Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A esquerda envelheceu em ideias, leitura da sociedade e também em militantes
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem maioria na sociedade brasileira e nunca teve. Mas, tem mais força que qualquer outro grupo isoladamente. Ele é mais forte que a esquerda e que o lulismo. A vitória de Lula em 2022 foi resultado da aglutinação de forças muito além da esquerda. Aglomerou a única coisa hoje mais forte que o bolsonarismo: o antibolsonarismo. A esquerda convoca para 23 de março manifestações pela prisão de Bolsonaro. A perspectiva de igualar a direita no 25 de fevereiro na Avenida Paulista é pouco provável. A esquerda não tem a capacidade de mobilização da direita, e isso seria improvável uma década atrás.
À Folha de S.Paulo, em recente entrevista, o filósofo Vladimir Safatle disse que a extrema-direita é hoje a única força política real do País e a vitória de Lula em 2022 apenas ganhou tempo. Safatle é um pensador de esquerda, vale lembrar. Concorreu a deputado federal pelo Psol na eleição passada.
Ele considera que só a extrema-direita hoje tem capacidade de ruptura, estrutura e coesão ideológica. Lula não estará aí para sempre. Como a esquerda, ou a centro-esquerda, ou o centro farão esse enfrentamento sem ele? Qual o rumo de um projeto de esquerda? Qual o projeto? Safatle aponta haver o que chama de “constelação de progressismos”, mas sem ambição de transformar a sociedade estruturalmente. Essa é uma questão fundamental: a grande força transformadora da política no mundo é a extrema-direita. Por isso ela mobiliza e apaixona. A esquerda envelheceu em ideias, leitura da sociedade e também em militantes. A renovação das últimas décadas não é proporcional à geração das décadas de 1970 e 1980, que levou Lula ao poder pela primeira vez. Nem de longe é.
Multidões nas ruas não são a única linguagem da política. Não dá para engolir o argumento de quem quer questionar imagens de multidões em manifestações aos resultados eleitorais. Em qualquer sociedade, a maioria da sociedade não está em atos políticos. São maiorias silenciosas, não expressas nas manifestações e cujas opiniões não podem ser contabilizadas para um lado ou outro. As pessoas podem preferir um político a outro, até por exclusão, mas não se entusiasmar o suficiente para sair às ruas. Pode ter mais o que fazer. Ou pode simplesmente não estar pensando em política tão longe da eleição.
Porém, mobilizações como as de domingo são muito relevantes. A própria esquerda, quando tinha praticamente um monopólio da mobilização de rua, dava enorme peso às manifestações. Se não permitem afirmar se é maioria ou minoria no conjunto da população, expressa que há muita gente — ali representada, mas não presente em sua totalidade, longe disso — que pensa daquela maneira. Isso representa força política.
Bolsonaro e a inelegibilidade
O maior recibo de Bolsonaro de que o folguedo de domingo na Avenida Paulista era para autoproteção foi ao se insurgir contra a inelegibilidade de candidatos. “Não podemos concordar que um Poder tire do palco político quem quer que seja, a não ser por um motivo extremamente justo. Não podemos pensar em ganhar as eleições afastando os opositores do cenário político”.
De todas as 8 bilhões de pessoas no planeta, Bolsonaro talvez seja o que tem menos autoridade para dizer tal coisa. Ele foi eleito em 2018 numa eleição na qual Lula, na época preso, teve a candidatura barrada. O hoje presidente, na época, liderava as pesquisas.
Bolsonaro podia vencer contra Lula? Não duvido, mas até o maior bolsonarista e maior antipetista haverá de concordar que Lula é candidato mais competitivo que Fernando Haddad (PT). Atualmente, quem está inelegível é Bolsonaro.
É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.