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PT leva surra do bolsonarismo nas ruas e nas redes
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

PT leva surra do bolsonarismo nas ruas e nas redes

As cabeças petistas não estão sintinizadas com as linguagens, as novas dinâmicas sociais e as demandas da população no Brasil de hoje
Tipo Opinião
LULA e Boulos no ato de 1º de maio (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
Foto: Ricardo Stuckert / PR LULA e Boulos no ato de 1º de maio

A eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018 envolveu série de aspectos, que passam pela crise do PT, a Lava Jato, a prisão de Lula, o conservadorismo que passou a ser explicitado por grande parte do eleitor. Mas, a viabilização de Bolsonaro, especificamente, passou em grande parte por uma estratégia sem precedentes nas redes sociais e meio digital como todo. Muito se tem falado sobre o governo ter a cabeça ainda na década de 1990 e de 2000. O 1º de maio foi bem acabado exemplo disso. O evento teve dois marcos: um o pedido antecipado de voto por Lula. A lei brasileira só não permite duas coisas antes do início formal da campanha: divulgação de número e pedido explícito de voto. O presidente incorreu justamente neste último ponto, ao pedir para as pessoas voltarem em Guilherme Boulos (Psol). Lula disputa eleições há mais de 40 anos, é surpreendente que cometa um equívoco desses. O outro marco foi a bronca de Lula pela convocação de um evento que acabou sendo esvaziado.

O presidente reclamou com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), pelo pouco público. “Não pensem que vai ficar assim. Vocês sabem que ontem eu conversei com ele (Macêdo) sobre esse ato e disse: ‘Márcio, esse o ato está mal convocado’. Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”.

De fato, o público foi um fiasco. O que impressiona é o amadorismo. Um evento com a presença do presidente da República, e tem uma condução amadora. E isso é percebido antes. É o tipo de erro que o bolsonarismo não comete, não nessa dimensão.

Houve um tempo, quando o PT nem tinha experimentado o poder central, mas tinha o domínio absoluto das ruas, a hegemonia na capacidade de mobilização de militância. Quando Lula chegou ao poder pela primeira vez, as principais cabeças da esquerda foram para o governo. Os movimentos acabaram ficando muito atrelados à administração. Pouco a pouco a mobilização esfriou. Quando, mais de uma década depois, tentou-se agitar novamente essa base social, não se conseguiu. Não tem chave de liga e desliga. E nunca mais se encontrou um caminho. A impressão é de que a militância que construiu o PT nas décadas de 70, 80 e 90 envelheceu. É a natureza. E uma nova geração não foi formada para substituir a anterior.

Para além disso, as cabeças petistas não dominam as linguagens atuais. Para não falar da compreensão das novas dinâmicas sociais, das demandas da população. Esse debate é mais complexo, por enquanto vou ficar mesmo na questão da linguagem e das ferramentas da era do Whatsapp, Telegram, Youtube, TikTok e todo esse ecossistema. O bolsonarismo está em sintonia com a vanguarda do que de melhor e de pior se faz. É um uso muito mais orgânico. O PT usa tudo isso, mas não perde o jeito “tiozão” de se comunicar.

Existe hoje uma forte presença conservadora na sociedade. Mas ela parece ainda maior quando se compara a mobilização da direita com a da esquerda, seja presencial ou virtual. Os políticos, 20 anos atrás, tinham vergonha de se dizer de direita. Hoje têm orgulho. E há resistência em se apresentar como esquerda.

O PT tem hoje o maior trunfo na história da esquerda no Brasil — Lula. E mesmo assim foi realizado um ato vexatório. Na próxima eleição, ele estará com 81 anos. A direita é hoje uma força poderosa na política brasileira e as perspectivas da esquerda para se contrapor não são alvissareiras.

De onde virá o pós-Lula

Escrevi na terça sobre Camilo Santana e outros nordestinos serem citados entre opções presidenciais. De onde virá o futuro do lulismo? Lembro-me do que se passou no segundo governo Lula. Quando Dilma Rousseff começou a despontar como alternativa, lembro de um graduado petista desdenhar da possibilidade. Havia uma questão em jogo: Dilma não era do grupo que sempre comandou o PT. Eles não visualizavam nome que não saísse dali. Lula pensou diferente e pegou alguém vinculado diretamente a ele. O presidente ainda pretende buscar a reeleição. O que vier depois, para o PT e a esquerda, muito provavelmente passará pela relação pessoal com Lula, de preferência com aval da cúpula do petismo, cujo eixo não está no Nordeste, mas em São Paulo.

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