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Acerto de contas com o passado colonial
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Acerto de contas com o passado colonial

Racismo em Espanha e Portugal está relacionado à visão dourada sobre os anos de glória colonial — e escravista
PRESIDENTE de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu crimes cometidos no passado  de Portugal (Foto: FRANCISCO LEONG / AFP)
Foto: FRANCISCO LEONG / AFP PRESIDENTE de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu crimes cometidos no passado de Portugal

O jogador de futebol Vinícius Júnior já decidiu final de Champions League para o Real Madrid, em 2022, e nesta semana, fez dois gols em uma semifinal. Sei que não é desse modo que se combate o racismo, esperando feitos extraordinários das vítimas para esfregar na cara dos racistas. Ninguém precisa ser talentoso, vitorioso, incrível para ter o direito de não sofrer discriminação. Não é necessário heroísmo para não ser vítima de racismo. É um direito humano, esse palavrão em tempo sombrio. Mas, não deixa de ser um deleite imaginar os péssimos dias para os racistas que hostilizam Vini nos estádios europeus.

Penso que a presença tão enraizada do racismo na sociedade espanhola, a ponto de ser tratado como algo aceitável na rivalidade esportiva, está relacionada à visão sobre o passado colonial e escravocrata. A época de exploração da América foi o auge da história da Espanha. O antigo império chegou a ser a maior potência do mundo. Como ensinar aos descendentes que aquilo não é um passado luminoso, mas sombrio? Como mostrar, aos que enxergam um reino utópico no que ocorreu há meio milênio, os alicerces obscuros sobre os quais foi erguida a grandeza perdida?

Desde a semana passada, a polêmica sobre o passado colonial está instaurada entre os portugueses, depois que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, um conservador, reconheceu a responsabilidade pela escravidão nas antigas colônias, o Brasil incluído.

“Temos que pagar os custos”, afirmou a jornalistas estrangeiros. “Existem ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Existem bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos consertar isso.” (O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, logo tratou de ir a público dizer que não há qualquer plano de reparação às antigas colônias).

Portugal também conheceu o apogeu na época em que romanticamente se atirou ao mar, conectou o mundo e explorou o quanto conseguiu de África, Ásia e Brasil.

Revisitar criticamente o passado que trouxe benefícios, ainda que a um custo humanitário, não é simples. Observe-se a relação dos brasileiros — paulistas em particular — com os bandeirantes. São o mito fundador do estado mais rico do País, responsáveis por expandir as fronteiras. A história deles está, como a dos antigos impérios coloniais europeus, relacionada à escravidão, extermínio de indígenas, exploração de ouro. Convenhamos, sem alcançar nem de longe os mesmos resultados dos exploradores ibéricos. Mesmo assim, são objeto de homenagens e monumentos.

O drible nas CPIs

Vem dos tempos finais de Juraci Magalhães a estratégia marota que se repete na Câmara Municipal para evitar CPIs que atrapalhem as gestões. Há um limite para investigações simultâneas. O máximo são três. Como todo prefeito tem maioria no dia seguinte à eleição, ao sinal de que os opositores querem instalar uma comissão, os aliados tratam de colher assinaturas para três CPIs, preenchem as vagas rapidinho. Dizem então à oposição: “Poxa vida, já está lotado”. Os aliados de Juraci criaram a estratégia. Com Luizianne Lins (PT). Isso foi fartamente explorado. Criaram CPI até para investigar os anéis de concreto que em certa época protegia a base dos postes de luz, por ocupar espaço demais nas calçadas. Era incômodo, mas não precisava de CPI só para isso. Tanto que o resultado foi nulo, como de todas as outras.
Roberto Cláudio (PDT) foi pela mesma trilha. E o PT, que havia usado do método, passou a reclamar. José Sarto (PDT) dá continuidade. Neste ano eleitoral, três CPIs foram criadas, nenhuma com a Prefeitura como alvo. E quem vier a seguir, este ano ou em 2028, vai fazer a mesma coisa, porque a receita é conhecida. E a oposição, mesmo se já tiver feito isso, tratará como um grande absurdo. Espero estar errado, mas duvido.

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