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Tiros, granadas e Roberto Jefferson
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Tiros, granadas e Roberto Jefferson

Uma das personagens mais desconcertantes da política brasileira, Jefferson participa de momentos que vão do inusitado ao bizarro, e acaba tendo muito mais importância do que merece
Tipo Opinião
 Roberto Jefferson: teatro político do absurdo (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil  Roberto Jefferson: teatro político do absurdo

Assim começou a semana que antecede o segundo turno das eleições no Brasil: um ex-deputado federal, em prisão domiciliar, recebe policiais federais a tiros e granadas. Segundo Roberto Jefferson (PTB), 50 tiros de fuzil e três granadas lançadas. Estilhaços feriram dois policiais.

No depoimento à Polícia Federal, ele falou que, se quisesse, teria matado os policiais. Mas, pediu desculpas, pois falou que não “atirou intencionalmente”. Devem ter sido 50 tiros sem querer.

Roberto Jefferson é personagem sombrio com papel, invariavelmente negativo, em momentos cruciais da política brasileira pós-redemocratização. Projetou-se como apresentador de um programa chamado “O Povo na TV”, na TVS, atual SBT. Dividia a apresentação com Sérgio Mallandro, Wagner Montes e Wilton Franco. Uma beleza.

Em uma das edições, o programa mostrou o drama de uma criança que sangrava pelos olhos. Ela aguardou por duas horas antes do programa e permaneceu no ar por 40 minutos, até morrer diante das câmeras. O programa não foi interrompido.

Ele estava na linha de frente da defesa do então presidente Fernando Collor na época do impeachment. No governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao qual apoiou, foi responsável por delatar o mensalão. No governo Michel Temer (MDB), indicou a filha, Cristiane Brasil, para o Ministério do Trabalho, mas ela foi impedida pela ministra Cármen Lúcia, do STF, de tomar posse, devido a condenações na Justiça do Trabalho.

No governo Jair Bolsonaro (PL), tornou-se aliado convicto do atual presidente. Inclusive, já havia falado em pegar em armas para defendê-lo.

Aliás, ameaçar resolver as coisas com armas e granadas não é novidade na trajetória dele. No livro “Roberto Jefferson: o homem que abalou a República” (Record, 2017), Cássio Bruno relata diálogo que se passou em agosto de 2005 entre o ex-deputado e o então senador Delcídio do Amaral, presidente da CPMI dos Correios. No dia seguinte, o genro de Jefferson, Marcus Vinícius, iria prestar depoimento. O sogro zeloso telefonou para Delcídio com um revólver e uma granada ao lado e avisou: “Se algum babaca desses der voz de prisão, você deita no chão porque eu vou explodir a CPI.”

O arsenal do preso

Nas várias bizarrices deste episódio, uma das coisas mais inexplicáveis é o que fazia um arsenal na residência de um condenado pela Justiça no cumprimento de prisão domiciliar.

O papel do PTB

O PTB é um partido em avançado declínio. Em 2014, elegeu 25 deputados federais. Em 2018, caiu para 10. Atualmente, com as mudanças de partido, tem três. Em 2 de outubro, conseguiu eleger um.
A legenda já foi estrela do centrão. Apoiava todos os governos, ao lado de PP e PL, pois não têm culpa de os governantes mudarem. Assim, foram importantes para a estabilidade dos vários presidentes.
O PL elegeu a maior bancada da Câmara. O Progressistas, como passou a se chamar o PP, tem a quarta maior bancada, com 47 deputados federais. Segue relevante.
O PTB de Jefferson e Padre Kelmon encolheu. Nas próximas eleições, nem terá espaço no horário eleitoral ou nos debates. Episódios como o de Kelmon este ano não se repetirão.

Foto do Érico Firmo

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