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Prioridade de todo governante é prevenir desastres
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Prioridade de todo governante é prevenir desastres

É imperativo tomar medidas preventivas de curto e longo prazo
Tipo Opinião
Deslizamento de encosta no município de Aratuba matou uma mulher e duas crianças (Foto: Divulgação/Bombeiros)
Foto: Divulgação/Bombeiros Deslizamento de encosta no município de Aratuba matou uma mulher e duas crianças

O mundo entra no novo quarto de século com desafio que envolve, no mínimo, a qualidade de vida e vai até a própria sobrevivência, sem que isso seja distante ou exagerado. Aos prefeitos que tomaram posse e aos outros governantes de todos os níveis, nada é hoje mais importante que o meio ambiente. É uma tarefa urgente para toda pessoa com poder de decisão dar prioridade à prevenção de desastres. Porque eles irão acontecer. Aliás, já aconteceram e serão cada vez mais numerosos.

O Brasil foi tomado de assombro em 2024 pela tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, porque foi algo sem precedentes. Porém, a quantidade de episódios sem a mesma dimensão é enorme. No ano que se encerrou, houve morte em Fortaleza em meio às chuvas. Por exemplo, no desabamento de um duplex no Cais do Porto, em fevereiro, que deixou quatro pessoas entre os escombros e uma delas morreu. Em 2023, foi pior ainda. Em março daquele ano, deslizamento de terra em Aratuba matou uma mulher e duas crianças. No Estado, foram aproximadamente três mil pessoas desabrigadas naquele ano.

Não se trata de fenômeno isolado. De 2000 a 2019, o Brasil teve média de 2.073 desastres relacionados ao clima por ano. No período de 2020 a 2023, a média anual saltou para 4.077. A mudança é evidente e para pior. Os números são de relatório da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, com apoio de governo federal e Unesco.

Cada estado lidará com número cada vez maior de tragédias relacionadas ao clima. Nenhum prefeito do Ceará escapará da situação. Já são recorrentes secas e enchentes. Está ficando pior e isso irá se intensificar. Incêndios, desabamentos são outras manifestações.

É imperativo tomar medidas preventivas de curto e longo prazo. Com visão estratégica e estrutural, é imprescindível a redução da emissão de gases do efeito estufa, do uso de combustíveis fósseis. Prefeitos podem interferir de forma decisiva nas políticas de mobilidade. O ponto de partida é a frota de transporte público que não seja movida a diesel. Para além disso, preservação de áreas verdes, dos leitos de rios, das encostas, zonas litorâneas. Muitos dos alicerces mais profundos do trabalho preventivo passa pelos prefeitos.

E há medidas imediatas, urgentes. A resposta aos efeitos quando o desastre já ocorreu. Contenção de enchentes, sistemas de alerta e resgate. Enfim, estar preparado para desastres que virão, porque a prevenção não foi feita antes. Apesar, todavia, do tempo perdido e das consequências já postas, deixar de adotar as medidas preventivas ainda possíveis terá como consequências eventos mais numerosos e intensos ainda.

Infelizmente, políticos conseguem até se sair bem de desastres climáticos. Na Espanha, atingidos pelas chuvas jogaram lama no rei e na rainha. Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) foi reeleito com 61% dos votos. O governador do Rio Grande do Sul vive falando sobre ser candidato a presidente. Isso depois que se escancarou a omissão e a falta de investimentos mínimos em prevenção de desastre.
A imagem de salvador depois da tragédia consumada, a foto de capacete e galochas, a expressão compungida, isso rende voto.

Mas, ninguém tenha a cara de pau de se dizer surpreso. Em 2025, haverá maior quantidade de desastres naturais que em 2024. E menos que em 2026.

Padre Zé e o ciclo sobralense

Morreu na quarta-feira, 9, o ex-deputado federal Padre Zé Linhares. Com muitos mandatos de deputado federal, foi figura marcante na política do Ceará na virada do século XX para o atual. Natural de Sobral, foi por muito tempo o principal líder do PP no Estado, e aliado relevante do grupo Ferreira Gomes. Ele foi candidato a prefeito de Sobral em 1988 e teve como vice o hoje senador Cid Gomes.

Em entrevista às Páginas Azuis do O POVO, em 2010, Cid relembrou a experiência: “Eu, em 1988, é uma parte da minha biografia que não se conhece muito, fui candidato a vice-prefeito lá de Sobral, do padre Zé. Naquele tempo, era negócio de voto de papel, de cédula. Você ficava dois, três dias lá no local da apuração. Nós perdemos no último dia. E eu fiquei a apuração o tempo inteiro. Foi a minha primeira experiência, eu tinha 25 anos de idade. Quando eu fui saindo do local da apuração, lembro demais, na AABB de Sobral, numa Belina branca do meu pai, que ele tinha me emprestado, os vencedores rodearam a Belina. Eu estava sozinho. E, olha, sabe esses pesadelos que você tem. Você acorda. Pronto. Eu vivi um pesadelo ali. Dentro do carro, sozinho, e a turma invadindo e batendo no carro e eu sem poder sair. Aquilo ali foi um pesadelo, mas me serviu de grande lição. Eu acho que o vitorioso não pode tripudiar em cima do derrotado. O ganhador, ele tem de ser respeitoso com o perdedor. Eu acho que o vitorioso tem de ser generoso”.

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