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O que é do jogo e o que não é
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O que é do jogo e o que não é

Trocar ministros e acomodar interesses é do jogo político, mas Ana Moser não foi tratada com o respeito que merece alguém que emprestou nome com o peso dela ao governo
Tipo Opinião
 Presidente Lula ao empossar Ana 
Moser como ministra dos Esportes, em janeiro (Foto: RICARDO STUCKERT/PR)
Foto: RICARDO STUCKERT/PR  Presidente Lula ao empossar Ana Moser como ministra dos Esportes, em janeiro

Ministro ser nomeado ou cair é do jogo da política, principalmente da maneira como é feito no Brasil. É do manual de governo nunca nomear alguém grande demais que não se possa demitir. O presidente Lula (PT) teve de entregar o Ministério dos Esportes a André Fufuca (PP-MA) para agradar ao centrão em geral e a Arthur Lira (PP-AL) em particular. É do jogo. Ana Moser foi a cabeça a rolar. Faz parte. Mas, é uma medida infeliz, uma sinalização ruim e um modo inadequado.

Há alguns poucos ministros no governo maiores que o cargo que ocupam. Para além da política, têm peso social no meio que ocupam. Fora do meio político, Ana Moser talvez fosse a personalidade de mais peso e fama na equipe de Lula. Disputava o posto com a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Outros ministros têm relevância e motivo para estarem nos cargos além dos aspectos partidários e das relações no meio do poder. Silvio Almeida (Direitos Humanos) é um desses casos. A própria Nísia Trindade, pelo trabalho na Fiocruz e o peso da instituição. Embora com uma vida partidária intensa, Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) também têm representatividade além dos partidos que representam — Rede e Psol, respectivamente.

Quando tais pessoas aceitam emprestar reputação e vivência a serviço do poder público — e de um governo em particular — merecem a deferência de não estar na mesma cumbuca das futricas partidárias.

Ana Moser é medalhista olímpica, atleta de renome internacional. Ministérios servem também para acomodações políticas, mas principalmente devem satisfação à sociedade. Francamente, não é justificável, do ponto de vista do interesse público, demitir uma para colocar outro. A sinalização é muito ruim.

Se foram tentadas todas as possibilidades e não havia alternativa, no mínimo a demissão deveria ter sido de forma mais respeitosa. A nota do governo ao anunciar as mudanças de equipe não teve a decência de citar o nome de Ana Moser. Não se deu o trabalho de agradecer.

Certo, ainda se busca uma forma de acomodá-la em alguma função. Movimento que, se não for bem feito, pode se tornar um vexame e deixá-la ainda mais exposta. De todo modo, quando foi anunciado que haveria um novo ministro, alguma satisfação sobre ela teria de ser dada, algum gesto. Não é como quem muda uma estante de lugar. Faltaram muitas coisas e respeito foi a principal.

Resultado prático

Talvez a troca partidária fosse inevitável. Mesmo assim, talvez não surta os efeitos esperados. O Republicanos, partido beneficiado com outro dos ministérios na atual reforma, informou que a ida de Silvio Costa Filho para os Portos e Aeroportos é pessoal e não significa que a legenda se tornou governo.

É uma desfaçatez. As negociações se arrastam há meses e o partido poderia ter vindo a público antes. Se posicionou com o anúncio da indicação já consumado. O ministério não está sendo entregue por causa da competência de Costa, mas é uma moeda de troca por apoio. Muita gente do Republicanos já vota com o governo.

Porém, uma parte vota contra e assim seguirá. Com o atual perfil do Congresso, o conchavo de cargos não é mais garantia e não assegura estabilidade. O governo Lula segue montando base com método atrasado e cada vez menos eficaz.

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