Como o poder, à direita e à esquerda, trata o meio ambiente
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A tragédia no Rio Grande do Sul mobiliza as atenções de políticos, muitos sensibilizados, vários mobilizando ajuda humanitária. Inúmeros apontando o dedo para os adversários. Mas, a calamidade expõe o poder no Brasil. Não um campo político ou outro. Claro que há responsabilidades diferentes. Quem já teve poder nas mãos possui equívocos a serem apontados. Elenco alguns dos perfis políticos que têm suas responsabilidades.
Negacionistas também sobre clima
O grupo talvez mais nocivo é composto pelos que, quanto menos se importam com questões ambientais, mais cínicos são no trato da tragédia. Gente que debocha de ambientalista e não perde oportunidade de defender emissão de carbono. Que vibra quando há redução de área verde, nem que seja um palmo de capim arrancado. Defende “passar a boiada” para desmontar a legislação ambiental. E agora essas pessoas tratam do desastre climático com indignação, dando lições e fazendo acusações. Como se a tragédia não tivesse nada a ver com aquelas questões ambientais que elas desprezam. Hipócritas a valer, é o campo ideológico, conservador, que se projetou ou se revelou a partir do bolsonarismo.
Eles negam evidências, ignoram o consenso científico — sim, já escrevi sobre isso e o projeto Comprova já explicou, existe consenso científico de que a ação humana provoca mudança climática — e agem como se a tempestade surgisse do nada, sem qualquer relação com as medidas que essas pessoas defendem, e sobre as quais há alertas de que os impactos seriam justamente esses vistos agora. Quando acontecem, dizem apenas: “Coincidência”. “Isso já aconteceu antes", mesmo que fosse no tempo em que Mata Hari brincava de boneca. Criam sem número de factóides e tratam de tumultuar e não de ajudar.
“Pragmáticos” e defensores do dinheiro
Há outro grupo, que defende empreendimentos que possam gerar dinheiro, direta ou indiretamente, não importa o impacto. A esse campo aderem os integrantes do primeiro, que encontram razões objetivas para colocar em prática a visão ideológica. Mas, muitos dos que adotam essa perspectiva não têm particularmente nada contra — tampouco a favor — do meio ambiente. Apenas acham um estorvo quando chatos vêm querer atrapalhar as fontes de lucro para preservar uma área verde, um rio, uma duna.
Progressistas e desenvolvimentistas
Outro grupo faz discurso em defesa do meio ambiente, na teoria é muito sensível à causa. Mas entende a importância do desenvolvimento. Acha que as duas coisas precisam ser conciliadas. Em tese, tudo muito bonito. O problema é que, nessa suposta conciliação, quando um empreendimento causa dano ambiental, sempre prevalece o interesse econômico. A natureza perde todas. Nunca vi ganhar uma. Aliás, para ser justo, a única vez que eu me lembro de ter visto o contrário foi quando não se conseguiu acabar com a Praia do Titanzinho e construir um estaleiro, por resistência da então prefeita Luizianne Lins (PT). A regra não é essa, ao contrário.
Governos de esquerda cometeram muitos equívocos ambientais. O primeiro governo Lula construiu a hidrelétrica de Barra Grande alagando 4 mil hectares de mata atlântica, com araucária, árvore pré-histórica em extinção. A obra teve por base análise de impacto fraudada, da época de Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula tomou conhecimento da situação. Na Casa Civil, José Dirceu pediu mais estudos. Dilma Rousseff tocou a devastação. Barra Grande fica entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É um exemplo, entre muitos. Belo Monte é outro, muito maior e pior.
O governo Dilma, aliás, encampou a aprovação de um Código Florestal que reduziu a proteção a matas ciliares, anulou multas a infratores e abriu caminho para mais desmatamento.
No atual governo Lula, é travada disputa entre Ibama e Petrobras sobre a chamada Margem Equatorial, uma enorme reserva petrolífera que se estende da foz do rio Amazonas até o Rio Grande do Norte, passando pelo Ceará. Além do riquíssimo ecossistema e de formações de frágeis recifes ainda não estudados, trata-se de aposta na exploração de combustível fóssil em larguíssima escala. O Ibama apontou grau máximo de impacto ambiental negativo no empreendimento. A Petrobras diz que a avaliação está “suscetível à subjetividade”. Ah, bom.
Não só no Brasil. No México, o presidente de esquerda Manuel López Obrador encampa o projeto do Trem Maya, megaprojeto turístico na península de Yucatán que ameaça os cenotes, sistema de mais de dois mil poços de água cristalina e pedra calcária, muitos deles interconectados, que formam sistema geológico singular. A promessa de Obrador é conhecida nossa. Levar desenvolvimento pelo turismo a uma região empobrecida. O custo? Ambientalistas apontam que 8,7 milhões de árvores foram derrubadas e o ecossistema subterrâneo foi danificado de modo irreversível.
Em resumo, esquerda e direita não são iguais no trato ambiental. Há diferenças marcantes. Mas, o campo progressista, no poder, comete erros do que acertos nesse campo.
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