Saída de Cid do PDT não combinaria com o histórico dele
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Saída de Cid do PDT não combinaria com o histórico dele
Senador vive estremecimento na relação com a cúpula do PDT. Há quem acredite que possa até deixar a legenda — o que, se ocorresse agora, iria de encontro ao histórico de Cid
O mal-estar no PDT cearense começou na pré-campanha e cresceu após o resultado do primeiro turno no Ceará. Havia incômodo com a postura do senador Cid Gomes de se distanciar da campanha, o que piorou bastante com a adesão dele à campanha de Camilo Santana (PT) a senador e deteriorou de vez com a desenvoltura em que subiu em palanque pró-Lula (PT) ao lado de Camilo e Elmano de Freitas (PT) no segundo turno. Em função disso, surgem especulações de que Cid poderia deixar o partido. O incômodo é real. Porém, a saída do partido neste momento seria atípica em relação ao modo como o senador sempre se moveu na política. Embora desta vez haja um ingrediente novo — a deterioração da relação com Ciro Gomes (PDT) de modo como talvez nunca tenha ocorrido entre os irmãos.
A rigor, os nomes que saíram da eleição mais fortalecidos no PDT são próximos a Camilo, à governadora Izolda Cela (sem partido) e ao governador eleito Elmano. Caso do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, deputado estadual mais votado do partido, e de Idilvan Alencar, deputado federal pedetista mais votado no Ceará. A sigla fez maior bancada federal e na Assembleia, o que não combina com o resultado da chapa para governo e Senado. Todavia, o grupo mais próximo a Ciro, ao candidato derrotado a governador, Roberto Cláudio, e ao presidente estadual da legenda, André Figueiredo, controla a máquina e a interlocução com o comando nacional.
Já está instalada uma guerra de bastidores sobre o rumo pedetista. Não será fácil para Cid levar a legenda para a base de Elmano, pela cadeia de comando da sigla. Por outro lado, é improvável a direção conseguir manter a legenda na oposição. O partido tem o maior número de prefeitos no Ceará, mas a eleição deixou claro que eles não são necessariamente fiéis à diretriz partidária e seguirão o poder.
A eventual insistência numa postura de oposição estadual pode, sim, provocar uma debandada que envolva Cid. Porém, pelo histórico de atuação política, é improvável uma troca a esta altura.
As mudanças de partido de Cid Gomes
Não que Cid seja a pessoa mais fiel a partidos. O histórico do grupo mostra o contrário. Mas, as trocas sempre ocorreram, até aqui, no prazo para disputar eleições, nunca muito antes disso. Foi assim na mudança do PMDB para PSDB, antes das eleições de 1990; do PSDB para o PPS, de olho nas eleições de 1998; do PPS para o PSB, antes do pleito de 2006; do PSB para o Pros, com vistas a 2014; e do Pros para o PDT, para a eleição de 2016.
Cid tem mandato até fevereiro de 2027. Diz que nem quer ser candidato mais a nada. O irmão dele e prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), alinhado ao senador, também não será candidato até 2026. Não há urgência em migrar. Ah, mas se houver hostilidade?
Em 2005, após muita briga no PPS, que queria a saída de Ciro Gomes do ministério do governo Lula, o comando nacional dissolveu o diretório no Ceará, presidido à época por Cid. Antes, Ciro e a então senadora Patrícia Saboya haviam sido suspensos das atividades partidárias, perderam cargos de direção e direito a voto. Quando o diretório foi dissolvido, foram canceladas todas as filiações de quem não fez recadastramento — o que incluía quase todo o PPS cearense. Isso foi em abril e, àquela altura, o grupo já tinha acertado a filiação ao PSB. Porém, Cid e os aliados só se aliaram três meses e meio depois, já perto do fim do prazo para as eleições.
O que isso quer dizer? Cid pode até sair do PDT, mas não é provável hoje. Se isso ocorrer, a não ser que mude de postura em relação ao que sempre fez, a tendência é que uma nova filiação só ocorra perto do fim do prazo eleitoral.
O poder e os oportunistas
O Ceará já viu grande partido minguar ao virar oposição. Quando o PSDB perdeu o governo, na eleição justamente de Cid Gomes, em 2006, Tasso Jereissati disse que havia um lado bom: “Tem aspectos positivos. O PSDB esteve esses 20 anos no poder e foi muito inflado por oportunistas e dá uma purificada agora para voltar a ser o PSDB que era.”
Ao montar o governo, Cid chamou o PSDB. Houve quem defendesse a ida à oposição. Mas, entendeu-se que a maior parte dos membros não sustentariam posição fora do governo. Depois do rompimento de Tasso com Cid, isso se confirmou e o PSDB sofreu esvaziamento do qual nunca se recuperou. Talvez houvesse mais oportunistas do que o senador tucano calculava.
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