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Camilo ditador? Política do Ceará tende à hegemonia
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Camilo ditador? Política do Ceará tende à hegemonia

A história do Ceará nas últimas décadas tende à concentração de poder e à pouca alternância. Isso é ruim. A diferença agora é que, pela primeira vez, Ciro está fora. Na vida política, o governo Elmano de Freitas é o primeiro que começa com Ciro na oposição
Tipo Opinião
CIRO Gomes, Tasso Jereissati, Camilo Santana e Cid Gomes: todos muito poderosos ao seu tempo (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA CIRO Gomes, Tasso Jereissati, Camilo Santana e Cid Gomes: todos muito poderosos ao seu tempo

O alvo de Ciro Gomes (PDT) em discurso no último sábado, em Crato, foi o PT e mais especificamente o ministro da Educação, Camilo Santana, mesmo sem que o nome tenha sido mencionado. “Há uma ditadura tentando ser construída, tirando os direitos das pessoas de escolher suas candidaturas. Tudo armado para que o novo ditador do Ceará não tenha sequer contrastes, e tenho certeza que o Cariri vai se levantar", disse o pedetista, em lançamento da candidatura de Aluísio Brasil (União Brasil), candidato à prefeitura de Crato.

No palanque, havia bolsonaristas. O PL indicou o vice, Zé da Adega. O PDT, partido de Ciro, oficialmente apoia o candidato do PT, André Barreto. O ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, também estava lá, apesar disso. A "ditadura" é tal que até o partido de Ciro parece se compor, nesse caso. No palanque, estava também o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, com quem Ciro já teve brigas pouco educadas no passado.

Há mesmo uma ditadura em construção no Ceará?

É fato que a política do Ceará tende à formação de hegemonias. Tem sido assim nas últimas seis décadas. O período entre as ditaduras de Getúlio Vargas, encerrada em 1945, e a ditadura militar, iniciada em 1964, foi marcada pela intensa rotatividade de poder. Nenhum governador fez sucessor. Em 1947, a UDN elegeu Faustino Albuquerque. Em 1950, o PSD elegeu Raul Barbosa. Em 1954, a UDN voltou, com Paulo Sarasate. Em 1958, Parsifal Barroso foi eleito pelo PTB, com apoio do PSD. Em 1962, Parsifal costurou aliança com o candidato derrotado por ele em 1958, Virgílio Távora, que foi eleito governador. A coligação entre UDN e PSD foi chamada União pelo Ceará. Seria a base da Arena na ditadura militar. A partir dali até hoje, o Estado é marcado pelas hegemonias.

Veio o triunvirato dos coronéis na ditadura, com Virgílio, Adauto Bezerra e César Cals. Detiveram o poder até o começo da década de 1980.

Eles levaram ao governo Gonzaga Mota, que rompeu com os três e lançou Tasso Jereissati (PSDB), iniciador de outra dinastia, que durou 20 anos e que teve o próprio Ciro como mais graduado parceiro.

Seguiu-se a era Cid Gomes (PSB), da qual Camilo Santana (PT), Izolda Cela (PSB) e Elmano de Freitas (PT) são continuadores. O governo Camilo pode ser caracterizado dentro da era Cid.

Mas, desde o último ano daquele mandato, em 2022, passando por Izolda até Elmano, tem-se novo momento em que Camilo se estabeleceu como líder inconteste do grupo.

Foram todos períodos de predomínio quase absoluto. As derrotas no Poder Legislativo, praticamente inexistentes. Os grupos no poder com apoio de quase 100% dos prefeitos. As oposições municipais quase sempre subdivisões do governismo estadual. Oposição estadual por vezes com dificuldade de lançar candidatura estadual, que dirá ser competitiva.

Não sei se é resultado da pobreza, a dependência das prefeituras do apoio estadual. O professor Josênio Parente explica que, no semiárido, elites econômicas têm dificuldade em se estabelecer, o que leva à fragilidade das elites políticas. As que se formam acabam sendo dependentes do poder.

O cenário de que Ciro fala existe mesmo, de uma hegemonia muito profunda. Mas, não começou agora. Na época dos coronéis, o Brasil era uma ditadura mesmo. Tasso foi chamado de “ditador” ou “coronel”. Em menor grau, Cid também sofria essa crítica. Vale para Camilo? O grau de controle sobre a política estadual não é diferente.

Definitivamente, não é bom para a política que um grupo ou pessoa tenha tanto poder. Mas, isso é a história do Ceará. A diferença agora é que, pela primeira vez, Ciro está fora. Na vida política, o governo Elmano de Freitas (PT) é o primeiro que começa com Ciro na oposição.

Foto do Érico Firmo

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