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Evandro: "Tenho estilo completamente diferente dos prefeitos que passaram"
Reportagem Seriada

Evandro: "Tenho estilo completamente diferente dos prefeitos que passaram"

Prefeito eleito de Fortaleza fala sobre princípios que quer levar para a administração, aponta a autonomia das regionais como principal mudança na gestão e indica que quer presidente da Câmara Municipal sintonizado com ele

Evandro: "Tenho estilo completamente diferente dos prefeitos que passaram"

Prefeito eleito de Fortaleza fala sobre princípios que quer levar para a administração, aponta a autonomia das regionais como principal mudança na gestão e indica que quer presidente da Câmara Municipal sintonizado com ele
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A família do próximo prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), tem raízes no Piauí. Tanto por parte de pai quanto de mãe. Avós, tios, pai e mãe são todos piauienses. Em Picos, no centro-sul piauiense, estão raízes políticas do prefeito eleito.

O bisavô de Evandro, coronel Joaquim das Chagas Leitão, foi prefeito do Municípío na virada do século XX. Na época, o cargo era chamado de intendente e Joaquim ocupou entre 1900 e 1902.

Hélio das Chagas Leitão, filho de Joaquim e avô de Evandro, foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Piauí. Na linhagem estão os dois mandatos da trajetória de Evandro até hoje: um prefeito e um deputado estadual. Hélio se elegeu em 1946, pela UDN, e teve dois mandatos.

Ao não conseguir se reeleger para o terceiro mandato — algo que Evandro conquistou em 2022 — Hélio se afastou da política. Dedicou-se ao comércio e se mudou para Fortaleza. Hélio Leitão é nome de rua e colégio em Picos, e é patrono da cadeira número 18 da Academia de Letras da Região de Picos.

Oriundo de família piauiense, Evandro Leitão é de uma linhagem de políticos(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Oriundo de família piauiense, Evandro Leitão é de uma linhagem de políticos

A geração de Evandro inaugura o ramo cearense, ao qual quase toda a família desde então pertence. Os pais casaram, muito jovens, em Fortaleza. Evandro é filho de Silvia Barreto Leitão e Wellington Rocha Leitão.

O prefeito eleito ingressou na Secretaria da Fazenda e foi morar no Interior. Passou pela Região dos Inhamuns — na divisa com o Pìauí. Viveu em Crateús, que já foi Piauí, e também em Novo Oriente, Independência, Monsenhor Tabosa. Retornou à cidade natal, Fortaleza, em 1997. 

Na segunda metade da década de 2000, ele ingressou no Ceará Sporting Club como dirigente esportivo. Tornou-se personalidade pública, numa rota que fez dele deputado e o levou à Prefeitura.

Em conversa com O POVO dias após eleito, Evandro fala sobre ideias para a cidade, a gestão pública, a política e a visão para o futuro de Fortaleza. Trata também da trajetória, desde a família até a passagem pelo futebol — algo que ecoou na campanha e chegou a maltratá-lo. 

 

 

O POVO - O senhor acompanhou a apuração de casa (perto da avenida Santos Dumont). Quando saiu o resultado, foi lá para o comitê primeiro da Washington Soares, depois foi para Avenida da Universidade. Como foram esses primeiros percursos depois de estar escolhido prefeito de Fortaleza. Passou, é verdade, por uma parte privilegiada. Mas, como foi olhar para a cidade pela primeira vez pensando que agora será o responsável por cuidar dela?

Evandro Leitão - Na realidade, está caindo a ficha agora. No domingo, a gente fica, assim, num estado de êxtase, né? E ontem (terça-feira), desde segunda-feira também, dando entrevistas. E hoje (quarta-feira, passada, 30 de outubro, data da entrevista) é que eu tá caindo a ficha, é que eu tô andando nos cantos e as pessoas reconhecendo, tirando foto. Mas assim, eu tô, primeiro, muito tranquilo da responsabilidade. Sempre na minha vida, em todos os desafios que eu me envolvi, eu sempre tive os pés muito no chão.

O prefeito eleito de Fortaleza enfrentou uma maratona de entrevistas ao longo da semana para veículos locais e nacionais(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES O prefeito eleito de Fortaleza enfrentou uma maratona de entrevistas ao longo da semana para veículos locais e nacionais

A gente tem de ter, antes de mais nada, o preparo, a consciência da responsabilidade, mas também tem de ter a humildade de saber escutar, de saber ouvir e saber que a gente não é dono da verdade. E a política, o poder, ele tem muitas tentações. E essas tentações, a gente tem de estar se policiando a toda hora, todo momento, para que não nos faça desvirtuar a nossa essência e é isso que eu peço sempre a Deus.

Então assim, tá caindo a ficha agora. Eu tô tranquilo, aliviado. Aliviado. Eu estou num ritmo alucinante há aproximadamente dez meses. Processo interno dentro do Partido dos Trabalhadores, depois numa pré-campanha, depois numa campanha. Tô com 10 meses rodando essa cidade diariamente. São 10 meses. Não é fácil e esse ritmo termina nos dando um cansaço físico e mental muito grande e agora eu vou descansar um pouco. Mas, tenho muita tranquilidade e compreensão de que a responsabilidade é muito grande, mas eu estou pronto. E naquilo que eu não tô pronto, Deus vai me preparar.

OP - Desde a discussão interna do PT sobre quem seria candidato, o senhor dizia que não era uma questão pessoal, mas uma questão do projeto que representa. Qual a visão desse projeto para a cidade? Eu conheço como o projeto está em execução do Estado, sei qual o projeto político. Mas, qual a visão de cidade?

Evandro - Vamos lá. Eu vou diferenciar dando exemplos. O projeto que eu faço parte é a favor do Minha Casa, Minha Vida, do Mais Médicos, do Farmácia Popular, das escolas de tempo integral, do fortalecimento do Sistema Único de Saúde, de olhar para aquele que mais precisa no Programa Ceará sem Fome, Programa Mais Nutrição e tantos outros. Eu faço parte de um projeto que olha para o mais vulnerável, que olha para aquele que mais precisa, que olha para aquele que está mais fragilizado. O projeto que, em um ano e nove meses, retirou 600 mil pessoas da linha da extrema pobreza, que foi o atual governador, juntamente com o governo federal. Nós tínhamos um outro projeto que não acredita no Sistema Único de Saúde, que a intenção era privatizar a educação, educação pública ser esvaziada e sendo privatizada.

O outro projeto, que negava a ciência. O outro projeto, de arrogância, de prepotência. O outro projeto, que centralizava os investimentos da cidade numa área mais rica, mais nobre da cidade. O nosso é justamente o oposto, antagônico. Essas são as grandes diferenças. Nosso nome veio não foi de uma forma imposta.

Nosso nome foi escolhido de maneira muito tranquila, ouvindo as nossas bases, do Partido dos Trabalhadores, com participação dos nossos filiados, participação do partido como todo. E depois ouvindo o amplo arco de aliança de que nós fazemos parte. É uma construção. Política não se faz com imposição, política se faz com construção, desde a escolha de um nome e agora, sobretudo, na gestão. Olhar para todo mundo, olhar para aqueles que estiveram com você, que estão com você. E dar oportunidade para as pessoas. Todo mundo quer ter oportunidade para trabalhar, mostrar os seus trabalhos. Os vereadores, líderes comunitários. Para isso que nós nos propusemos desde o início. Essas sim são as grandes diferenças.

"Eu não vejo uma Prefeitura onde as regionais não tenham autonomia, como hoje não têm. Para trocar uma luminária, fazer uma capinação, uma pavimentação, nenhum desses secretários dessas regionais tem autonomia"

 

OP - Como esse projeto se traduz para a cidade? Além das ações que já estão no Estado, no Governo Federal. O que a gente verá mais perto, no espaço urbano?

Evandro - Vocês verão um prefeito muito presente na cidade, nas comunidades, nos bairros. Vocês verão um prefeito que escutará e que irá definir as prioridades com participação popular, com participação nos bairros. Vocês verão um prefeito que irá descentralizar todos os investimentos da cidade. Desde um evento como um Réveillon, passando pelos investimentos estruturais, de infraestrutura. Um prefeito que irá ver os problemas crônicos na cidade, como a população em situação de rua.

Vocês verão um prefeito que fará a inclusão de todos que fazem a sociedade, desde as PCDs (pessoas com deficiência), negros, mulheres, como, enfim, qualquer tipo de crença e orientação sexual. Esse será meu estilo, essa será minha marca, a presença e o diálogo. Na questão propriamente da gestão, eu não vejo uma Prefeitura onde as regionais não tenham autonomia, como hoje não têm. Para trocar uma luminária, fazer uma capinação, uma pavimentação, nenhum desses secretários dessas regionais tem autonomia. Eu tenho um estilo completamente diferente. Eu irei descentralizar, dando autonomia com cobrança. Mas dar autonomia às pessoas.

OP - Na gestão, deve ser a principal diferença?

Evandro - Dentre outras, sim.

"Eu tenho um estilo completamente diferente dos prefeitos que passaram, não só os dois do PDT, mas como outros que passaram"

 

OP - Quem está na Prefeitura hoje é o PDT, partido ao qual um ano atrás o senhor estava filiado. Sua gestão será mesmo tão diferente do que a gente viu com Roberto Cláudio e agora com o Sarto?

Evandro - São estilos diferentes, de pessoas diferentes. Eu tenho um estilo completamente diferente dos prefeitos que passaram, não só os dois do PDT, mas como outros que passaram. Então eu tenho a minha identidade, minha personalidade, minhas características. Não que eu seja melhor ou pior do que ninguém. É que cada um com suas características, cada um da sua maneira de ser.

"Eu estarei nas ruas, eu estarei nos bairros, eu estarei escutando as pessoas. Essa será minha grande marca, esse será o meu grande diferencial"

 

OP - O que o senhor pode falar mais desse estilo que a gente vai perceber como prefeito?

Evandro - É isso que eu falei agora há pouco. Muito a população reclamava do abandono da cidade. Eu não estarei dentro de gabinetes, fazendo a gestão da cidade dentro de gabinetes. Pelo contrário, eu estarei nas ruas, eu estarei nos bairros, eu estarei escutando as pessoas. Essa será minha grande marca, esse será o meu grande diferencial. Claro que eu vou ter uma equipe que vai me dar o respaldo para que eu possa estar nas ruas. Uma equipe capacitada, eficiente, uma equipe que tenha sensibilidade para a gente tomar as decisões sempre ouvindo a população.

Evandro Leitão conversou com o jornalista Érico Firmo, editor-chefe de Política do O POVO(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Evandro Leitão conversou com o jornalista Érico Firmo, editor-chefe de Política do O POVO

OP - Do ano passado para cá, houve muito atrito entre Prefeitura e Governo do Estado. Governador Elmano já disse que essa época acabou. Agora o mesmo projeto está no governo federal, estadual e municipal. O morador de Fortaleza, qualquer problema de ordem pública, ele vai culpar o mesmo time. Estão preparados para isso?

Evandro - Estamos preparados, temos essa compreensão. Durante a campanha foi o que mais nós dissemos, a importância que tem o alinhamento do governo federal, o estadual e a prefeitura. E para isso a gente está preparado. Sabemos que são muitos desafios, mas estamos preparados para fazer gestão dessa cidade de forma integrada com a população e com os demais entes.

OP - O senhor falou após a eleição em unir a cidade. Houve 705.295 pessoas que não votaram no senhor. O senhor está pronto para o tamanho dessa cobrança, o tamanho desse eleitorado que estará com olhar muito crítico? Como o senhor pretende dialogar com esse eleitor do André Fernandes?

Evandro - Eu não tenho nenhuma dificuldade. Para quem já foi líder do governo quando, de 46 deputados, nós tínhamos 17 na oposição e eu nunca tive uma dificuldade em conviver, nunca tive nenhuma dificuldade de aprovar mensagens, projetos de lei para a população. Não vai ser diferente. Eu irei procurar os vereadores. Nós já temos a maioria, temos 23 vereadores dos 43, mas é importante que a gente agora olhe para frente, unificando essa cidade.

A eleição passou e o que é importante agora, primeiro, nós estamos com temos o mesmo objetivo, fazer desta uma cidade onde os serviços funcionem. O serviço de saúde funcione, que tem uma educação de qualidade, tem infraestrutura de qualidade, infraestrutura habitacional de qualidade, infraestrutura de pavimentos de qualidade. Que nós possamos respeitar o meio ambiente. Para tudo isso é importante que a gente possa envolver a população.

Eu não vou governar somente para os 716.133 eleitores que nós tivemos. Eu vou governar para os dois milhões e meio de pessoas que vivem nessa cidade. Não posso pegar o título de eleitor, ir atrás dos 716 mil eleitores que votaram em mim. Eu tenho que agora esquecer a eleição e pensar na nossa cidade, pensar no nosso futuro. Pensar numa cidade que a gente possa se orgulhar. A quarta maior capital do país, eu não posso me orgulhar por ser o maior PIB do Nordeste, mas ter uma cidade tão desigual, com tantos contrastes sociais.

De que adianta ter o maior PIB do Nordeste e ter desigualdades sociais enormes. São 10 mil pessoas em situação de rua. Tem aí tantas pessoas que não têm uma moradia ou têm moradia precária. De ter uma uma saúde que não funciona, de uma pessoa sair de casa 5, 6 horas da manhã, chegar ao posto de saúde e não ser atendida. De ter 10 mil crianças em fila aguardando vaga numa creche. Eu tenho de governar para todos os fortalezenses, para todos e todas os fortalezenses.

É com esse sentimento de unificação, pela proximidade de políticas públicas efetivas. Não adianta estar dialogando sem implementar a política pública. Nós temos de dialogar, escutar e construir verdadeiramente políticas públicas para os fortalezenses.

Mesmo depois de uma jornada estafante para se eleger prefeito, Evandro Leitão conseguia manter o pique bem humorado(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Mesmo depois de uma jornada estafante para se eleger prefeito, Evandro Leitão conseguia manter o pique bem humorado

OP - A gente conhece a trajetória do senhor depois que se tornou presidente do Ceará. Quero entender o que veio antes. O senhor é filho do professor Wellington Leitão, que foi diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, defensor público. Que tipo de visão de política, de Estado o senhor traz dele?

Evandro - (Suspiro). Meu avô (Hélio das Chagas Leitão) foi deputado estadual no Estado do Piauí. Meu pai era uma pessoa muito séria, buscava muito a justiça social. Extremamente generoso. Nunca se envolveu na política, mas uma pessoa extremamente generosa e sempre nos passou valores de compromisso com o que a gente fala, o que a gente diz. Valores de respeito ao ser humano, respeito ao outro. Que o meu direito finaliza a partir do momento em que inicia o do outro. E isso é muito presente na minha vida.

Claro que a gente erra, a gente é ser humano, o ser humano não tem como não errar, mas nunca de forma deliberada, nunca de forma proposital. Eu não consigo eu não consigo ver uma sociedade onde as pessoas têm maldade no coração. Não é que não é que eu seja bobo, mas eu prefiro ser puro, não ver maldade nas pessoas, do que eu estar rotulando todo mundo, todas as pessoas que se aproximam estar rotulando como sejam pessoas que querem se aproveitar. Eu prefiro ter mais pureza na minha alma. Foi isso que meu pai me passou.

OP - Então sua raiz política é piauiense?

Evandro - Minha família toda é piauiense, tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. Avô, avó, meus tios, meu pai, minha mãe são todos piauienses. Minha geração para baixo é que é toda cearense. Meu avô e minha avó vieram embora para Fortaleza. Meus pais casaram, meu pai tinha 19 anos e minha mãe tinha 16 anos. E daí os filhos todos nascidos aqui no Ceará, os netos, aí todos já são cearenses. E minha família toda também saiu do Piauí. Tem uma parte ainda lá, mas a grande maioria veio embora.

OP - Antes da presidência do Ceará, de se filiar ao PDT, qual era a sua relação com política?

Evandro - Eu primeiro participei no colégio de grêmio estudantil. Depois já em faculdade, eu participei do centro acadêmico (CA). Depois que entrei na Secretaria da Fazenda (Sefaz), eu fui morar no interior, em Crateús. Rodei os Inhamuns. Morei em Crateús, em Novo Oriente, Independência, em Monsenhor Tabosa, em todas essas cidades eu morei. Em Crateús, especificamente, eu implantei um projeto social. Retornei para Fortaleza em 1997, se eu não me engano.

Em 2004, eu implantei um projeto social também aqui em Fortaleza, lá na Lagoa Redonda. Em 2006, eu entrei no Ceará Sporting Club como dirigente e fiquei como dirigente até o fim de 2015. E saí do Ceará. Fiquei no conselho deliberativo, mas da executiva eu saí. Em 2010, eu fui pela primeira vez candidato a deputado estadual, fiquei na suplência. Em 2011, assumi a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social, na época do governador Cid Gomes e fiquei até o fim de 2013, quando o governador, todos os secretários que iriam se candidatar no ano seguinte, ele tirou um ano antes.

Em 2014 fui candidato e aí fui eleito, em 2015 assumi, fui convidado pelo governador Camilo (Santana) para assumir a liderança do governo. Assumi a liderança do governo em 2015, 2016, 2017, 2018. Aí, em 2018 fui reconduzindo, 2019 assumi a primeira secretaria da Assembleia, em 2019 e 2020, e 2021 fui eleito presidente 2021. Aí tô até o dia de hoje. Em 2022, fui reconduzido novamente a deputado estadual. Essa é mais ou menos a minha trajetória.

Pacientemente, o prefeito eleito Evandro Leitão posou para as imagens do repórter fotográfico Aurélio Alves(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Pacientemente, o prefeito eleito Evandro Leitão posou para as imagens do repórter fotográfico Aurélio Alves

OP - O senhor foi colega do Camilo como secretário e colega do Elmano como deputado, chegaram juntos à Assembleia. Como era a relação de vocês?

Evandro - Com o Camilo não tinha relação, como secretário, de proximidade. Relação um tanto quanto distante. Respeitava, tinha uma boa relação, mas, como secretário, o via nas reuniões de Mapp (Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários) que o governador fazia, mas nunca tive relação de proximidade com o Camilo. Vim a ter quando ele foi eleito governador e, inclusive para minha surpresa, ele me convidou para ser líder do governo. Foi aí que eu me aproximei e nós iniciamos uma relação de muita cumplicidade, de muita proximidade, de amizade.

Com o Elmano, não. Nós entramos juntos em 2015 e com ele eu sempre tive uma relação que transcendia a relação política, tinha uma relação de amizade. Nós construímos isso ao longo dos oito anos de deputado que nós tivemos juntos, de 2015 até o final de 2022, tivemos uma relação de amizade mesmo, amizade até hoje. Tem um respeito, antes de ser governador, pelo ser humano, pelo seu comportamento, pela sua decência, como cidadão que é.

OP - O senhor falou do seu estilo. Do presidente do Ceará para o presidente da Assembleia houve uma mudança de estilo.

Evandro - Primeiro, o amadurecimento, né? A gente amadurece. O tempo vai passando, você vai amadurecendo. A visão de mundo também, você muda. Você não muda sua essência, mas visão de mundo muda também. Quando você tem certa idade, valoriza muito determinadas coisas. Quando o tempo vai passando, essas coisas que até então valorizava, você não valoriza mais, você vai mudando. Chega o amadurecimento, chega a idade, as coisas vão mudando naturalmente e isso aconteceu comigo. E o preparo também. Preparo de vida, de mundo.

O parlamento me deu essa condição de exercer muito o equilíbrio, a resiliência. Você muitas vezes se cala para evitar um conflito. Muitas vezes até você vê que está com a razão, mas eu sou uma pessoa que chego a pedir desculpas mesmo muitas vezes com a razão. Isso aí o tempo vai vai mostrando que é o senhor a razão. Nada melhor que o tempo para ir acomodando pessoas e acomodando pensamentos e ideias que você valoriza de acordo com as etapas de vida.



OP - O senhor temeu perder a eleição por causa da torcida do Fortaleza?

Evandro - Não, sobre isso não. Eu levava em consideração que eu poderia perder, porque quando você entra numa disputa, não só tem um resultado. Não só tem a possibilidade de você ganhar. Tem a possibilidade de você ganhar, mas também tem a possibilidade de você perder. Em nenhum momento, sobre essa questão do futebol, eu temi, até porque nós tínhamos pesquisas e as pesquisas indicavam que a influência do futebol era praticamente zero. Eu considerava que poderia haver uma derrota, mas não por isso.

OP - Teve a nota do conselho deliberativo do Fortaleza dizendo que o senhor prejudicou o Fortaleza no passado e provavelmente perseguiria no futuro. O que o senhor diz sobre isso?

Evandro - Isso me maltratou, porque eu, como dirigente esportivo, tinha um perfil. E eu compreendo que esse perfil, teve momentos que eu maltratei a torcida do Fortaleza, certo? Mas o meu momento no futebol passou. Eu não sou mais dirigente esportivo. Eu vou ser prefeito da quarta maior cidade do país, eu vou ser prefeito de todos os desportistas e de todas as torcidas. Eu tenho uma relação de respeito ao CEO do Fortaleza, Marcelo Paz. Inclusive, conversei com ele durante a campanha, dizendo que ele podia ficar tranquilo que eu jamais iria tomar qualquer tipo de atitude se não fosse de forma respeitosa e jamais, jamais tendo como variável o componente da paixão.

Primeiro que eu não fiz absolutamente nenhum movimento, deliberado. Eu me recordo que era no dia do aniversário do Fortaleza e em nenhum momento eu fiz algo de forma deliberada para conturbar o ambiente. No caso era o Popó, que é um dos líderes da TUF, quem me procurou. Ele é suplente de vereador, ele votava em mim e estava numa situação para publicizar, manifestar-se política e publicamente. Eu me chateei com aquela situação, porque não foi razoável. Aquela nota não foi razoável, mas eu entendo, eu compreendo, mas não concordo e não achei que foi razoável.

Compreendo porque, como eu já vivi o mundo do futebol, o universo do futebol, eu sei como é, eu conheço o universo do futebol profundamente. Foram 10 anos da minha vida, compreendo demais, mas para mim foi não foi razoável. Foi algo que, na hora ali, eu fiquei fiquei chateado, mas já superei e bola para frente.

Até a data da entrevista, na quarta-feira, 30/10, o prefeito eleito não conversado com o prefeito José Sarto(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Até a data da entrevista, na quarta-feira, 30/10, o prefeito eleito não conversado com o prefeito José Sarto

OP - A política aproxima e distancia as pessoas. Em particular a situação do PDT desde 2022. O André Figueiredo foi uma pessoa importante para a entrada do senhor na política, vocês se distanciaram e se reaproximaram. O Roberto Cláudio é alguém que já foi próximo do senhor também. Como o senhor lida com essas aproximações e distanciamentos?

Evandro - De forma muito tranquila. É natural, é normal. Nunca faltou o meu respeito para com nenhuma dessas duas pessoas, nunca faltou o meu respeito. São pessoas que a gente teve proximidade, a gente teve relação, sobretudo o André, que é um cara que eu comecei minha vida pública com ele. Ele que me colocou na vida pública partidária.

Realmente, eu lamentava. Nós tínhamos relações entre nossas famílias, a esposa dele com minha esposa. E nós nos afastamos. Para minha felicidade, ele, quando declarou o apoio à minha candidatura no segundo turno, eu fiquei muito feliz por diversos motivos, inclusive dos laços que nós temos.

OP - O senhor, antes dos dias de descanso que vai tirar, já deixa encaminhado os trabalhos de transição?

Evandro - É o que eu pretendo. Estou na dependência do prefeito (José Sarto), mas é o que eu pretendo. Nesses próximos dias, a partir, se possível, de segunda-feira, claro, na dependência do prefeito, a equipe de transição inicie já os trabalhos. Até porque segunda-feira será dia 4 de novembro. Acho que durante um mês, pelo menos, acho que é importante a gente já ter um início, um retrato diagnóstico da Prefeitura.

Em seu discurso, Evandro tem reforçado que, passada a eleição, o objetivo de todos deve ser o mesmo: fazer uma cidade onde os serviços funcionem(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Em seu discurso, Evandro tem reforçado que, passada a eleição, o objetivo de todos deve ser o mesmo: fazer uma cidade onde os serviços funcionem

OP - Quem o senhor pode dizer que vai estar à frente desses trabalhos?

Evandro - Ah, não posso ainda dizer, até porque eu estou vinculado à resposta que ele (Sarto) vai me dar. Na hora que a gente anuncia a equipe de transição, já se cria expectativa de que essa equipe de transição seja secretário do Município e eu não quero adiantar para não criar nenhuma expectativa. Só quero dizer que a minha vice-prefeita (Gabriella Aguiar), eu quero que ela esteja na equipe de transição. Isso eu posso adiantar.

OP - O senhor vai aproveitar ideias de adversários na campanha para a gestão?

Evandro - Não tenho nenhuma dificuldade, não tenho nenhum problema. Eu vou avaliar o que os adversários falaram. Aliás, muito do que foi falado, a gente já tinha apresentado. Parceria com as clínicas populares já está no nosso programa, a extensão do passe livre estudantil, eu anunciei e eles também anunciaram. Enfim, eu não tenho nenhuma dificuldade. Repito, nós seremos o prefeito de todos os fortalezenses. Não tenho nenhuma dificuldade em aproveitar qualquer coisa que eu acho que seja importante, que seja benéfica para a cidade, de algum adversário. Até porque não são meus inimigos. São adversários, mas não são inimigos.

"Quem preside uma casa legislativa tem de estar alinhado com o prefeito, ou o governador. Se uma câmara municipal, tem de ser alinhado com o prefeito. Se é uma assembleia legislativa, tem de estar alinhado com o governador"

 

OP - O senhor está numa cadeira de presidente da Assembleia, e os três últimos prefeitos saíram de lá. O senhor já tem o nome para quem acha que pode ser um bom sucessor.

Evandro - Ah, eu acho que isso aí, eu aprendi na minha vida que quem preside uma casa legislativa tem de estar alinhado com o prefeito, ou o governador. Se uma câmara municipal, tem de ser alinhado com o prefeito. Se é uma assembleia legislativa, tem de estar alinhado com o governador. Eu acho que isso é uma prerrogativa não minha.

Se porventura eu for perguntado, se eu for provocado eu darei minha opinião, mas eu acho que essa é uma prerrogativa do governador do Estado, o governador Elmano, porque a relação será com ele. Ele é quem tem de fazer essa escolha, até porque serão os dois últimos anos do seu primeiro mandato, se Deus quiser. Então acho que ele é quem tem de ter essa essa compreensão daquele que for o melhor. Mas, não me furtarei, se for provocado, de dar minha opinião.

OP - A eleição é agora em dezembro ainda?

Evandro - Me parece que sim, que seja em dezembro, me parece que a eleição da Assembleia é em dezembro.

OP - O senhor vota ainda?

Evandro - Sim, se for em dezembro eu irei participar, porque o meu mandato vai até 31 de dezembro. Em 31 de dezembro, eu tenho de renunciar, para assumir a partir de 1º de janeiro.

"Eu acho que Câmara Municipal, o presidente da Câmara tem de estar alinhado com o prefeito. Tem de ser uma pessoa da confiança do prefeito"

 

OP - A sua resposta já dá uma sinalização sobre Câmara Municipal.

Evandro - Sim, eu não penso diferente. Eu acho que Câmara Municipal, o presidente da Câmara tem de estar alinhado com o prefeito. Tem de ser uma pessoa da confiança do prefeito. O que eu penso não será diferente na Câmara. Mas, antes de você me perguntar...

OP - (Risos).

Evandro - Só irei pensar nisso depois do meu retorno do meu descanso. Aí eu vou pensar em Câmara, vou pensar em secretariado. Enfim, é que eu vou efetivamente pensar em buscar os vereadores para conversar, que são e serão importantes. Somente depois, quando eu voltar. Não tenho nenhum nome para secretário, absolutamente nenhum nome, e realmente não tenho mesmo.

"A Gabriella (Aguiar), ela eu quero aproveitar na gestão. Quero aproveitá-la como secretária do Município de Fortaleza"

 

OP - Nem a Gabriella?

Evandro - A Gabriella, ela eu quero aproveitar na gestão. Eu vou bater um papo com ela para ver onde ela melhor se encaixará, mas eu quero aproveitá-la como secretária do Município de Fortaleza. Agora onde eu ainda vou conversar com ela. Desde domingo que eu não converso com ela. Eu vou ligar para ela para que a gente possa sentar. Mas depois desse descanso que eu terei, assim com ela também, que ela também deve estar muito cansada, porque foram uns 80 dias muito intensos para ela, ela grávida e no primeiro turno participando de praticamente todas as atividades. Ela participou. Teve a criança, a Sara, na sexta-feira anterior ao primeiro turno primeiro turno, no dia 4 de outubro. No segundo turno, com uma semana depois ela já estava nas atividades. Então ela deve também estar muito cansada e vamos dar tempo ao tempo.

Evandro diz que sempre teve uma relação que transcendia a política com o governador Elmano de Freitas: uma relação de amizade(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Evandro diz que sempre teve uma relação que transcendia a política com o governador Elmano de Freitas: uma relação de amizade

OP - Tanto Câmara como Assembleia, o senhor acha que tem problema o PT ficar com a vaga? Já tem Prefeitura, já tem governo. Ou isso não é uma questão?

Evandro - Eu não vou, eu não quero me ater a isso, porque ficar criando qualquer tipo de... Se eu digo que não tem problema, já estou dando indicativo que pode ser alguém no PT. Eu volto a dizer, eu acho que presidente de uma casa legislativa tem de ser algo que parta do prefeito. Obviamente dialogado, é sempre importante dialogar com os partidos aliados e não se faz nada sozinho. Não vai conseguir fazer uma gestão de uma câmara municipal se você não tiver os aliados. Fazendo amplo diálogo com os aliados para que a gente possa chegar a um denominador de um nome.

OP - O senhor já pensou como vai comemorar os 300 anos de Fortaleza, em 2026?

Evandro - Não, ainda não (risos). Eu vou conversar com os meus universitários para que a gente possa fazer uma grande festa. Mas uma festa para toda Fortaleza. Essa coisa de fazer festa apenas na Beira Mar, na minha gestão, vai acabar. Nós vamos fazer na Beira Mar, mas nós vamos também fazer nos bairros.

"Quando eu acabar meus quatro anos, se eu conseguir ter uma sociedade mais inclusiva, menos desigual, uma sociedade onde a população Fortaleza possa estar satisfeita com os serviços públicos que nós iremos prestar, para mim, eu vou estar muito feliz"

 

OP - Quando o senhor encerrar seu mandato, o que gostaria de ouvir sobre a gestão na Prefeitura? O que quer deixar como marca?

Evandro - Quando me perguntam quais são minhas prioridades, minha prioridade à frente da Prefeitura, eu digo que minha meta, meu objetivo vai ser reduzir as desigualdades sociais. Mas isso é uma coisa muito abstrata. Reduzir as desigualdades sociais sim, mas nós temos uma busca incessante pela paz. Nós seres humanos. Essa busca pela paz se dá sobretudo pela justiça social. Na hora em que a gente tem uma sociedade menos desigual, com mais justiça social, e essa justiça social se dá pelo acesso às políticas públicas. Uma saúde que respeite a população, com médicos, com remédios. Hoje 80% da população fortalezense utiliza o Sistema Único de Saúde.

Se você não tem uma saúde de qualidade, essas pessoas não vão estar felizes. Quando você busca o posto de saúde, o hospital, um equipamento de saúde, é porque você está precisando. E quando você busca, necessita e você não tem, isso dá uma frustração muito grande. Quando busca vaga para uma filho numa creche e você não tem, quando você não tem uma educação de qualidade, quando você não tem uma cidade que dê oportunidade para as pessoas, para a juventude, para as mulheres, para os empreendedores.

Então, eu irei buscar incessantemente a redução das desigualdades sociais. Quando eu acabar meus quatro anos, se eu conseguir ter uma sociedade mais inclusiva, menos desigual, uma sociedade onde a população Fortaleza possa estar satisfeita com os serviços públicos que nós iremos prestar, para mim, eu vou estar muito feliz.

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