Assembleia em sintonia com o governador, todo governador
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Assembleia em sintonia com o governador, todo governador
Desde a redemocratização, até houve presidente da Assembleia que rompe com o governador, mas desconheço ter havido algum nesse período eleito sem apoio do Poder Executivo
O governador Elmano de Freitas (PT) deixa para Fernando Santana (PT) a responsabilidade de se viabilizar para presidente da Assembleia Legislativa — com a "carta de recomendação" de quem tem a simpatia do Palácio. Elmano afirmou acreditar que Fernando tem bastante apoio e considera a questão bem encaminhada, mas afirma que não irá se envolver demais. Convém ser assim. São poderes diferentes que trabalham juntos, mas não é positivo que um seja escritório de despachos do outro. É fato, porém, que o histórico é de muita sintonia.
Hoje presidente da Assembleia, o prefeito Evandro Leitão (PT), em entrevista às Páginas Azuis do O POVO, publicada semana passada, defendeu o alinhamento. “Eu aprendi na minha vida que quem preside uma casa legislativa tem de estar alinhado com o prefeito, ou o governador. Se uma câmara municipal, tem de ser alinhado com o prefeito. Se é uma assembleia legislativa, tem de estar alinhado com o governador”.
De fato, nem sei qual a última vez que houve um presidente da Assembleia eleito sem apoio do governador. Desde a ditadura não houve nenhum. Até houve rompimentos. Antônio Câmara (PMDB), em 1987, e Welington Landim, em 1999 e e, 2001, foram eleitos com o apoio do governador na época. Em ambos os casos era Tasso Jereissati (PSDB). Brigaram feio, houve crises. Mas, haviam sido apoiados, em princípio, pelo chefe do Poder Executivo.
A escolha de Fernando Santana
A escolha de Fernando Santana para presidente da Assembleia Legislativa partiu do governador Elmano de Freitas, não do ministro Camilo Santana (PT), conta-se nos bastidores.
Elmano diz que, na verdade, Fernando o procurou e recebeu a bênção para se viabilizar. Às vezes, na política, alguém é escolhido para agradar a um cacique. Não precisa nem fazer a indicação.
De todo modo, para a segunda e decisiva metade do mandato de Elmano, é considerado crucial ter alguém da confiança dele. A presidência da Assembleia é hoje muito mais importante para o governador que para o ministro da Educação.
Fernando, apesar disso, é mais próximo e identificado com Camilo que com Elmano. O Santana não é o mesmo. O vínculo familiar entre eles é de concunhados. O deputado é casado com a irmã de Onélia Santana, casada com Camilo.
O poder que Cid Gomes teve
Comentei ontem sobre o modo petista de fazer política, em comparação ao de Cid Gomes (PSB) e Tasso Jereissati (PSDB). Mencionei que, por mais que se chamasse os Ferreira Gomes de grupo oligárquico, o poder não era tão concentrado em um partido, como fora com o PSDB e como começa a ser com o PT. No período em que Cid foi governador, nenhum senador foi eleito pelo partido dele. Nos primeiros quatro anos, a Assembleia Legislativa era do aliado PMDB. Durante seis dos oito anos, o PT tinha a Prefeitura de Fortaleza. Em cinco dos oito, o partido com mais prefeitos foi o PSDB.
Porém, vale ressaltar que, nos últimos dois anos de Cid, o PSB — então partido dele, ao qual retornou este ano — tinha governador, prefeito de Fortaleza e presidente da Assembleia. Não tinha presidente, mas tentou eleger Ciro Gomes algumas vezes, por vezes não se viabilizando nem candidato.
Pode-se argumentar que Cid não tinha o plano de lançar alguém do próprio partido quando Roberto Cláudio foi eleito prefeito. Ele queria apoiar um petista, mas que fosse ao gosto dele. A então prefeita Luizianne Lins decidiu que lançaria Elmano de Freitas, e o PSB foi para a disputa. Bem, mas há o contra-argumento de que Camilo não queria lançar Elmano em 2022, mas a na época pedetista Izolda Cela. O PDT preferiu Roberto Cláudio. O mundo dá voltas.
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