A movimentação sobre o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT), sair candidato a prefeito de Fortaleza é tão intensa quanto atípica. A articulação, pelo menos desde a semana passada, saiu da surdina. Há vozes e rostos públicos em favor da tese. Nesta quinta-feira, 4, o próprio deputado afirmou ter disposição para a disputa. Falta um ano e cinco meses para a eleição. Não é comum movimento tão explícito a essa altura. Mais incomum ainda quando se trata de parlamentar filiado a partido que tem o atual prefeito — José Sarto (PDT) — que já disse pretender ser candidato à reeleição.

Mais inusitado ainda é o fato de o deputado estadual Júlio César Filho (PT) falar em articulação que envolveria até 2026, com a composição da chapa para o Senado. Julinho defende o deputado federal José Guimarães (PT) para uma das duas vagas. Para a outra, o grupo governista apoiaria a reeleição de Cid Gomes (PDT).

Nada disso se resolve agora, principalmente sobre 2026. Porém, para 2024, quem chegar sem ter as bases montadas não terá espaço. Não é estranho Evandro se articular, surpreendente é a antecipação de uma ação pública.

Reações

As ações em favor de Evandro provocam algumas reações, sobretudo em PT e PDT. Nos dois partidos, há aqueles que articulam em favor do presidente da Assembleia. No PT, além dos apoiadores da tese de filiação do presidente da Assembleia, há os que observam, aparentemente sem entender bem o que se passa. E que aparentam não gostar muito da ideia de o deputado chegar de fora para ser candidato pelo PT.
Na ala pedetista próxima a Sarto, há quem ache o movimento tão antecipado que pode ser o que se chama “balão de ensaio”. Lançar o nome para testar reações e o cenário. A hipótese é reforçada pela regra de fidelidade partidária. A janela eleitoral do ano que vem vale apenas para os mandatos que estão no fim — no caso, vereadores. O que não sei é se um nome do tamanho do presidente da Assembleia se prestaria a ser balão de ensaio.

Fatores para a antecipação

Antecipar movimentos não é o estilo do senador Cid Gomes (PDT), que alicerçou o atual grupo governista no Ceará, tampouco o do sucessor, Camilo Santana (PT). Eles dão o norte das estratégias do poder no Ceará. O jogo costuma ser de jogar com o tempo e adiar decisões até o limite dos prazos. Ao menos foi assim sempre que eles se apresentaram como situação. Por que a mudança?

Uma hipótese é o que falei acima: o plano não ser, de fato, lançar Evandro candidato. Outro aspecto é o fato de, em Fortaleza, o PT e o grupo do governador Elmano de Freitas (PT) serem oposição. Como governo, eles gostam de esperar o que a oposição fará. Mas, a posição em que estão é esta última. Além do mais, o atual prefeito, Sarto, coloca-se à reeleição.

E há o fato de o PT pretender ter candidato e se falar na filiação de Evandro ao PT. Pela força do partido e pelas características de organização e militância, é improvável que seja bem aceito alguém cair de paraquedas e sair candidato. É algo que precisaria ser construído e conversado.