A Justiça do Ceará terá uma árdua tarefa em uma das mais nobres atribuições. Está marcada para 5 de abril audiência de conciliação entre o deputado federal Eunício Oliveira (MDB) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT). Haverá tentativa de entendimento a respeito do processo de indenização por danos morais movido por Ciro em função de entrevista concedida por Eunício à rádio O POVO CBN, em 6 de novembro de 2015. Na ocasião, o então senador e hoje deputado chamou Ciro de "batedor de carteira" e "sem escrúpulos". Referiu-se ainda a ele e o grupo político como "cooptadores de partido".

A sessão é promovida pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça do Ceará (Nupemec/TJCE) e está marcada para 9 horas, por videoconferência.

Na declaração alvo de questionamento, Eunício afirmou:  "Não vou fazer embate. Agora, não quero ver batedor de carteira gritando pega ladrão. Digo no sentido figurado. Pessoas que não têm comportamento ilibado, pessoas gritando por ética quando todos sabem o que aconteceu no Governo do Estado", disse Eunício.

"Nunca me envolvi em nada errado e ser, agora, chamado de batedor de carteira por um cidadão que faz da política um meio de enriquecer... Só tem um jeito que é ir à Justiça pedir um reparo desse absurdo", disse Ciro na época.

Eunício foi condenado em novembro de 2021 a pagar indenização de R$ 50 mil a Ciro, em decisão da 23ª Vara Cível de Fortaleza. O hoje deputado recorreu, então, ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

Pelo Código de Processo Civil, deve haver tentativa de conciliação entre as partes antes de irem a julgamento as ações cíveis que passam a tramitar na Justiça — incluindo o segundo grau de jurisdição, caso do TJCE.

A conciliação é um dos mais salutares meios de solução de conflitos do Poder Judiciário. Chega a um entendimento em comum acordo, sem necessidade de o juiz decidir. É um caminho mais rápido e menos trabalhoso de resolver situações de desavenças. Mas pode ser bastante difícil.

Ciro e Eunício protagonizam uma das rivalidades mais viscerais da política cearense. Estavam do mesmo lado até 2014, quando o emedebista quis ser o candidato da base aliada a governador e não teve apoio do então unificado grupo Ferreira Gomes.

Há uma década travam disputa na política e no Judiciário. Em muitos casos, Eunício move ações contra Ciro devido a declarações do ex-governador em relação a ele. Uma amostra do quão despolitizada e pouco madura é a pendenga: no mesmo ano em que foi condenado pelas declarações à rádio O POVO CBN, em 2021, Eunício arrematou apartamento de Ciro leiloado para pagar indenização devida ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, também em ação judicial. Ao explicar a atitude, o ex-senador e hoje deputado disse: "Arrematei de sacanagem".

Boa sorte a quem for tentar fazer Ciro e Eunício entrarem em acordo. Se for bem sucedido, mandem este herói para Gaza e para a Ucrânia.

Processo vai, processo vem

Em outro processo, Ciro Gomes se tornou réu por chamar a senadora Damares Alves (Republicanos) de "bandida nazifascista da quadrilha de Jair Bolsonaro". A 3ª vara criminal de Fortaleza acatou queixa-crime contra ele. Os comentários hostis a Damares foram feitos em entrevista em maio de 2020.