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Encontros do PT já tiveram agressões físicas, papéis rasgados e reviravoltas; relembre
Reportagem Especial

Encontros do PT já tiveram agressões físicas, papéis rasgados e reviravoltas; relembre

Em 1988, uma escalada de ânimos culminou na expulsão de Maria Luiza do PT. Em 2004, Luizianne surpreendeu os que davam por certa a aprovação do apoio a Inácio Arruda. Em 2012, o PSB rompeu com o PT ao discordar da escolha Elmano

Encontros do PT já tiveram agressões físicas, papéis rasgados e reviravoltas; relembre

Em 1988, uma escalada de ânimos culminou na expulsão de Maria Luiza do PT. Em 2004, Luizianne surpreendeu os que davam por certa a aprovação do apoio a Inácio Arruda. Em 2012, o PSB rompeu com o PT ao discordar da escolha Elmano
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O Partido dos Trabalhadores (PT) escolherá no próximo dia 21 de abril quem o representará na eleição à Prefeitura de Fortaleza, ano em que a gestão de José Sarto (PDT) será debatida pelo eleitor fortalezense, que escolherá reconduzi-lo ao Palácio do Bispo ou não.

Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, largou na frente de Luizianne Lins, ex-prefeita e deputada federal. Terá maioria entre os delegados que irão ao Encontro. Também são pré-candidatos no rito interno o presidente do PT de Fortaleza, deputado Guilherme Sampaio, a deputada estadual Larissa Gaspar e o ex-deputado Artur Bruno.

Do início do processo petitsta até aqui, Luizianne afirmou terem existido interferências externas que, segundo ela, "invadiram a integridade dos processos internos do PT".

O PT tem longa tradição em disputas internas para definir candidaturas. Algumas com muita confusão. O POVO relembra três dos encontros mais movimentados. 

 

 

1988: tumulto, agressões e prefeita expulsa

Em 1988, a prefeita Maria Luiza Fontenele foi expulsa do PT em razão da atuação do seu grupo de apoio político, o Partido da Revolução Operária (PRO), nas chamadas pré-convenções zonais, antessala da convenção partidária que oficializaria a candidatura do PT na sucessão.

O PT ainda não tinha regulamentado o sistema de tendências internas e havia forças, como o PRO, que eram verdadeiros partidos dentro do partido. O PRO não tinha existência oficial, mas política. Dentro do PT, era a força que controlava a Prefeitura, tinha mais capilaridade social e, individualmente, havia obtido a maior votação entre as várias correntes na eleição interna no PT. O grupo tinha a expectativa de indicar Dalton Rosado, secretário de Finanças.

Pessoas foram levadas a se filiar, ao que a direção do partido ligou o sinal de alerta. Não queria permitir que o PRO controlasse a sucessão. E impôs condição segundo a qual todos os novos filiados tinham de ler o estatuto e fazer curso de formação.

O POVO em 25 de abril de 1988 noticiou tumulto na votação no PT(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO O POVO em 25 de abril de 1988 noticiou tumulto na votação no PT


Perto das pré-convenções, 905 membros do Partido da Revolução Operária (PRO) foram desfiliados sob argumento de desconhecerem o estatuto partidário. Foram comunicados por carta. Mas, no dia das pré-convenções, 24 de abril de 1988, os líderes do PRO incentivaram os desfiliados a irem votar. Ao chegarem lá e serem barrados, a confusão foi generalizada.

Urnas foram quebradas e papéis com listas de votação e cédulas foram rasgados. Houve até agressões físicas. Seis pré-convenções zonais foram inviabilizadas.

A pretensão do grupo era de que o então secretário de Finanças do Município da gestão Maria Luiza, Dalton Rosado, fosse o candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, sem que a legenda participasse da chamada Frente Progressista, o bloco de partidos de esquerda com o qual Edson Silva (PDT) concorreria ao Paço Municipal. Além do PDT, o integravam o bloco PSB, PCdoB e PCB.

O POVO em 26 de abril de 1988, com a notiícia da expulsão de Maria Luiza(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO O POVO em 26 de abril de 1988, com a notiícia da expulsão de Maria Luiza

No dia seguinte, desembarcou em Fortaleza vindo de São Paulo o então secretário-geral do PT, José Dirceu. Na mesma data, 25 de abril, 21 membros foram, expulsos do PT, além dos 905 já desfiliados. Entre eles estavam os líderes do PRO, Rosa da Fonsêca, Jorge Paiva e Célia Zanetti, além da própria prefeita Maria Luiza Fontenele, gestora da primeira e, na época, única capital administrada pelo PT. O que dá a dimensão do trauma do tumulto durante as pré-convenções.

Nove petistas integrantes da equipe da prefeita entregaram os cargos. Dalton não foi expulso, o que ele estranhou, mas saiu do PT, lançando-se candidato a prefeito pelo Partido Humanista (PH) com apoio da prefeita Maria Luiza. Mario Mamede foi o candidato do PT.

Edson Silva, pelo PDT, foi o segundo colocado na eleição mais disputada da história de Fortaleza. Um jovem deputado estadual que líderava o governo Tasso Jereissati na Assembleia Legislativa do Ceará venceu a eleição: Ciro Gomes, pelo PMDB. A diferença foi de 5.317 votos, o equivalente a 0,9 ponto percentual.

 

 

2004: reviravolta, traições e surpresa

Em 2004, duas teses estavam em disputa no PT: apoiar Inácio Arruda (PCdoB) ou lançar candidatura própria. O então deputado federal pelo PCdoB era o nome mais forte da esquerda cearense. A coligação com ele era parte da política de alianças do governo Lula, com objetivo de comtemplar o aliado. Inácio já tivera apoio do PT ao concorrer a prefeito em 1996 e 2000. Na segunda, foi ao segundo turno.

A bandeira da candidatura própria era encampada pela deputada estadual Luizianne Lins. Se a ideia prosperasse, ela daria rosto e nome à campanha petista. O PT entraria na vice de Inácio Arruda com Artur Bruno, caso a tese saísse vencedora.

O POVO de 16 de fevereiro de 2004, com a manchete da vitória do grupo de Luizianne(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO O POVO de 16 de fevereiro de 2004, com a manchete da vitória do grupo de Luizianne

O processo foi marcado por reviravoltas. A disputa era acirrada. A chapa de Luizianne elegera 124 delegados para o encontro, somente um a mais que os defensores de Inácio. No dia do encontro, no galpão do Sindicato dos Comerciários, os apoiadores de Luizianne usavam vestiam camisa que os identificava e sentavam de um lado. Inacistas ficavam do outro lado.

O professor municipal Francisco Elis Pereira era delegado do grupo de Luizianne, mas mudou de lado. Foi o troco por um trauma de sete anos antes. Em 1997, ele era estudante de Pedagogia na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pichou um muro durante protesto. Ressentiu-se de não ter apoio dos colegas petistas.

"O erro mais grave deles (grupo pró-Luizianne) foi achar que eu tinha esquecido o que eles fizeram comigo na Uece. Todo mundo me abandonou", disse entre lágrimas. Ele tirou a camisa de apoio a Luizianne e jogou no chão, o que provocou um tumulto.

Página de Política do O POVO, em  16 de fevereiro de 2004, com a notícia do resultado que assegurou a candidatura própria no PT(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO Página de Política do O POVO, em 16 de fevereiro de 2004, com a notícia do resultado que assegurou a candidatura própria no PT

Antes da votação para valer, os delegados decidiram se a escolha entre candidatura própria ou apoio a Inácio seria decidido por voto aberto ou voto secreto. Apoiadores de Luizianne queriam votação aberta. Adeptos de Inácio queriam voto secreto.

Com o apoio de Pereira, venceu o voto secreto, para festa dos defensores da aliança com o candidato do PCdoB. "Já ganhamos! Com a votação secreta, teremos ainda mais votos", comemorou Nelson Martins, então deputado estadual e hoje assessor especial do Governo do Estado.

Aliados de Luizianne, por sua vez, demonstravam abatimento. Quando os votos foram contados, porém, foi surpresa geral. Por diferença de três votos, venceu a candidatura própria: 125 a 122.

"Queriam a votação secreta apostando na traição", disse João Alfredo, então petista e apoiador de Luizianne. "Acabaram eles mesmos sendo traídos".

A legenda tinha a possibilidade de marcar prévias. Os possíveis adversários de Luizianne eram José Airton Cirilo e Artur Bruno. Nenhum dos dois, defensores da aliança com Inácio, quis travar disputa com Luizianne. "Me considero um vitorioso, porque a vitória foi do PT, da maioria do partido", disse Bruno, único derrotado a discursar no encontro.

Luizianne foi candidata sem o apoio do PT nacional ou estadual, nem dos principais líderes. Foi para o segundo turno contra Moroni Torgan (então PFL) e foi eleita. Inácio Arruda foi o terceiro colocado.

 

 

Aliança entre PT e PSB

A gestão Luizianne Lins estava no fim e 13 opções no PT foram apresentadas como pré-candidaturas:

 

As desistências se sucederam até, no dia do encontro, em 3 de junho, haver apenas dois pré-candidatos: Elmano e Artur Bruno — este último novamente pré-candidato hoje. Elmano venceu com ampla maioria.

Mas, a questão não estava encerrada. Nos dias que se seguiram, o governador da época, Cid Gomes (PSB), exonerou três petistas que tinham cargo de secretário. Era uma sinalização para a prefeita Luizianne: aceitava apoiar a indicação de um deles para a Prefeitura. Os desincompatibilizados eram: Camilo Santana, secretário das Cidades; Professor Pinheiro, secretário da Cultura; e Nelson Martins, secretário do Desenvolvimento Agrário.

Encontro Municipal do PT para decidir candidato a prefeito de Fortaleza, em 2012(Foto: Mauri Melo, em 3/6/2012)
Foto: Mauri Melo, em 3/6/2012 Encontro Municipal do PT para decidir candidato a prefeito de Fortaleza, em 2012

Cid achava que alguém tão identificado com a gestão Luizianne quanto era Elmano carregaria muito desgaste. Em recente entrevista, o hoje senador contou que foi a Lula e defendeu o lançamento, segundo ele, de "uma candidatura sem o desgaste da administração, que não era bem avaliada na época". Cid disse que a resposta só veio no último dia.

No fim das contas, o PT manteve a candidatura de Elmano. Cid rompeu a aliança municipal. Ele e Ciro Gomes lançaram o presidente da Assembleia Legislativa na época, Roberto Cláudio, como candidato pelo PSB. Elmano e Roberto Cláudio foram para segundo turno e este último levou a melhor. Ao menos naquela época.

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