Inflação, contas públicas e erros à direita e à esquerda
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Inflação, contas públicas e erros à direita e à esquerda
Redução da pobreza demanda controle das contas e da inflação e política social. Cada parte do espectro social abraça uma das medidas e minimiza a outra
A disputa interna entre a ala econômica e o restante do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expõe a compreensão rasa ainda existente dentro do PT sobre controle das contas públicas. Há a compreensão que o controle de gastos é secundário, pouco relevante, ou mesmo uma bobagem. Numa primeira camada, o discurso é de que não se pode cortar gasto social. Certo, bom ponto. Mas, vão além e também não querem cortar investimentos. Nem custeio, pois afeta os ganhos dos servidores. Ou seja, dane-se o controle de gastos.
O problema é que, se o governo gasta muito, o dólar sobe e a inflação também. A mera expectativa de descontrole, e a desconfiança de que as metas fiscais estabelecidas pelo próprio governo não serão alcançadas, faz a bolsa cair e o dólar bater recorde. Gente no PT disse que isso não importa se for feita justiça tributária. O problema é que isso significa aumento de preços, principalmente inflação dos alimentos.
Não existe política social que funcione com inflação alta. O aumento de preços tem maior impacto para os mais pobres. Principalmente para quem não tem emprego, não tem renda formal e, portanto, não tem recomposição salarial.
Ações coordenadas
Sobre isso merece atenção o que ocorreu no começo do Plano Real. Em 1995, a redução da proporção de pobres foi das maiores já registradas. A população abaixo da linha da pobreza era de 34% em junho de 1994 e caiu para 25,5% em setembro de 1995, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, sobre a renda do trabalho nas maiores regiões metropolitanas do país.
O que a inflação faz é corroer a renda, fazer com que o dinheiro valha menos, e os pobres são os mais suscetíveis. Inflação baixa é imprescindível para qualquer ação em favor dos mais vulneráveis. E inflação baixa exige contas sobre controle, sim.
Na direita e na esquerda — o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era exemplo disso — existe a ilusão de que governar é um ato de vontade. Basta querer beneficiar os pobres, ou controlar a inflação, ou fazer a economia crescer, ou baixar os juros, e isso vai acontecer. É preciso tomar as medidas para que tais coisas ocorram. Isso demanda competência e decisão política.
Porém, a redução da pobreza não é alcançada apenas com a queda da inflação. No citado ano de 1995, o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) concedeu o maior reajuste de salário mínimo em oito anos de mandatos, 42,9%. Nos anos seguintes, sem o aumento da renda, a inflação sob controle não foi suficiente para sustentar a tendência de redução da pobreza. Os números se mantiveram estáveis até Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomar posse pela primeira vez, em 2003, com uma nova ênfase nas políticas sociais.
Em resumo, controlar a inflação é fundamental para reduzir a pobreza. Mas, não é suficiente e exige políticas específicas. Muitos liberais e conservadores defendem o controle das contas com o argumento, procedente, do impacto para os pobres. Porém, a máscara retórica se desmancha quando se vê a comemoração pelo ajuste fiscal de Javier Milei na Argentina, ao custo social de pobreza recorde. A promessa é de que as coisas irão melhorar no futuro. O Brasil é o exemplo de que o equilíbrio fiscal não faz mágica sozinho.
Redução da pobreza ocorre quando a economia está bem, a inflação está controlada, há crescimento e geração de emprego. E demanda também inclusão social, aumento da renda do trabalho e ações direcionadas aos mais pobres. A enrascada se dá quando cada parte do espectro político abraça uma dessas ações e minimiza a outra.
Custo político
Gente no PT defende menos rigor no equilíbrio das contas pelo custo político e aponta que Bolsonaro se desgastou pela austeridade. Mas, o que realmente afetou a popularidade do ex-presidente, na economia, e causou fome, foi a inflação dos alimentos. Essa inflação foi resultado não da austeridade, mas do estouro pré-eleitoral de gastos, que impactou o câmbio com força.
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