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Por que Ciro Gomes se desgastou e como encara o que vê como ocaso
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Por que Ciro Gomes se desgastou e como encara o que vê como ocaso

"O destino de todos os políticos é o ocaso. A diferença minha é que eu sei disso e estou pronto", disse Ciro Gomes. Ave Maria, um preparo medonho
Tipo Opinião
CIRO Gomes diz que o ocaso é inevitável, e sugere que alguns não sabem (Foto: Yuri Allen, em 17/4/2024)
Foto: Yuri Allen, em 17/4/2024 CIRO Gomes diz que o ocaso é inevitável, e sugere que alguns não sabem

A semana atribulada, com mudanças importantes no governo Elmano de Freitas (PT), quase me fez esquecer de comentar o que disse Ciro Gomes (PDT). Em entrevista ao O Globo, houve vários elementos. Começo por esta frase: “O destino de todos os políticos é o ocaso. A diferença minha é que eu sei disso e estou pronto. Sabe por quê? Porque sou desapegado”. Numa demonstração de desapego, concedeu uma entrevista que mostra um preparo medonho para o ocaso, ave Maria.

E a prova do quão pronto está é vista quando fala por que teve votação bem inferior à de eleições anteriores: “Essa gente toda sucumbiu a uma onda fascista”.

Ao expor desapego paquidérmico, fala por que não quer ser mais candidato: “Não quero mais depender da aprovação ou da crítica sebosa de eleitor”.

Pouco à frente, define-se como “amante não correspondido” do Brasil. Belo amante, para quem a crítica do eleitor é sebosa.

A tese de Ciro para o desempenho poderia fazer sentido, mas esbarra num problema grande: Simone Tebet (MDB). Ele teve 1,3 milhão de votos a mais que ele. Tem a polarização, nociva em tantos aspectos. Mas há questões que são de Ciro.

Por que Ciro se desgastou

Ao falar sobre o Ceará, Ciro formula sobre o motivo de ter se desgastado. E fala do irmão, senador Cid Gomes (PSB). “Eu era unanimidade no Estado. De repente, comecei a ter aresta. Todas para defender o Cid”.

Algumas considerações: Ciro nunca foi unanimidade. Até pelo estilo briguento, de enfrentamento. Isso não é um defeito, necessariamente. Muito do que ele fez foi no confronto, contrariando interesses. Até acho que ele poderia ter feito as coisas de forma mais dialogada. De todo modo, se não era unanimidade, ele sempre esteve no lado que tinha ampla maioria. Sofria resistência de uma esquerda francamente minoritária, na qual estava o PT.

Não sei se dá para dizer que se desgastou por causa da defesa de Cid ou do governo. Mas é verdade que, no momento mais complicado da gestão do irmão, em 2013, ele foi para aa linha de frente dos dois maiores abacaxis. Fez uma consultoria — informal e estranha que fosse — na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Depois, se tornou secretário da Saúde.

Na Segurança, o resultado principal foi a demissão do então secretário, Francisco Bezerra, cuja indicação parecia retrocesso e cujos resultados confirmaram isso. O substituto, Servilho Paiva, até estabilizou a situação e implantou o positivo regime de metas, que Camilo Santana (PT) acabou. Na saúde, a promessa era acabar com o chamado “piscinão” onde se amotoavam pacientes no Hospital Geral. Conseguiu, ainda que não houvesse margem para quem necessariamente iria chegar. Mas já era uma realização improvável.

Ciro tem um ponto. Mas não creio que foi isso que o desgastou. Quatro anos após o fim do governo Cid, ele foi o mais votado no Ceará, mesmo com a disputa entre Jair Bolsonaro e o PT, com Fernando Haddad.
Parece-me que o desgaste teve mais relação com ele ter defendido Lula (PT), dizer que iria “sequestrá-lo” e levá-lo a uma embaixada para não o deixar ser preso. Depois, tornou-se crítico abespinhado. Ficou furioso, não sem sua razão, por o PT atuar para atrapalhar alianças dele em 2018. Foi tratado como inimigo.

O PT foi correto? Olha, pela lógica da política, há quem entenda, pragmaticamente. Eu não acho certo. Ainda mais num cenário imprevisível, em que ninguém sabia se Haddad iria se viabilizar. E alguém que, até ali, portava-se, no máximo, como crítico pontual de Lula. Era normal Ciro ficar magoado.

No segundo turno, “foi a Paris”. E a partir de 2019, o tom sobre Lula e o PT mudou. As críticas tornaram-se muito mais incisivas. E Ciro despencou. Por isso, até entendo a postura, mas creio que o que o desgastou foi ter, primeiro, agarrado-se a Lula, e logo depois partido para o ataque. Num cenário polarizado, ele primeiro desagradou os críticos do PT, e depois o próprio PT.

Não sei se o ocaso é inevitável. Nem acho que Ciro viva necessariamente um ocaso. Ele tem muitos e barulhentos seguidores. Não para se eleger presidente, nem perto. Mas o bastante para ser relevante e ouvido no debate nacional. Poderia ser mais relevante ainda caso tivesse outro comportamento. A culpa não é da sebosidade da decisão do eleitor, da polarização nem do Cid. A culpa é do Ciro.

Ah, ele voltou a falar de Janaína Farias. Como o espaço acabou, trato disso amanhã.

Foto do Érico Firmo

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