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A forma de o PT lidar com divergência
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A forma de o PT lidar com divergência

Em outro partido, seria de se esperar que colocassem simplesmente em votação, quem tem voto ganha e quem não tem perde. Mas o PT tem nuances nesse processo
Tipo Opinião
DELEGADOS no encontro de PT que escolheu Evandro Leitão como candidato (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES DELEGADOS no encontro de PT que escolheu Evandro Leitão como candidato

Foi interessante observar como o PT chegou à decisão que todo mundo já sabia que seria tomada, no último domingo. O desfecho foi o mesmo que haveria em qualquer partido, Evandro Leitão será candidato. Porém, a forma como se chegou à decisão foi muito peculiar.

Evandro tinha maioria garantida semanas antes. Contava com apoio de 118 de 200 delegados. Em outro partido, seria de se esperar que colocassem simplesmente em votação, quem tem voto ganha e quem não tem perde. Aprova a candidatura e vai todo mundo para o almoço de domingo.

Mas, o PT tem suas particularidades. Idiossincrasias, talvez. Buscou-se o entendimento, até o limite em que não havia mais como avançar. Pode-se gostar ou achar uma perda de tempo e energia. Todavia, houve muita conversa. Fez-se intervalo para mais reuniões. No último momento, Luizianne Lins retirou a pré-candidatura. O grupo dela se absteve. Evandro foi aprovado com 141 votos e 58 abstenções. Um delegado não votou.

Não significa que vai dar certo nem que evita crise. Mas o partido tem espaço para os filiados se manifestarem e regras claras para decisões. É mais do que todas as outras siglas que são alternativas reais de poder.

Diferenças

Para pegar o exemplo mais próximo. O PDT, de centro-esquerda, escolheu candidato a governador numa sala fechada com algumas dezenas de pessoas — o que foi mais do que ocorre na maioria dos casos, no PDT ou qualquer legenda. Deu no que deu, uma briga que já vai para dois anos e contando.

No PT foram algumas milhares de pessoas que compareceram a locais do votação espalhados pela Capital, em 7 de abril. Os eleitos participaram do encontro domingo para tomar a decisão. É um processo político rico. Mas, também tem riscos.

Postura de Luizianne

Apesar de tudo, o processo deixa cicatrizes. Luizianne estava insatisfeita com o que considerou interferências externas. Personagens como o vereador Léo Couto (PSB) e o deputado federal Luiz Gastão (PSD) foram bastante mencionados. Evandro Leitão disse que buscará a ex-prefeita. Precisará de muita conversa. Como informou semana passada o repórter Guilherme Gonsalves, há entre os aliados do pré-candidato quem considere que já será lucro se Luizianne se mantiver neutra, não se manifestar nem expuser divisão interna que dê munição aos adversários. Seria algo a ser administrado por um grupo político que bateu demais no PDT por não lançar como candidata à reeleição em 2022 a então governadora Izolda Cela.

Pelo ambiente, parece que a neutralidade será o máximo que Evandro conseguirá de Luizianne.

Cartilha

O PT fez encontro neste domingo e O POVO relembrou algumas das escolhas de candidatos mais, digamos, movimentadas dos últimos anos. Nenhuma supera a de 1988. Terminou com a então prefeita Maria Luiza expulsa — o partido administrava somente uma capital e expulsou a gestora, além de entregar todos os cargos. O grupo da Maria filiou muita gente ao partido e teria maioria para escolher o candidato. Dalton Rosado era o nome. Mas, a direção entendeu ser filiação em massa. Foram estabelecidas condições. Eles teriam de fazer curso de formação e ler o estatuto. Mesmo assim, 905 militantes foram desfiliados. No dia da eleição de delegados para a convenção, esse pessoal ignorou a desfiliação e foi votar. Chegando lá, sem os nomes nas listas, fizeram uma confusão. Papéis foram rasgados, houve agressões e votações foram inviabilizadas. Por causa da confusão, 21 pessoas foram expulsas do PT, inclusive Maria Luiza.

O argumento formal para desfiliar os 905 novos filiados era o desconhecimento do estatuto do PT.

O partido, no poder federal e no Ceará, tem recebido muitas filiações pelos municípios. Já imaginou se dos novos petistas fosse cobrado que demonstrassem conhecer o estatuto?

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