Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O ministro Camilo Santana e o governador Elmano de Freitas fizeram manifestações de simpatia pela filiação do senador Cid Gomes (PDT) ao PT. O próprio presidente Lula pediu que o convite fosse feito, disse Camilo. Lula não “está preso, babaca”, como disse Cid cinco anos atrás. Ele está no Palácio do Planalto, longe do Ceará. Por aqui, a hipótese de filiação do senador — com um séquito de prefeitos, deputados e vereadores — caiu como uma bomba entre petistas, principalmente a militância mais tradicional e mais… petista. A filiação não é impossível, mas não sei se é provável. Certamente não é simples.
Equação complicada
A Lula, certamente a filiação do grupo seria interessante. O PT ganharia um senador e até quatro deputados federais. Nesse cálculo, o Ceará fica em segundo plano. É peso no Congresso Nacional, mais espaços. São votos que já estão com o governo em praticamente tudo de importante. Mas, serem votos petistas é diferente.
Porém, vários dos prefeitos do PDT são adversários locais do PT. Outros tantos pedetistas que não são prefeitos, mas têm força nos municípios, também estão em lados contrários. É impossível todo esse pessoal se filiar ao PT. O grupo acabaria se fragmentando. Ir todo mundo para o mesmo lugar não é fácil, mas para algumas siglas é mais difícil. O PT está entre elas.
A composição com deputados também é complicada, mas seria problema mais para frente.
Tamanho do prejuízo para o PDT
A saída de prefeitos e deputados do PDT, com a debandada dos cidistas, é um prejuízo quantificado na cúpula. O maior problema é a perda de deputados federais. São eles o critério para definir quanto dinheiro o partido recebe e qual o tempo de rádio e televisão, o que define o cacife da legenda nas negociações.
Mas, embora tenham recebido uma controversa e questionada carta de anuência, eles não parecem dispostos a pagar para ver. Devem esperar uma situação mais clara para mudarem de partido. Eventualmente, até a janela partidária, o que esticaria a agonia pedetista até março de 2026. A situação dos deputados estaduais não é tão diferente, salvo os que querem ser candidatos a prefeito. No caso, Evandro Leitão. O risco de perda de mandato atinge parlamentares. Por isso a debandada começa pelos prefeitos.
André Figueiredo assumiu a linha de frente do confronto. Ele é quem comanda a máquina partidária — hoje, inclusive a federal. Claro que a migração em massa é uma perda para ele, mas não tanto assim. Pior seria ficar sem o controle da legenda onde está desde décadas antes da chegada dos Ferreira Gomes. O PDT é hoje muito maior do que será em breve, mas também já foi menor.
Para Ciro Gomes, o cenário é relativo. Ficou evidente que ele já não comandava o grupo. Ele havia terceirizado a presença na política cearense e por isso minguou. Assim, ele fica sem um grupo que o apoiava, mas já não era comandado por ele há bastante tempo. Ciro pode até reescrever sua história recente no Estado caso se volte para a política cearense, algo que deixou em segundo plano há quase 30 anos.
Quem mais tem a perder com um PDT muito menor é Roberto Cláudio. Ele é quem, no grupo de Ciro, alimenta ambições mais plausíveis. Algo que o partido remanescente talvez não seja capaz de comportar. No fim das contas, muita coisa passa pelo sucesso ou fracasso do prefeito José Sarto em 2024. Se reeleito, o PDT é um. Mas, se perde Fortaleza…
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