Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A sustentação do governo está numa aliança frágil, inconsistente, sem coerência programática, de interesses profundamente fisiológicos e propensos à traição
Foto: SERGIO LIMA/AFP
Apoiadores de Bolsonaro atacaram prédios do três poderes no dia 8 de janeiro. Ao fundo, o Senado
O governo Lula (PT) joga pesado para controlar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Uma CPMI nas mãos oposicionistas pode ter consequências imprevisíveis para um governo ainda no início. Vale destacar, o requerimento foi articulado pelo deputado federal cearense André Fernandes (PL), que é investigado. Ele já pedia o impeachment de Lula dois meses antes da posse do presidente. Se o governo descuidar, a CPMI dos atos golpistas se tornará instrumento do mesmo golpismo que pretende supostamente investigar.
O problema para o Planalto é que a base aliada ainda não foi testada. A primeira prova já será decisiva. A sustentação do governo está numa aliança frágil, inconsistente, sem coerência programática, de interesses profundamente fisiológicos e com forte propensão à traição.
O controle da CPMI dependerá do blocão comandado por Arthur Lira (Progressistas-AL). Ele está na posição em que mais gosta: o governo precisa dele. O preço, político, será alto.
Governo errou, e errou muito
Corrigiu-se um erro que eu já apontava aqui na semana passada e foram tornadas públicas as imagens do Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Nada ali oferece fundamento à tese oposicionista de que o ataque golpista foi uma armação do governismo. Porém, evidenciam-se muitos erros do governo, sim. Fica claro que não houve preparativos adequados. Houve posturas estranhas de membros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Falhas graves e aparentes omissões. Tudo isso precisa ser averiguado. O problema é imaginar que o 8 de janeiro começou e terminou aí. Os atores principais do espetáculo tragicômico seguem sendo os golpistas. O governo foi o alvo. O que não significa que fez tudo certo. Passou foi longe.
Chico Buarque e a autoestima da burrice
Parte muito significativa da produção artística ao longo da história é de natureza conservadora, mas o atual conservadorismo brasileiro é obscurantista, negacionista, anticiência e contra a cultura. Artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque são alvos. O que é do jogo quando se envereda pelo debate político — desde que dentro do limite da civilidade. Mas, não fica na questão política. Muita gente passou a discutir a qualidade da obra deles. Bem, gosto é daquelas coisas que cada um tem o seu.
Ninguém é obrigado a gostar de nada. Mas, há pessoas que apreciavam o trabalho de Caetano e Chico, para se ater a ambos, e passou a criticar por motivos políticos. Francamente, é muita autoestima. Pode-se até não gostar, mas não dá para negar a relevância das obras. A autoestima que vejo é o sujeito acreditar que, ao dizer que Caetano não tem talento, quem sai menir é o músico. Convenhamos, só depõe contra quem diz tal coisa.
Há gigantes da arte que são de esquerda, como os dois citados. Em outras linguagens e mundo afora, há os exemplos de Pablo Picasso, Oscar Wilde, Pablo Neruda, Graciliano Ramos e John Ford. No campo conservador, Nelson Rodrigues é o gênio maior do teatro brasileiro, brilhante também na crônica e nos contos. Jorge Luis Borges é outro monstro sagrado de direita. Negar isso não diminui em nada nenhum deles, apenas levanta questões sobre o senso estético e o conhecimento do crítico.
O preâmbulo é para falar da demora no Prêmio Camões a Chico Buarque. Foi concedido a ele em 2019 e só entregue ontem. Entre os obstáculos estava a recusa do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em assinar a documentação. Trata-se da comenda mais relevante da língua portuguesa. Chico e o Camões são muito grandes para ficarem envolvidos com coisa tão pequena.
A Bolsonaro restou o deboche “O ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio Camões, deixando espaço para a assinatura do nosso presidente Lula”.
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