Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Mauri Melo, em 12/4/2019
8ª reunião do Comité de Governança do Pacto por um Ceará Pacífico, no Palacio da Abolição, em 2019
Nas ações anunciadas para segurança pública, junto da posse do novo secretário, Roberto Sá, o governador Elmano de Freitas (PT) não falou de quase nada muito concreto e palpável. Mencionou o reforço do policiamento na rua, de forma ostensiva, mas sem quantificar. Falou em convocar policiais militares aprovados em concurso, fazer concurso para PMs e bombeiros. O anúncio foi prometido para “daqui a alguns dias”. Falou também em investir em tecnologia e inteligência. Tudo de forma ainda genérica. O mais concreto foi a criação de um comitê, que reuniria, em encontros periódicos, as forças de segurança do Estado com Tribunal de Justiça, Ministério Público, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal. E com participação do próprio governador. Nas linhas gerais até agora conhecidas, lembrou-me bastante o Ceará Pacífico, bandeira na área do governo Camilo Santana (PT), até ficar esquecido.
O Ceará Pacífico consistia justamente nessa articulação com as várias instituições envolvidas no combate à criminalidade. Houve avanço na interlocução. Envolvidos cobravam que se saísse da pauta mais cômoda e se mergulhasse nos problemas que havia nas relações, nos gargalos a serem removidos. Por o dedo nas feridas abertas.
O vice-prefeito Élcio Batista (PSDB), hoje oposição ao governo, era chefe da Casa Civil do governo Camilo Santana (PT) e estava na linha de frente do Ceará Pacífico. Ao participar do Jogo Político, há pouco mais de um mês, ele afirmou que o assunto foi abandonado quando chegou a pandemia de Covid-19 e todas as atenções do governo se voltaram para o assunto.
Em conversa com a coluna após a criação do novo comitê, Élcio acrescentou que o então secretário André Costa, já esvaziou a iniciativa por, segundo o vice-prefeito, não ter paciência ou disposição para as reuniões, a avaliação dos resultados, o desgaste que havia. Com a pandemia, o Ceará Pacífico acabou de vez.
(O novo secretário falou em analisar uma política de metas. Isso já existiu no Ceará, com o nome de “Em defesa da vida”. Foi implantada no fim do governo Cid Gomes. Acabou em 2020, com a incorporação das gratificações, na negociação para encerrar o motim da Polícia Militar. Praticamente na mesma época em que o Ceará Pacífico chegou ao fim.)
A consciência de Elmano
Na coluna anterior, mencionei aspectos complicados da fala do governador. Mas, houve também elementos positivos no discurso de Elmano. Logo após dizer que “bandido será tratado como bandido”, que “tratem de ir embora do estado do Ceará” e vanilóquios do tipo, ele reconheceu: “Eu sei que isso (crise da segurança) não se resolve de maneira rápida nem com discurso mais forte”. Pior que o discurso seria ele acreditar ser a solução. Elmano destacou que o problema não tem solução isolada e precisa da interlocução com Judiciário, Ministério Público e outras instituições.
Questão de responsabilidade
Outro ponto positivo da fala de Elmano foi ao assumir a responsabilidade que tem o Estado. “A União tem responsabilidade, o município tem responsabilidade, mas quem dirige a Polícia Militar, a Polícia Civil, as outras vinculadas, o Corpo de Bombeiros é o Governo do Estado”. Primeiro, isso é a verdade. Mas, os outros entes têm seus papéis. Agora, no debate eleitoral, está em voga a atribuição das prefeituras, muito importante. Quando governador, Camilo Santana (PT) cobrou muito incisivamente o Governo Federal, pelo fato de as facções criminosas serem federais e pela responsabilidade da União no combate ao tráfico e na segurança das fronteiras. Mas, a população espera que o governador faça sua parte — embora também caiba pressionar, no que couber, aos outros entes. Mas o protagonismo é estadual. E não dá para dizer que o dever de casa é bem feito, para justificar falar grosso com os outros.
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