Logo O POVO+
As divisões nos partidos
Foto de Érico Firmo
clique para exibir bio do colunista

Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

As divisões nos partidos

Quando não há acordos de cúpula para resolver de baixo para cima, o normal é haver crises profundas nos partidos
MOVIMENTO na sede do PT para eleição de delegados. Em destaque, deputado De Assis (Foto: Guilherme Gonsalves)
Foto: Guilherme Gonsalves MOVIMENTO na sede do PT para eleição de delegados. Em destaque, deputado De Assis

O PT terá encontro domingo para oficializar a candidatura à Prefeitura de Fortaleza. A principal dúvida não é o resultado, mas como o partido sairá e com quais consequências. O candidato será Evandro Leitão. São 200 votos e ele tem apoio de 119 delegados. Deverá ainda receber o apoio de delegados de outros pré-candidatos — salvo os apoiadores de Luizianne Lins. Os delegados foram escolhidos em 7 de abril. As duas últimas semanas foram dedicadas a tratativas internas e diplomacia. Tudo tratado mais silenciosamente do que é tradição no PT. Os resultados, se houve, serão vistos até domingo.

Evandro será candidato do PT, mas de quanto do PT é a questão. Todas as candidaturas do partido nos últimos 20 anos giraram em torno dela, em quatro ocasiões com ela mesmo como candidata.

Internamente, tem quase um terço da sigla em Fortaleza. Externamente, a proporção do que representa para o PT é maior. Essa força estará a serviço de Evandro?

Haverá a influência do presidente Lula, do governador Elmano de Freitas e do ministro Camilo Santana. Não é pouca coisa para Evandro. Os adversários sabem disso e dificilmente alguém não aponta a candidatura do partido como muito cotada a ir ao segundo turno. Todavia, eleição em Fortaleza nunca foi simples ou previsível. Não é provável vitória com sobra tal a ponto de ser possível com um partido dividido, sem o engajamento de sua mais destacada integrante na Capital. Vitórias em primeiro turno só ocorreram no auge da era Juraci Magalhães, uma vez com ele próprio e outra com Antônio Cambraia, e outra com Luizianne, por 0,16 ponto de diferença. A última vitória folgada foi em 1996. Faz 28 anos. Não está com muito jeito de ser agora.

A eleição de delegados já encaminhou vitória para Evandro, mas ele ainda tem a perder se não tiver apoio de Luizianne. Os caciques petistas são todos muito cuidadosos para evitar confrontá-la. Camilo Santana e Elmano de Freitas evitam declarações públicas em qualquer direção. “Processo está sendo todo cumprido”, disse Camilo sobre os ritos internos.

Mas, a deputada já está insatisfeita pela ação de bastidores. Considera que houve interferências indevidas. Antigos aliados dela mudaram de lado, ele acha que houve uso de cargos palacianos e de pessoas de fora do partido operando para que isso ocorresse. Sem ela, o prejuízo para Evandro pode ser grande.

Luizianne também tem a perder

Porém, Luizianne tampouco tem muita opção. Se lavar as mãos na campanha, pode se desgastar. Se o candidato do partido ganha, o recado será de que ela não foi necessária. Se perde, ela poderá ser responsabilizada politicamente. Desde que está na política, ela já cruzou os braços em campanha para governador, mas nunca para prefeito. Pode ser elemento de desgaste.

Maturidade na divergência

Lidar com divergências políticas não é simples para os partidos. O PT é, sem dúvida, a legenda que tem mais experiência nesse quesito. Tem mecanismos bem definidos e critérios, o que contribui. Todos sabem as regras. Nas outras legendas, quando não há acordos de cúpula para resolver de baixo para cima, o normal é haver crises profundas.

O PDT Ceará, em 2022, quando não chegou a acordo, decidiu que a escolha do candidato seria pelo voto no diretório. Não era uma definição que houvesse em princípio.

O caso pedetista é exemplo de divergência que implodiu a sigla. No plano nacional, o PSDB fez prévias e escolheu João Doria candidato a presidente. A rachadura interna foi tal que Doria acabou não sendo candidato e acabou saindo da legenda, que não lançou candidato próprio.

Em 2006, o MDB, então ainda PMDB, fez prévias entre o à época governador gaúcho Germano Rigotto e o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Foi uma confusão, porque Garotinho venceu pelos critérios de peso ponderado dos votos dos estados, mas Rigotto teve maior votação absoluta. No meio, surgiram denúncias contra Garotinho, que fez greve de fome. No fim das contas, o PMDB não teve candidato, Rigotto foi para a reeleição e não foi nem ao segundo turno.

O PT convive melhor com tais situações, sem dúvida e com larga vantagem. Mas, não está imune a crises. O partido em Fortaleza está diante de um desafio.

Foto do Érico Firmo

É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?