Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP
Lula pegou carona em jatinho de empresário ao Egito
É atribuída ao diplomata francês Talleyrand, ao se referir à volta da dinastia dos Bourbons ao poder na França após a Revolução Francesa: “Não aprenderam nada nem esqueceram nada”. É cedo para dizer o que o PT aprendeu — ou esqueceu — nos seis anos fora do poder. Dá para perceber, porém, o que não esqueceu.
Dos piores erros cometidos por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi a relação próxima demais com empresários. As condenações foram todas anuladas e ele é juridicamente inocente. Porém, tenha ou não sido cruzado o limiar da corrupção, cabeças coroadas do PT estabeleceu relações com grandes empreiteiras, como Odebrecht, OAS e outras mais, bem além do desejável. Viajar de carona com empresário na primeira missão internacional após a vitória eleitoral é um erro tão grande quanto fácil de evitar.
Não que seja caso único. Em 2011, o hoje senador Cid Gomes, então governador, foi de férias aos Estados Unidos em jatinho do empresário Alexandre Grendene,que tem fábricas no Ceará, a maior em Sobral. Na França, antes de tomar posse como presidente, Nicolas Sarkozy se viu envolvido em um escândalo, em 2007, por tirar férias no iate de um empresário.
Relações entre público e privado são importantes e delicadas. Não devem estar muito longe, nem muito perto um do outro.
As crianças vítimas da ditadura
Uma das expressões mais horripilantes da ditadura militar brasileira é a perseguição a crianças e adolescentes. Presenciaram atos de violência dentro das próprias casas, viram os pais serem baleados, alguns cresceram dentro de prisões. Foram monitorados e perseguidos. Alguns até sequestrados.
Em um dos episódios mais tenebrosos daqueles tempos, 93 crianças e adolescentes que eram acusados de pequenos delitos foram retiradas de instituições paulistas e, em 19 de outubro de 1974, levadas ao município mineiro de Camanducaia, na divisa com São Paulo. Eles foram despidos, espancados e arremessados de um despenhadeiro. Na manhã seguinte, 41 deles foram encontrados pedindo socorro, nus, feridos e esfomeados. Outros 52 nunca foram achados.
Os traumas desses horrores atravessam vidas. Em 16 de fevereiro de 2013, Carlos Alexandre Azevedo morreu em uma overdose de medicamentos. Em 14 de janeiro de 1974, com um ano e oito meses de vida, foi mantido e alvo de agressões no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), sob as ordens do delegado Sérgio Paranhos Fleury. A mãe e o pai dele estavam presos no mesmo local. Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o jornalista e cientista político Dermi Azevedo, pai de Carlos, narrou: "Nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de 1964-1985, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia."
O advogado Hélio Leitão, ex-presidente da OAB no Ceará e conselheiro federal da Ordem, lança nesta quinta-feira, 17, livro que aborda o assunto na perspectiva jurídica e as possibilidade de reparação. Resultado da tese de doutorado de Leitão, o livro Crianças e adolescentes vítimas da ditadura — Reparação dos danos à luz dos precedentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos mostra que essas vítimas da ditadura ficaram praticamente à margem das políticas de reparação. Resultado, conforme demonstra, de uma transição democrática incompleta até hoje.
O livro é particularmente oportuno numa época em que há pessoas acampadas na frente dos quartéis pedindo um novo golpe militar, sob governo ainda de um presidente da República que defende a ditadura e torturadores.
O lançamento será nesta quinta, às 19 horas, no auditório da OAB-CE, avenida Washington Soares, 800, Guararapes. Está prevista a presença de José Eduardo Cardozo (PT), que foi ministro da Justiça (2011-2016) e advogado-geral da União (2016) nos governos de Dilma Rousseff (PT).
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