Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Nas democracias ocidentais, por mais de 100 anos, ter o poder nas mãos foi um fator para conservar esse poder. Mas, fenômenos recentes levaram algumas pessoas a sugerir que essa realidade pode estar se transformando
No sábado, O POVO tratou do debate que começa a ocorrer a partir das derrotas em série de governistas mundo afora. Há quem sugira haver uma “crise dos incumbentes”, isto é, de quem está no poder. Nas democracias ocidentais, por mais de 100 anos, ter o poder nas mãos foi um fator para conservar esse poder. Mas, fenômenos recentes levaram algumas pessoas a sugerir que essa realidade pode estar se transformando. O protagonismo das redes sociais, que oferece palanques permanentes e de grande capacidade de mobilização, a decorrente politização do eleitorado, menos suscetível ao discurso da máquina e à propaganda na véspera da eleição, são fatores que podem mudar o jogo.
Estar no governo oferece exposição e instrumentos para afetar a vida das pessoas. Isso sempre foi visto como vantagem. Porém, numa era hiperconectada, a superexposição propicia desgaste também sem precedentes.
Donald Trump, empossado na segunda-feira, 20, é mostra do quão difícil se tornou conservar o poder uma vez alcançado. Foi eleito em 2016 contra a situação, perdeu em 2020 quando estava no cargo e, em 2024, venceu contra a candidatura governista. Reino Unido, Uruguai, Islândia, Senegal, Botsuana, Gana, Sri Lanka foram outros lugares em que o poder mudou de mãos.
Obviamente, em cada situação há fatores locais que interferem. E também aspectos conjunturais. A onda inflacionária após a pandemia de Covid-19 é considerada um fator que afetou a economia mundial, na ponta, e interferiu na avaliação sobre os governos. Analistas entendem ainda ser cedo para conclusões mais profundas, se há mesmo um fenômeno nessa direção e se foi algo pontual ou terá repercussão no longo prazo.
Por enquanto, a situação é constatada no âmbito dos governos nacionais. No Brasil, por exemplo, a realidade local é bastante diferente. Nas eleições municipais de 2024, houve recorde de reeleições. Dos que concorreram, 82% se reelegeram — 2.461 de 3.006 candidatos.
Nas capitais, 20 prefeitos concorreram à reeleição e 16 obtiveram o novo mandato. Porém, dos que já eram reeleitos e não podiam mais ser candidatos, só dois emplacaram o sucessor. Além dos quatro que derrotaram candidatos à reeleição, outros quatro venceram candidatos governistas.
Influência crescente
Dos arranjos políticos construídos na Prefeitura de Fortaleza, um dos mais instigantes envolve o grupo do ex-prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (sem partido). Todos os limites a leste e sudeste da capital são com municípios governados pelo grupo. Em Eusébio, o prefeito é Dr. Júnior (PRD), sobrinho de Acilon — o ex-prefeito é secretário da Educação. Em Aquiraz, o prefeito é Bruno Gonçalves (PRD), filho de Acilon. Em Itaitinga, a administração é de Marquinhos Tavares (PRD), aliado do grupo.
Em Fortaleza, foi indicado para a Regional 6 Alexandre Medeiros. A Regional abrange bairros como Lagoa Redonda, Curió, Paupina, Cidade dos Funcionários, Messejana, Cambeba, Aerolândia, entre outros. Abrange praticamente todo o limite entre Fortaleza e Eusébio.
Alexandre foi assessor de gabinete e secretário adjunto de Infraestrutura da Prefeitura de Aquiraz na gestão de Bruno Gonçalves, além de assessor parlamentar na Assembleia.
A configuração política coloca esse pedaço de Fortaleza quase que como extensão do poder do acilonismo em Eusébio. Não lembro de essa situação se configurar com tanta clareza, o aliado político com influência em uma prefeitura vizinha administrar a Regional de Fortaleza contígua. A conferir como isso poderia afetar — espera-se que para melhor — a vida das populações de um lado e do outro do limite entre os municípios.
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