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O futuro da direita em jogo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O futuro da direita em jogo

Conservadores elegeram numerosa representação, que terá de decidir se atuará dentro da democracia ou irá abraçar a base golpista tresloucada — e se desmoralizar antes de o governo começar
Tipo Opinião
Manifestação em frente à 10ª Região Militar pedindo intervenção federal (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Manifestação em frente à 10ª Região Militar pedindo intervenção federal

No Dia de Finados, o Brasil assistiu a ideias decrépitas levadas às ruas, numa constrangedora demonstração de infantilidade. Jair Bolsonaro (PL) governou como adolescente birrento e mimado e uma fração de seus eleitores se porta da mesma maneira. Esperneia e se recusa a aceitar a derrota eleitoral. O presidente falou em injustiça. Os argumentos vêm depois, primeiro vem a evidência de que os fanáticos e delirantes não aceitam outra coisa que não a vitória do candidato deles. Democracia, entretanto, não funciona assim. Diferentemente da criação dada a tantas das crianças criadas por alguns dos segmentos revoltosos, não se ganha as coisas no choro, no grito.

Há imaturidade e birra, mas há mais que isso. As manifestações são autoritárias. São violentas naquilo que reivindicam. Querem golpe, poder a todo custo. Supressão do direito da maioria por mera vontade deles.

O vídeo em que um grupo pateticamente comemora uma prisão de Alexandre de Moraes que nunca existiu é emblemático. Primeiro, proliferaram tanto as informações falsas que a coisa parece ter saído de controle entre eles. A gravação mostra uma mulher ajoelhada no chão, batendo no peito repetidamente e gritando: “O Brasil é nosso!” O Brasil é deles, sim, mas não é mais deles que dos outros. O Brasil é dos brasileiros, que votaram e escolheram outro candidato, e eles não têm direito de querer mudar isso por mera indignação.

Piores ainda são as imagens como as registradas em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, com as pessoas fazendo o sieg heil, a conhecida saudação nazista. Ali está exposta a natureza desses atos. Não podem ser tolerados.

A alucinação, o delírio se juntam à intransigência, à construção de uma realidade própria como um mundo particular no qual se fecham e rejeitam o que vem de fora.

Os manifestantes questionam a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Criticam a esquerda, mas é a direita que fica na berlinda diante da patacoada que se vê nas manifestações golpistas.

Os conservadores saíram muito fortes das eleições. Venceram em muitos estados, elegeram numerosas bancadas de senadores e deputados. A votação para presidente da República foi expressiva, em que pese ter sido a primeira vez que alguém no cargo perde a reeleição, sendo que Bolsonaro gastou, manobrou e usou a máquina como a ninguém nunca tinha sido permitido — porque, afinal, ele mudou a Constituição para isso: gastar e se reeleger. Só funcionou a primeira parte.

De todo modo, há uma grande parcela da população que apoia este campo político. Quem foi às ruas nos últimos dias foi uma fatia pequena e desequilibrada. Aos representantes eleitos desse lado do espectro ideológico, caberá escolher qual papel terão na política brasileira nos próximos anos — e o lugar que buscam na história.

Como os representantes se portarão

O voto popular colocou a direita na condição de uma poderosa oposição, com força para impedir iniciativas do governo Lula que considere equivocadas. Resta saber se os eleitos irão cumprir o papel democrático na institucionalidade brasileira ou irão se abraçar ao golpismo tresloucado das ruas.

É muito importante que esteja documentado o que tem ocorrido nos últimos dias. Que fique registrado quem são os golpistas, aqueles que não respeitam a democracia, que não aceitam a vontade popular. A eles, o esgoto da história. Não venham com lorota de defensores da liberdade quando se colocam ao lado de movimentos fascistóides. As manifestações ajudam a não deixar dúvida sobre quem é quem na direita brasileira e de que lado estão.

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