Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Luis Robayo/AFP
Javier Milei, presidente eleito
da Argentina, com a irmã, Karina
Que um povo com o nível educacional da Argentina tenha sido capaz de eleger alguém como Javier Milei para presidente é algo que se explica pelo desespero. Um país que atravessa mais de duas décadas de instabilidade política, econômica e social quase sem precedentes. Uma população que viu a moeda ir à bancarrota. Que assistiu ao colapso institucional.
Esgotamento
Milei, Jair Bolsonaro e Donald Trump são modelos replicados, resultado de sentimentos similares, mas circunstâncias parecidas. A da Argentina, a mais extrema. Talvez por isso, ele tenha proposto medidas extremas não ventiladas nem por Bolsonaro nem por Trump.
Viabilizam-se, em grande parte, pelo esgotamento das forças políticas tradicionais, pela saturação dos mesmos de sempre. É de se compreender que quem cansou das mesmas receitas acaba recorrendo ao que se apresenta como novidade, mesmo que não seja. (Bolsonaro se colocava como outsider, em que pese as três décadas de vida pública que ostentava.)
Bolsonaro, no Brasil, está inelegível. Mas o que Milei demonstra é que, mais que personalizado em uma pessoa, o modelo político é um produto replicável, com forte apelo a uma parcela do eleitorado, adequado à arena política da vida digital.
Dose mais forte do remédio que deu errado
A Argentina elegeu um ultraliberal, mas não é como se o país não tivesse experimentado receita nesses moldes nas últimas décadas, embora não em dosagem tão alta quanto a proposta por Milei. Na década de 1990, Carlos Menem foi o maior expoente do liberalismo na América do Sul. Implantou a paridade com o dólar e levou ao País a tempos de bonança. Após se reeleger, o modelo mostrou esgotamento. Terminou o mandato muito desgastado. O agravamento do cenário deixado por ele levou ao colapso do qual o País não saiu até hoje.
Mais recentemente, a Argentina teve outro governo liberal, de Mauricio Macri. Assumiu um país em crise e entregou pior do que recebeu. No meio disso tudo, a Argentina passou pelo kirchnerismo, à esquerda.
O país segue dando voltas entre os dois modelos, apostando alternadamente em receitas que não deram certo antes. Dessa vez, aumenta a dosagem do que fracassou não fá muito tempo.
Discurso antidemocrático
Milei, a la Trump e Bolsonaro, ensaiava discurso de fraude para o caso de não ser eleito. Ganhou com mais folga do que se projetava. Todo mundo lembra da postura do ex-presidente brasileiro, em 2022, mas também em 2018 ele dizia que não aceitaria outro resultado que não a vitória. Autoritarismo puro e simples.A democracia pressupõe que os envolvidos se submetam à vontade popular, para ganhar ou perder. Para além das ideias esdrúxulas, são personagens que fragilizam a democracia.
Arquitetura da insegurança
O governador Elmano de Freitas (PT) entregou nova etapa do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), nas avenidas Borges de Melo com Aguanambi. O equipamento tinha amplos espaços abertos. Me lembrava um pouco até a arquitetura dos prédios públicos do Plano Piloto, em Brasília. Recentemente, porém, colocaram uma cerca. Eu achava bonito, e simbólico, que os equipamentos de segurança, numa região que tem histórico de insegurança, fossem abertos e convidativos à população. Alguém deve ter achado perigoso. Aumentava o custo de vigilância certamente. A mensagem transmitida talvez compensasse. Há inclusive uma brinquedopraça, para que a população frequente. A cerca precisou dar a volta para não ficar inacessível.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.