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O Estado usado em contrabando de joias
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O Estado usado em contrabando de joias

Não bastasse a tentativa de entrar ilegalmente com joias no Brasil, Bolsonaro ainda usou a estrutura do governo para liberar os produtos
Jair Bolsonaro, ex-presidente  (Foto: Evaristo Sá / AFP)
Foto: Evaristo Sá / AFP Jair Bolsonaro, ex-presidente

A história da tentativa de entrada no Brasil de joias dadas de presente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e à ex-primeira-dama Michelle é tão constrangedora quanto grave. O assessor de um ministro tentou entrar sem declarar bens de valores milionários. Vá lá que seja verdade que ele não sabia do que se tratava. Uma vez descoberto, a Receita Federal orientou como a situação poderia ser regularizada para que os itens passassem a compor o acervo da Presidência da República. Não houve tentativa de regularizar. Do contrário, foram várias e várias tentativas de liberar as joias por canais oficiosos.

Esse é um aspecto grave, além da tentativa de entrada ilegal das joias no Brasil. A estrutura do governo brasileiro foi usada para fazer pressão e tentar liberar ilegalmente itens apreendidos. Um vexame. O Estado brasileiro envolvido em contrabando de joias. Uma situação que precisa ter as responsabilidades identificadas e punição para os envolvidos, sobretudo aqueles em posições mais altas.

A última tentativa de liberação das joias ocorreu em 29 de dezembro de 2022. No apagar das luzes do mandato de Bolsonaro, um dia antes de o ex-presidente embarcar em avião oficial e ir para os Estados Unidos.

O que há de bom

De toda essa história escabrosa, de positiva a postura do auditor-fiscal da Receita Federal. Depois da pressão recorrente do próprio gabinete presidencial e de um punhado de ministérios, chega a surpreender positivamente que a liberação não tenha sido feita. É positivo constatar que uma instituição de Estado funcionou bem a ponto de não sucumbir à pressão do próprio presidente da República à época.

Juscelino tem sido para Lula o pior dos mundos

Situação constrangedora do governo que mal terminou, e não menos no governo que mal começou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), que, por enquanto, segue no cargo, enquanto surgem acusações diárias contra ele.

No caso mais tosco, o ministro é confesso. Viajou em avião da Força Aérea para cumprir agenda particular, inclusive um leilão de cavalos. Achou pouco e recebeu diária do governo. Descoberto, ele anunciou que devolveria o dinheiro das diárias.

Esse é só um dos casos. Como deputado federal, o hoje ministro destinou R$ 5 milhões para asfaltar estrada que passa em frente a fazenda dele, onde tem pista de pouso privada, em Vitorino Freire (MA), onde a irmã dele, Luanna Rezende (União Brasil) é prefeita. A empresa que fez a obra é investigada pela Polícia Federal, suspeita de pagar propina a servidores públicos. O servidor da Codevasf que autorizou o asfaltamento é indicado pelo grupo de Juscelino e está afastado por suspeita de receber propina. Além disso, o ministro apresentou dados falsos na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não é uma beleza?

A indicação de Juscelino é um bem acabado retrato da velha política. Entrega de cargo em troca de votos. No caso, porém, o governo entrega o cargo, mas não recebe os votos. O União Brasil, mesmo com três ministros, não tem entregado o que se espera em termos de apoio. O pior dos mundos para um governo, que mantém o ministro no cargo.

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