Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Fabio Lima
Foto de 2016, quando Camilo decidiu não colocar mais dinheiro público na obra
O deputado André Figueiredo (PDT) disse que não se referia ao senador Cid Gomes (PDT) quando criticou obras paradas do Governo do Estado em Fortaleza — explicitamente com alusão ao aquário e à Linha Leste do metrô. “Impressionante a obsessão em fazer uma intriga minha com o senador Cid Gomes”. Bem, a carapuça me serve. Não porque eu queira fazer intriga, longe de mim. Mas, porque associei mesmo. Figueiredo lembrou, com razão, que Cid saiu do governo há nove anos e os sucessores nada fizeram em relação a essas obras que ele deixou. Verdade, sobretudo em relação ao hoje ministro Camilo Santana (PT), que ficou por mais de sete desses nove anos. Porém, vale lembrar que o aquário, anunciado em 2008 e iniciado em 2012, tinha previsão de inauguração ainda no governo Cid. Estava até no pacote para a Copa de 2014 (já se passaram duas copas depois). A Linha Leste tinha previsão de ter pelo menos um trecho funcionando em 2014. Adivinha? Também era obra para a Copa.
Então, é fato que os sucessores de Cid não concluíram. Mas, só ficou pendente porque o hoje senador não conseguiu finalizá-las, como se projetava. Também há de se considerar, no caso do aquário, que Camilo não levou adiante porque tomou a decisão de não colocar mais dinheiro público — o que, depois das centenas de milhões aplicadas, considero um acerto.
Seja como for, duvido que Cid tenha ficado confortável com a imagem do esqueleto do aquário exposta em redes sociais pelo correligionário — com quem sinaliza disputar o comando do PDT cearense.
Reações a André
Aliados do bloco governista cearense, mesmo no PDT, demonstraram incômodo com a fala de Figueiredo. Apontam que ele não reclamava antes do rompimento da aliança com o PT. É fato. Mas, a crítica precisa ser mesmo sob a ótica política. Do ponto de vista do interesse público, é inegável que o deputado federal tem razão: Aquelas obras paradas em lugares de referência de Fortaleza são um absurdo, um problemão, e o Governo do Estado precisa dar jeito, até para reduzir o prejuízo, que já é grande.
Ives Gandra e a fundamentação do golpe
Há anos as teses heterodoxas do jurista Ives Gandra da Silva Martins servem para os que afirmam que as Forças Armadas poderiam dar um golpe quando acharem que o Brasil precisa ser salvo. As mensagens encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), mostram que, para além dos desvarios de rede social, as concepções fundamentaram um plano real de subversão da ordem democrática. Questionado, Ives Gandra tirou o corpo fora: “Se outros interpretaram incorretamente o que eu disse e escrevi, o que eu posso fazer?”
Ora, poderia vir a público e repudiar tais interpretações, rejeitar leituras golpistas do trabalho dele, que são muitas, antigas e públicas. Como Bolsonaro em relação ao 8 de janeiro, Gandra poderia ter colocado um ponto final no assunto, mas decidiu não fazê-lo. Ao contrário, ele sustenta a leitura de que as Forças Armadas são instância com prerrogativa de fazer análise do cenário político e jurídico e decidir quando devem intervir na ordem democrática. Com base nesse pensamento, foi achado um “roteiro” de golpe que dava aos militares o papel de avaliar a inconstitucionalidade de uma série de medidas tomadas em relação às eleições. Sim, as Forças Armadas teriam papel de avaliar suposta inconstitucionalidade. Que bela ideia de jerico.
O filósofo Friedrich Nietzsche foi o caso de quem teve as ideias deturpadas e, de forma incorreta, apropriadas por grupo autoritário — no caso, o nazismo. A favor de Nietzsche há o fato de ele estar morto havia três décadas quando o nazismo ascendeu. Gandra está vivo e pode demarcar distância em relação aos golpistas. Não o faz e o que dizem é bastante parecido.
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