Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Na tarde da terça-feira, um interessante encontro ocorreu no Ministério da Educação. Lá estavam o reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Custódio Almeida, o ministro Camilo Santana (PT), o cardiologista Carlos Roberto Martins Rodrigues, o Dr. Cabeto, e o presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Arthur Chioro.
A pauta foi um ousado projeto iniciado por Cabeto: um novo hospital universitário no Porangabuçu, que futuramente possa se tornar um distrito de saúde. O sonho de Cabeto vai bem além de uma unidade hospitalar. Ele vislumbra um distrito de educação em saúde, que possa ser vetor também de pesquisa e, assim, indutor de desenvolvimento econômico e urbano na região, o belo entorno da Lagoa do Porangabuçu. Parte do princípio de usar o conhecimento para transformar a economia e a cidade, num local central, mas socialmente repleto de vulnerabilidades em Fortaleza. O hospital seria de alta complexidade.
A ideia ambiciosa também aposta na vocação para o setor de serviços em Fortaleza, numa perspectiva da ciência de ponta, com baixo impacto ambiental e alto potencial econômico. Numa cidade de história mercantil, custa-se a crer que se produza riqueza significativa que não seja pela via do comércio ou da indústria. Mas, trata-se de enorme possibilidade para Fortaleza.
Em 2021, no meio da pandemia, Cabeto doou o terreno e as obras do hospital, em curso, para a UFC. Mas, o custo estimado para a conclusão seria na época de R$ 300 milhões, segundo o então reitor, Cândido Albuquerque. Busca-se agora uma solução.
Em meio a todo esse relevante debate, uma interessante questão política: o reencontro de Camilo Santana e Cabeto. Quando governador e secretário da Saúde, respectivamente, eles dividiram aguardadas lives semanais com as principais decisões tomadas no combate à pandemia de Covid-19.
Naquele ano de 2021, quando a pandemia parecia controlada, Cabeto deixou a secretária, sem muitas explicações. Nos meses seguintes, fez duras críticas ao governo Camilo na condução da área. Questionou a influência política de prefeitos sobre os consórcios de saúde e criticou a mudança de rumo da Fundação Regional de Saúde do Ceará (Funsaude).
Em 2022, Cabeto foi lançado candidato a suplente de senador na chapa de Amarílio Macedo (PSDB), na aliança com Roberto Cláudio (PDT). E contra o mesmo Camilo Santana que reencontrou terça.
Saldo nas relações
Espero, todavia, que os desencontros políticos não afetem o encaminhamento de assunto tão relevante. A possibilidade de um novo hospital universitário e, mais que isso, um distrito de saúde interessam à população. Estarem esses atores à mesa é saudável.
Até porque, independentemente dos desencontros recentes, o saldo da parceria de Camilo e Cabeto é positivo. O ex-governador teve como primeiro secretário da Saúde Carlile Lavor, nome histórico da área no Brasil e em outras partes do mundo, como na África. Mas não resistiu às críticas, sobretudo do Sindicato dos Médicos, à época comandado por Mayra Pinheiro. Entrou no lugar Henrique Javi, um discreto administrador. Cabeto na época fez um diagnóstico interno da secretaria, até aceitar assumi-la, no segundo governo Camilo.
Se, durante a pandemia, o secretário não fosse alguém com a força política, o tamanho entre os médicos e a reputação mesmo entre o empresariado que tem Cabeto, o gestor seria engolido, e o governador iria junto. Se Cabeto, cardiologista dos mais requisitados na alta sociedade cearense, foi bombardeado, o que dizer de alguém sem as mesmas costas largas.
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