Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Carlos Moura/STF
PAULO Gonet, procurador-geral da República, autor da denúncia
A denúncia da Procuradoria Geral da República sobre a trama golpista mostram que a democracia brasileira, o sistema político e a sociedade estiveram em enorme perigo, causado por um grupo de políticos e militares que chegou ao poder pelo voto e se recusou a sair. Se houve alternância de poder, foi porque eles não encontraram os meios de colocar o plano em prática.
Todo mundo tem direito a ampla defesa e presunção de inocência. Há um processo a transcorrer. Naturalmente, virou um grande embate entre governistas e oposição. Não teria como ser diferente. Porém, o caso é bem mais complicado.
Não é uma acusação, como tantas já houve, de algum crime, um caso de corrupção. O que a denúncia expõe é um crime contra a democracia. Isso vai além de forças políticas. O que está exposto é grave e tem muitas evidências.
Diferentemente do que alega o discurso da defesa, não é apenas o relato de Mauro Cid, mas as mensagens encontradas no celular dele e de outros réus. Documentos apreendidos. Que convergem com discursos e silêncios da época, com a tolerância com acampamentos golpistas, os atentados ocorridos, até a grande eclosão do 8 de janeiro.
Não é mais um embate bolsonarismo contra petismo, é a democracia, o Estado e as instituições que foram colocados em questão.
Defesa terá de fazer melhor
O argumento em defesa de Jair Bolsonaro (PL) segue duas linhas, a política e a técnica. Politicamente, Bolsonaro fala de perseguição, aposta em algum tipo de pressão internacional, alicerçada em Donald Trump e Elon Musk, e joga pela mobilização da base. Juridicamente, o discurso é de desqualificar a delação de Mauro Cid e dizer que não há provas.
Bolsonaro falou em “acusações vagas”. Pois bem, a defesa, até agora, é bastante vaga e não ataca os graves pontos da denúncia.
Momento perigoso
A perspectiva para Bolsonaro não é promissora. A tendência é de condenação, mas ele irá resistir e reagir. Dentro da institucionalidade, é direito dele. Defender-se, recorrer e inclusive questionar e criticar processos e decisões. Pode inclusive convocar manifestações. Porém, o histórico mostra que deve ir além. O processo trata justamente de uma irresignação com o resultado eleitoral. Que dirá uma condenação judicial, ainda mais se partir do tribunal que elegeu como maior inimigo.
O processo será longo, se arrastará por meses, pelo menos. Será tempo de muita discussão política e construção de versões sobre o fato. Faz parte. Quando era Lula como réu foi assim.
Porém, os métodos e as amizades de Bolsonaro sugerem que podem ser meses de muita instabilidade.
O novo André Fernandes
Bolsonaro reuniu aliados em Brasília, mas o deputado federal cearense André Fernandes (PL) não foi, porque ainda estava em Fortaleza, segundo disse ao correspondente do O POVO, João Paulo Biage. Sobre a denúncia, Fernandes foi econômico na resposta a Biage: “Ainda vou analisar”.
Para o maior bolsonarista do Ceará, é um comentário bem pouco efusivo. Poderia ser feito pelo pior inimigo do ex-presidente. Na campanha, Fernandes adotou um perfil de evitar divididas e complicações — com aval de Bolsonaro. Foi o caminho para reduzir resistências e ampliar eleitorado. Demonstra que não quer abandonar o figurino.
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