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Por que as escolas viraram alvo?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Por que as escolas viraram alvo?

Lugares de formação e aprendizado tornam-se vítima do ódio e propagam medo
Tipo Opinião
Creche onde agressor matou quatro crianças em Blumenau (Foto: Anderson Coelho/AFP)
Foto: Anderson Coelho/AFP Creche onde agressor matou quatro crianças em Blumenau

Episódios de violência pelo Brasil e agora no Interior do Ceará atingem onde a sociedade é mais vulnerável: crianças, longe dos pais. Os feridos e mortos nos ataques são vítimas, mas também os outros estudantes, os pais, a sociedade. As escolas, local de formação, desenvolvimento, inclusive de alimentação para muitas crianças, é uma vítima profunda dessa violência. O medo é um sentimento capaz de mexer com o inconsciente. Pode, assim, despertar reações irracionais, como ideias que surgem neste momento de crise. Por que as escolas e creches viraram alvo de violência? Essa é uma pergunta que talvez anteceda saber o que fazer. A resposta pode ser perturbadora, mas precisa ser enfrentada.

A solução fácil de grupos ideológicos pró-armamentistas é colocar seguranças com armas de fogo. O falecido senador Major Olímpio defendia logo armar professores. Há um campo político que não tem outra forma de enfrentar o problema. Era a síntese do ex-governo Jair Bolsonaro (PL). Problema na saúde? Escala um general. Problema na educação? Coloca um militar. Casa Civil? Coloca militar. Minas e Energia? Militar. Receita única e invariavelmente fracassada.

Na audiência ontem na Câmara dos Deputados, alguns deputados bolsonaristas usaram como argumento para colocar seguranças armados nas escolas o fato de o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), ter seguranças armados. Entendo as razões pelas quais uma pessoa pública pode estar exposta a riscos. Assim como sei o motivo para bancos, por exemplo, serem alvos de criminosos. Mas, repito, por que escolas são alvo? Não é para roubar. Por que crianças são vítimas? Não há proveito a extrair. Nem há indícios de um simbolismo ideológico ou uma mensagem, mesmo deturpada, como no terrorismo político.

Um dos aspectos mais assustadores dos ataques é o completo despropósito, a absoluta ausência de ganho a extrair, a inexistência de uma motivação, absurda que seja. Ações de inteligência rastreiam potenciais interessados em cometer crimes. Como combater aquilo que pode vir de qualquer lugar, de qualquer um e que não tem lógica? O motor parece ser o puro ódio.

É preciso ação emergencial, mas resolver de fato o problema talvez exija quebrar a cadeia de ódio. Não sei se, como sociedade, dispomos de ferramentas hoje para tal tarefa.

O debate sobre educação

A audiência com o ministro Camilo Santana na Comissão de Educação da Câmara foi de muito melhor nível que o espetáculo visto na véspera, com Flávio Dino (Justiça), na Comissão de Segurança Pública. Digno de nota a falta de qualquer intimidade da oposição bolsonarista com o debate de aprendizado. Enquanto há temas da ordem do dia como Novo Ensino Médio e perspectivas do Enem, os temas abordados pelos opositores se focaram nos ataques às escolas, no uso de armas de fogo por seguranças das escolas como resposta, além das escolas cívico-militares. A questão da segurança é um tema urgente e crucial, as escolas cívico-militares eram o motivo da convocação da audiência. Mas, educação não se restringe a isso. O vazio da oposição sobre aprendizagem assusta.

O deputado Delegado Éder Mauro (PL-PA) defendeu como ações educacionais coisas do tempo dele de estudante, quando rezava o Pai Nosso em sala de aula, cantava o hino e se hasteava a bandeira. “Coisa que vocês comunistas tiraram, simplesmente, das escolas do país". Camilo contra-argumentou que, quando o deputado estava na escola, o analfabetismo era de 40%. Hoje é de quase 7% — e o ministro reconheceu que segue muito alto. O deputado não ouviu porque foi embora sem esperar a resposta.

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