Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Ciro Gomes (PDT) está recluso, mas isso deve mudar em breve. Desde o começo do ano, aparições dele nas redes sociais ocorreram para se manifestar sobre: aniversários, mortes, a posse da irmão, Lia Gomes (PDT), como deputada estadual e para criticar o 8 de janeiro. Ele tem por tese esperar 100 dias antes de falar de um governo que se inicia. Com Jair Bolsonaro (PL), defendia isso, mas quebrou o silêncio antes para apontar o início preocupante do mandato do ex-presidente. Sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele prepara um balanço, que não deverá ser positivo. O cenário mudou para o pedetista. Mais que saber o que ele pensa do governo, a interrogação é saber qual caminho ele irá tomar.
Em 2022, Ciro sofreu a pior derrota eleitoral da carreira, de muito longe. Foi ruim no Brasil e pior no Ceará. Foi arrasador. Deu tudo muito errado, em todos os aspectos. Por isso, ele retorna como alguém menor e menos relevante do que era e do que foi em qualquer momento dos últimos 30 anos. Ele continua um ator importante no jogo nacional. Porém, está muito mais distante de ser uma alternativa de poder do que já foi. Logo após a posse de Bolsonaro, Ciro dizia: “O PT já foi”. Hoje o partido está de volta ao poder, com Lula, e o PDT está dentro do governo, representado pelo presidente da sigla, Carlos Lupi.
Ninguém espera que Ciro elogie Lula. Ele é um crítico e opositor. Mas, qual tom da oposição dará, sendo filiado a um partido governista. Houve especulações sobre uma eventual ida ao PSDB, mas no grupo Ferreira Gomes e no partido não se aposta na tese. Não se vislumbra o que Ciro ou o PSDB poderiam acrescentar um ao outro. O que pode tornar o convívio incômodo é a posição sobre o governo.
Veremos se Ciro será capaz de dizer algo de novo, se irá surpreender. Nos últimos anos, ele apresentou um discurso consistente, disse com clareza o que pensava. Era tão consistente que repetiu a mesma coisa seguidamente. O eleitor ouviu, entendeu, mas não comprou a ideia. Ele trará conteúdo diferente? Antes e depois da eleição, ele falava que não pretendia mais ser candidato, embora admitisse que essas coisas podem mudar conforme a conjuntura. Será a manifestação nos 100 dias de governo Lula o palpite de um aposentado ou parte da estratégia de um político em busca de se colocar no jogo e dar a volta por cima?
Impacto no Ceará
O que haverá talvez de mais impactante no retorno será quando se posicionar na política no Ceará. Se no Brasil ele teve uma queda, no Estado ela foi muito maior. Porém, ainda tem seu nível de relevância. O PDT está uma bagunça e duvido muito que Ciro ajude a diminuir a confusão. Tende a aumentar. De qualquer forma, sacudirá o partido.
Aliás, na provável crítica ao governo Lula, fico curioso sobre o que dirá sobre a educação. Sobre o ex-aliado e recente desafeto Camilo Santana (PT), a quem acusou de ter “desertado” do grupo no Ceará por “um carguinho de ministro”. Camilo ganhou mesmo um ministério. O PDT ganhou outro.
Ministro da Educação na Câmara
Aliás, o ministro da Educação é convidado para audiência na próxima quarta-feira, 12, na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Intenção é falar sobre o fim da diretoria responsável pelas escolas cívico-militares, projeto do governo Bolsonaro. Camilo esteve na Casa um mês atrás, para se reunir com líderes de partidos. Um ministro da Educação cearense na Câmara sempre remete à apoteótica ida de Cid Gomes em 2015, no terceiro mês no cargo, quando travou embate com Eduardo Cunha, do qual saiu para entregar o cargo à então presidente Dilma Rousseff (PT). Camilo não deve ter passagem tão emocionante assim, mas deve ter lá sua animação. A oposição bolsonarista gosta do tema educação, pelos motivos errados e sem tocar no tema aprendizagem.
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