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Como o poder, à direita e à esquerda, trata o meio ambiente
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Como o poder, à direita e à esquerda, trata o meio ambiente

Esquerda e direita não são iguais no trato ambiental. Há diferenças marcantes. Mas, ninguém que teve poder nas mãos está livre de culpas
Tipo Opinião
VISTA aérea das ruas alagadas do bairro Navegantes, em Porto Alegre, Rio da Grande do Estado (Foto: Carlos Fabal/AFP)
Foto: Carlos Fabal/AFP VISTA aérea das ruas alagadas do bairro Navegantes, em Porto Alegre, Rio da Grande do Estado

A tragédia no Rio Grande do Sul mobiliza as atenções de políticos, muitos sensibilizados, vários mobilizando ajuda humanitária. Inúmeros apontando o dedo para os adversários. Mas, a calamidade expõe o poder no Brasil. Não um campo político ou outro. Claro que há responsabilidades diferentes. Quem já teve poder nas mãos possui equívocos a serem apontados. Elenco alguns dos perfis políticos que têm suas responsabilidades.

Negacionistas também sobre clima

O grupo talvez mais nocivo é composto pelos que, quanto menos se importam com questões ambientais, mais cínicos são no trato da tragédia. Gente que debocha de ambientalista e não perde oportunidade de defender emissão de carbono. Que vibra quando há redução de área verde, nem que seja um palmo de capim arrancado. Defende “passar a boiada” para desmontar a legislação ambiental. E agora essas pessoas tratam do desastre climático com indignação, dando lições e fazendo acusações. Como se a tragédia não tivesse nada a ver com aquelas questões ambientais que elas desprezam. Hipócritas a valer, é o campo ideológico, conservador, que se projetou ou se revelou a partir do bolsonarismo.

Eles negam evidências, ignoram o consenso científico — sim, já escrevi sobre isso e o projeto Comprova já explicou, existe consenso científico de que a ação humana provoca mudança climática — e agem como se a tempestade surgisse do nada, sem qualquer relação com as medidas que essas pessoas defendem, e sobre as quais há alertas de que os impactos seriam justamente esses vistos agora. Quando acontecem, dizem apenas: “Coincidência”. “Isso já aconteceu antes", mesmo que fosse no tempo em que Mata Hari brincava de boneca. Criam sem número de factóides e tratam de tumultuar e não de ajudar.

“Pragmáticos” e defensores do dinheiro

Há outro grupo, que defende empreendimentos que possam gerar dinheiro, direta ou indiretamente, não importa o impacto. A esse campo aderem os integrantes do primeiro, que encontram razões objetivas para colocar em prática a visão ideológica. Mas, muitos dos que adotam essa perspectiva não têm particularmente nada contra — tampouco a favor — do meio ambiente. Apenas acham um estorvo quando chatos vêm querer atrapalhar as fontes de lucro para preservar uma área verde, um rio, uma duna.

Progressistas e desenvolvimentistas

Outro grupo faz discurso em defesa do meio ambiente, na teoria é muito sensível à causa. Mas entende a importância do desenvolvimento. Acha que as duas coisas precisam ser conciliadas. Em tese, tudo muito bonito. O problema é que, nessa suposta conciliação, quando um empreendimento causa dano ambiental, sempre prevalece o interesse econômico. A natureza perde todas. Nunca vi ganhar uma. Aliás, para ser justo, a única vez que eu me lembro de ter visto o contrário foi quando não se conseguiu acabar com a Praia do Titanzinho e construir um estaleiro, por resistência da então prefeita Luizianne Lins (PT). A regra não é essa, ao contrário.

Governos de esquerda cometeram muitos equívocos ambientais. O primeiro governo Lula construiu a hidrelétrica de Barra Grande alagando 4 mil hectares de mata atlântica, com araucária, árvore pré-histórica em extinção. A obra teve por base análise de impacto fraudada, da época de Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula tomou conhecimento da situação. Na Casa Civil, José Dirceu pediu mais estudos. Dilma Rousseff tocou a devastação. Barra Grande fica entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É um exemplo, entre muitos. Belo Monte é outro, muito maior e pior.

O governo Dilma, aliás, encampou a aprovação de um Código Florestal que reduziu a proteção a matas ciliares, anulou multas a infratores e abriu caminho para mais desmatamento.

No atual governo Lula, é travada disputa entre Ibama e Petrobras sobre a chamada Margem Equatorial, uma enorme reserva petrolífera que se estende da foz do rio Amazonas até o Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará. Além do riquíssimo ecossistema e de formações de frágeis recifes ainda não estudados, trata-se de aposta na exploração de combustível fóssil em larguíssima escala. O Ibama apontou grau máximo de impacto ambiental negativo no empreendimento. A Petrobras diz que a avaliação está “suscetível à subjetividade”. Ah, bom.

Não só no Brasil. No México, o presidente de esquerda Manuel López Obrador encampa o projeto do Trem Maya, megaprojeto turístico na península de Yucatán que ameaça os cenotes, sistema de mais de dois mil poços de água cristalina e pedra calcária, muitos deles interconectados, que formam sistema geológico singular. A promessa de Obrador é conhecida nossa. Levar desenvolvimento pelo turismo a uma região empobrecida. O custo? Ambientalistas apontam que 8,7 milhões de árvores foram derrubadas e o ecossistema subterrâneo foi danificado de modo irreversível.

Em resumo, esquerda e direita não são iguais no trato ambiental. Há diferenças marcantes. Mas, o campo progressista, no poder, comete erros do que acertos nesse campo.

Foto do Érico Firmo

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