celebrado também o centenário do rádio no Brasil, inaugurado com um discurso do então presidente Epitácio Pessoa nos 100 anos do grito do Ipiranga. Nos 150 anos, em 1972, a ditadura, sob comando de Emílio Garrastazu Médici, explorou bastante a data, com música cinema e futebol. Com todos os equívocos, a máquina de propaganda da ditadura produziu um acontecimento relevante. E esses 200 anos, como ficam marcados? O que Bolsonaro produziu?

Um comício caro, desqualificado e que se aproveitou das Forças Armadas. Mas, não só isso. Se o rádio tivesse sido inaugurado ontem com as palavras do presidente para comemorar o bicentenário, as ondas transmitiriam ameaças a adversários e um discurso bizarro de comparação entre as esposas dele e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além da sugestão para solteiros buscarem “uma mulher, uma princesa”. A cereja do bolo foi puxar o coro para ele próprio de “imbroxável”, diante de um sorriso desconcertado de Michelle. Isso numa data emblemática para o Brasil.

Se Bolsonaro tivesse alguma dimensão da função que exerce, poderia ter aproveitado a chance que lhe caiu no colo para produzir um marco para ser lembrado daqui a anos. A perspectiva estreita de Bolsonaro é incapaz de ter visão de Estado ou do lugar na história. O olhar dele alcança até o mês que vem, no momento da eleição. É esse o horizonte e a obsessão de um governante minúsculo.

O que Bolsonaro obteve

Bolsonaro fez uma demonstração de força. De que serve numa campanha? Anima os apoiadores, frente às pesquisas desfavoráveis. Ajuda a atrair financiadores, pois mostra que o candidato tem apoio. Sobretudo, serve ao discurso do presidente de tentar desacreditar os institutos. Faz isso: discurso. Porque o fato de reunir muita gente na rua não mostra que Bolsonaro tem apoio da maioria da população. Mostra que tem uma base fiel. Isso as pesquisas nunca deixaram de expor.

Ameaça

A ameaça à democracia feita pelo deputado Delegado Cavalcante (PL) não pode ser tida como fanfarronice, bravata, bazófia. Ele é um detentor de mandato público. Mais que aquilo que possa fazer, ele insufla a multidão em um momento em que a violência política já é uma realidade. Ele joga querosene.

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