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A pauta ambiental nas eleições municipais
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A pauta ambiental nas eleições municipais

Desastre das enchentes no Rio Grande do Sul pode dar inédita relevância ao tema
Tipo Opinião
CONSTRUÇÃO de arranha-céu na orla de Fortaleza (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE CONSTRUÇÃO de arranha-céu na orla de Fortaleza

A agenda ambiental é uma das pautas mais importantes do planeta, mas não costuma ter muito apelo eleitoral. A bancada ambientalista é menor, por exemplo, que a das empreiteiras ou a da bala. Os mineradores conseguem eleger mais gente. A tragédia do Rio Grande do Sul, entretanto, pode dar relevância sem precedentes ao tema. Nem tudo passa pelo município, mas muita coisa, sem dúvida, está no âmbito das prefeituras. Aterramento de mananciais, destruição de áreas verdes, abusos no uso do solo que chegam até a construção de superprédios. Tudo isso ocorre com aval das administrações, que querem ver o dinheiro circular a qualquer custo. Candidatos têm o dever de oferecer compromisso mais sério com o assunto.

Olhares pelo mundo

Comentei ontem as posturas ambientais da direita e da esquerda. Entre os conservadores brasileiros, há negacionismo ambiental e desprezo pelo tema. Não são todos, mas são poucas as vozes que fogem disso. O governo Jair Bolsonaro (PL) foi exemplo de retrocesso que causou espanto e preocupação internacionais. Mas, na esquerda, com todo discurso de sensibilidade ambiental, quando se está no poder, absurdos são encampados. Em nome do desenvolvimento, de levar riqueza a regiões pobres. O fato é que, independentemente de ideologia, quando há conflito entre dinheiro e meio ambiente, a natureza sempre leva a pior. Elenquei projetos dos governos Dilma Rousseff e Lula — os anteriores e o atual — que foram verdadeiros absurdos ambientais. E não é só a esquerda no Brasil.

No México, o presidente de esquerda Manuel López Obrador encampa o Trem Maya, megaprojeto turístico na península de Yucatán que ameaça os cenotes, sistema de mais de dois mil poços de água cristalina e pedra calcária, muitos deles interconectados, que formam sistema geológico singular. A promessa de Obrador é conhecida nossa. Levar desenvolvimento pelo turismo a uma região empobrecida. O custo? Ambientalistas apontam que 8,7 milhões de árvores foram derrubadas e o ecossistema subterrâneo foi danificado de modo irreversível.

Faço esse destaque porque, nesse tema, nenhum campo político pode se julgar exemplar. Todos deram contribuições para agravar o quadro que leva a eventos extremos cada vez mais recorrentes. E não vou nem falar da China comunista, que a coisa se complica muito.

Vai comendo

No momento em que o Brasil atravessa uma tragédia ambiental, a Câmara dos Deputados aprovou a dispensa da necessidade de licenciamento ambiental para plantio de eucalipto. Ministério do Meio Ambiente e Ibama se opunham à mudança. O PT e outras siglas de esquerda votaram contra. Mas, o partido do presidente Lula não consegue arregimentar nem as siglas aliadas, que ocupam uma penca de cargos no governo.

Até empreendimentos de grande porte ficam dispensados, sem controle algum. Nem mesmo haverá medidas para atenuar os efeitos, que costumam ser colocadas como condição. Especialistas apontam entre os problemas em potencial diminuição de biodiversidade e desequilíbrio hídrico, pela quantidade de água que é consumida. E, observe, não se trata de autorizar ou não o plantio. O que foi aprovado é que nem haja análise ambiental do impacto, mesmo que seja para liberar. É um acinte. No momento que o Brasil vive, um deboche.

Se você tem alguma dúvida do quão ruim é a medida para o meio ambiente, um dos defensores mais entusiasmados foi o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), aquele, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), que queria “passar a boiada” para reduzir justamente as regras ambientais. E que foi demitido ao se tornar alvo da Polícia Federal, subordinada ao próprio governo, por acusação de favorecer esquema de contrabando internacional de madeira. Apenas.

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