Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ao Estado de S.Paulo tem princípios equivocados, mas compreensíveis do ponto de vista da posição de defesa de privilégio. Tem barganha para manter espaço — e contra quem busca reduzir a desigualdade. Dá para entender por que ele defende isso, por mais que se discorde. Porém, tem também um completo e absoluto despautério.
“Além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, disse o governador.
Zema não é um sujeito lá de muita cultura. Outro dia, perguntou se Adélia Prado, um dos grandes nomes da literatura mineira, era funcionária da rádio em Divinópolis na qual ele dava entrevista. Daí a dizer que estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul nunca tiveram protagonismo político… Não, quem tem protagonismo deve ser o Ceará, o Piauí, o Acre. O desconhecimento é embaraçoso.
Zeca Pagodinho canta: “Na vida, a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia”. Pois, sabe qual estado teve mais presidentes da República? Minas Gerais, com folga: 9. Depois vêm São Paulo e Rio Grande do Sul, cada um com 6. E o Rio de Janeiro com 5. Os pobres dos estados que nunca tiveram protagonismo político. Quer mais o quê?
Desde a redemocratização, o Brasil foi governado por dois paulistas, dois mineiros, dois fluminenses, um pernambucano e um maranhense que exerceu o mandato porque o eleito, mineiro, morreu. Estou falando de José Sarney e Tancredo Neves. Verdade que um dos nascidos no Rio de Janeiro — Fernando Collor — tem história e família vinculadas a Alagoas. Assim como o pernambucano, Lula, tem trajetória construída em São Paulo.
Na equipe ministerial de Lula, eleito com vantagem consideravelmente maior no Nordeste, 16 integrantes do primeiro escalão são sudestinos e 14, nordestinos.
Se recuarmos um século, o Brasil atravessava o que ficou conhecido como “República do Café com Leite”, um pacto entre oligarquias pelo qual São Paulo e Minas Gerais se alternavam para definir quem governaria o Brasil a partir do Rio de Janeiro. O esquema foi rompido em 1930, com a tomada do poder pelo gaúcho Getúlio Vargas. Zema deve ser saudoso dessa época — caso saiba do que se trata.
As vacas leiteiras do governador
A fala de Zema pode ser sintetizada em uma frase: “É preciso tratar a todos da mesma forma”. Trata-se de um princípio para o Novo, que é contra políticas para a superação de desigualdades. Essa é um debate conceitual e de fundo. Norte e Nordeste são as regiões mais pobres do Brasil e cobram mais investimentos para superar essa situação. Zema acha que Sul e Sudeste devem ter melhor tratamento justamente pelo peso econômico. Dar mais aos mais ricos.
“Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”.
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