Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Capitão Wagner toma a decisão mais óbvia para ele e para o futuro político. Roberto Cláudio faz jogada de muito risco político
Foto: TATIANA FORTES, em 2016
ROBERTO Cláudio e Capitão Wagner pela 1ª vez estão do mesmo lado
No jogo dos apoios para o segundo turno, André Fernandes (PL) levou a melhor sobre Evandro Leitão (PT) com folga. Teve o apoio do quarto colocado, Capitão Wagner (União Brasil). O terceiro, José Sarto (PDT), não se posicionou, mas a maior parte dos principais aliados desembarcou na campanha de Fernandes. Inclusive o presidente da Câmara, Gardel Rolim (PDT), e o mais popular deles, Roberto Cláudio (PDT). A posição de Capitão Wagner é movida por pragmatismo. Já Roberto Cláudio, que sofreu derrotas impactantes nas urnas e fora delas com as escolhas políticas desde 2022, resolveu dobrar a aposta.
O pragmatismo de Capitão Wagner
Nas semanas finais do primeiro turno, quando o candidato do PL passou o do União Brasil, o capitão adotou discurso agressivo e duro contra o ex e agora de novo aliado. Era uma tentativa de evitar a perda do voto de direita. Não deu certo. No último debate, Wagner surpreendeu com um pedido de desculpas. Quando Fernandes foi entrevistado pelo humorista Titela, Wagner já havia antecipado que apoiaria o candidato do PL na eventualidade de um segundo turno. “Se você for eu tô é dentro”, num aceno não retribuído. Dias depois, em entrevista na Band, perguntei a Wagner a esse respeito, e ele respondeu que considerava natural que esse campo de centro-direita se unir em um segundo turno.
Wagner perdeu o status de principal líder da direita cearense. Pelas críticas a Fernandes, desgastou-se bastante com esse campo. Porém, no momento em que o conservadorismo de Fortaleza enfrenta o PT em um segundo turno, se ele não se posiciona de forma decidida, poderia dar um adeus quase definitivo a esse eleitorado. Com a posição que tomou, o capitão se reaproximou de um público que já foi majoritariamente dele. Ocupa espaço e fala ao tradicional público.
Roberto Cláudio dobra a aposta
A posição de Roberto Cláudio tem natureza diferente. É motivada, o ex-prefeito deixou claro, pelo objetivo de derrotar o PT Elmano-camilista. Ciro Gomes (PDT) o respaldou, e comprou brigas no PDT. RC ficou muito desapontado com Camilo, e também com Cid Gomes (PSB), pela falta de apoio em 2022. Não só isso. A base do governo operou fortemente para derrubar os alicerces da candidatura de Roberto Cláudio a governador. Evandro Leitão teve protagonismo nisso. Arrastou a base de deputados estaduais, vários dos quais tinham sido a favor da candidatura de RC. Os prefeitos também mudaram de lado. A campanha pedetista até hoje denuncia ter havido uso ilegal da máquina e dos recursos estaduais. Convenhamos, qualquer um estaria irritado mesmo.
(O que eu não sei é se, para derrotar Eunício Oliveira em 2014 e eleger Camilo Santana, com ajuda de Roberto Cláudio, os métodos foram muito diferentes. Aliás, pergunta ao próprio Eunício o que acha que Ciro e Roberto fizeram para ele não ser reeleito senador em 2018, quando Eduardo Girão ficou com a vaga. Ou pergunta à Luizianne Lins o que acha da maneira como Roberto Cláudio foi eleito prefeito em 2012, contra Elmano. As reclamações não são nada de novo na Terra da Luz.)
Roberto Cláudio se projetou contra o PT, de quem sempre teve oposição em Fortaleza. Teve o voto de oposição aos petistas em 2012. Mas, ao se reeleger e fazer Sarto sucessor, em ambas contra Capitão Wagner, teve o voto progressista de Fortaleza, a quem conquistou pelos resultados da administração. Ciro e ele ocupam um lugar do progressismo não petista. Com a polarização, o espaço ficou apertado.
Roberto Cláudio poderia, como Wagner, acenar a um eleitorado com quem tem mais afinidade. Mas, pela temperatura política, não era crivel ele ou Ciro apoiando o PT. Pragmático para ele talvez fosse a neutralidade, opção de Sarto. Mas, quem fica neutro não ganha e às vezes perde do mesmo jeito — vide Ciro Gomes e a viagem a Paris no 2º turno de 2018. E, se abdica de uma posição, esvazia a própria capacidade de intervir no processo. O ex-prefeito tomou uma posição na contramão do eleitorado que era dele e, assim, trilhou o caminho pelo qual poderia fazer mais barulho.
Roberto Cláudio poderia ter feito composição com Izolda Cela em 2022 e não quis, poderia ter feito composição com o governo Elmano de Freitas em 2023 e rejeitou, poderia ter aceitado entendimento interno com Cid Gomes no PDT e bancou o embate. As decisões pavimentaram o caminho para 2024, no qual o partido sofreu uma derrota considerável. Em um ano e três meses, Roberto Cláudio perdeu muito espaço. Ao apoiar Fernandes, RC dobra a aposta.
Na manifestação de apoio, Wagner toma a decisão mais óbvia para ele e para o futuro político. Independentemente do desfecho, não me parece que corra risco político, que tenha algo a perder com qualquer resultado. Roberto Cláudio fez uma jogada de muito perigo para algo que ele preservou mesmo sem cargo: a imagem. Ele perdeu na eleição e pode perder ainda mais no segundo turno, mesmo que o candidato que apoia saia vitorioso. Na aposta, parece-me ter mais a perder que a ganhar. Não vislumbro que tenha ganho político muito além de ver os inimigos derrotados.
Talvez seja pouco, mas pode dar prazer, ainda que momentâneo.
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