Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrava o que pensava dos indígenas antes mesmo de cogitar concorrer a presidente. Quando se lançou candidato, reforçou os planos. Afirmou que não demarcaria nenhuma terra indígena. Assim foi. No ano passado, ele comemorava: “No meu governo, nenhuma terra indígena foi demarcada”. O sujeito se orgulha da própria infâmia.
A mortandade de que são vítimas os Yanomami é uma tragédia de longa data alertada. É produto, sim, de um governo que foi além do descaso contra os indígenas. Havia um projeto deliberado de retirar direitos, espaços e oportunidades. Era declarado o objetivo de alterar o modo de vida para deixar o mais próximo possível do modo de vida dos não indígenas. Isso é ainda mais cruel e violento quão maior é o isolamento deles.
Porém, não se tratou apenas disso. Houve também quem lucrou. O Ministério Público vinha denunciando desvios na compra de medicamentos — aproximadamente um terço do que era comprado chegava.
Vale lembrar o discurso de Bolsonaro, deputado, em 1998: “Realmente, a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país”. O então parlamentar até acrescentava que não pregava fazerem a mesma coisa com o indígena brasileiro — a dizimação pelas armas. Pedia a demarcação de terras indígenas menores.
No governo, não demarcou um palmo. E foi promovida a dizimação pelo abandono.
Argumenta Carmelo: “Vamos retirar aquele que golpeou a democracia (Vargas) para dar lugar ao maior jogador de todos os tempos, que brilhou ao jogar no estádio em 1972. Eterno Pelé!"
Toda homenagem a Pelé é justa. O que não gosto é de mexer naquilo que já é referência para a população. É para isso, antes de tudo, que servem os nomes de espaços públicos, acima de homenagear quem quer que seja. Parlamentares não costumam ligar muito para isso.
Mas, o argumento de Carmelo é bom. Ao apontar que Vargas “golpeou a democracia” — governou como ditador — ele delimita um parâmetro que acho que seria positivo a Câmara de Fortaleza adotar.
Vargas é lembrado pelas leis trabalhistas, pela criação da Petrobras, pela configuração do Estado brasileiro no século XX. A despeito do destaque histórico, comandou uma ditadura brutal, que torturou, perseguiu, oprimiu, matou.
A Câmara poderia, sim, adotar esse critério. Não só Vargas, mas retirar o nome de ditadores de avenidas, escolas e outros espaços públicos. Há vários espaços públicos com nome de Costa e Silva, Castelo Branco, até do Médici.
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