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Romper hoje não é tão simples como foi no passado
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Romper hoje não é tão simples como foi no passado

As regras atuais para o funcionamento de partidos políticos dificulta o jogo que Cid Gomes sempre fez
Tipo Opinião
SENADOR Cid Gomes: mudar de partido está mais difícil (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES SENADOR Cid Gomes: mudar de partido está mais difícil

Desde o fim de semana foi um festival de especulações sobre o futuro político de Cid Gomes. Presidente estadual do partido, o PSB, Eudoro Santana disse que o senador falou que irá ficar no partido.

Eudoro é personagem interessante desse processo porque, além de dirigente partidário, ele é pai do ministro Camilo Santana (PT). Arrisco-me a dizer sem muito receio que ele é mais pai do que dirigente.

Enfim, Cid vai ficando, mas só até quando não ficar mais. Começou assim também no PDT. Ele dizia que não queria sair. Queria era ser presidente estadual. Tradução: não queria mudar de partido, mas mudar a posição do partido. Não conseguiu, ou conseguiu mais ou menos, mais para menos do que para mais. E acabou saindo.

Cid mudar de partido, há de se considerar, não é uma operação tão simples assim. Vide o processo de ida para o PSB. Foi preciso encontrar uma legenda que já estava terra arrasada, pois o grupo é numeroso demais.

Na época, houve aceno para Cid ir para o PT. Partiu do próprio presidente Lula. Não deu certo por um problema simples: tem muito petista que disputa com o PSB nas prefeituras. Nas eleições deste ano, foram 42 confrontos, o partido de Cid passou a retroescavadeira: venceu em 29 e o PT em 11 — houve dois municípios em que venceu um terceiro partido.

As regras atuais para o funcionamento de partidos políticos — com desempenho mínimo exigido para ter fundo partidário, tempo de rádio e televisão e participação em debates — restringe muito a quantidade de partidos. A formação de federações torna o mercado ainda mais limitado. São poucas alternativas competitivas.

Cid — assim como muitos outros políticos no Brasil — fez política por muito tempo pulando de um partido para outro se as condições se tornavam desfavoráveis, quando faltava espaço ou se a legenda ia numa direção da qual discordava. Nas atuais condições, manter esse jogo está cada vez mais difícil.

Pau que dá em Chico dá em Francisco

A dificuldade em compor nos municípios não é obstáculo só para Cid. Ninguém acha que as dezenas de prefeitos — maior parte deles em municípios bem pequenos — irão para a oposição ao Governo do Estado. Porém, na eventualidade de o PSB romper, não é simples acomodar essa turma. Como mencionei, no PT eles já não couberam antes. Com qualquer partido haveria arestas.

O crime da tentativa de golpe

Desde a Lava Jato, deflagrada em 2014, a política brasileira é determinada pelas decisões judiciais e, com o novo inquérito da tentativa de golpe, parece que continuará assim por algum tempo. Espero que algum dia chegue ao fim, embora haja muitas questões graves a resolver. As acusações reveladas esta semana, de uma trama para matar presidente e vice-presidente eleitos e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), parece saída de filme do Oliver Stone.

Recebi, antes como agora, mensagens de quem diz: “Tentativa de golpe não é crime”. Ora, a única coisa a se punir num golpe é a tentativa. Porque, se ele se materializa e dá certo, essa se torna a nova ordem. Ninguém consegue punir autor de golpe que dá certo. Só quando vem a queda.

O golpe foi planejado dentro do Palácio. Episódios de violência em frente à Polícia Federal, o caminhão-bomba no aeroporto, o 8 de janeiro e as recentes explosões na Praça dos Três Poderes são parte do mesmo fio, que passa pelos acampamentos em frente aos quartéis, criminosamente tolerados.

Foto do Érico Firmo

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