Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Ricardo Stuckert / PR
MINISTRO Fernando Haddad (Fazenda) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Mais pesquisas foram divulgadas nesta quarta-feira, 26, com novas quedas na popularidade do governo Lula. Não há explicações isoladas, mas a principal é a inflação. Não é novidade para a esquerda o quanto o descontrole de preços — o que se costumava chamar de carestia — impacta as pessoas e a política. Foi o controle, efêmero, da inflação que deu popularidade a José Sarney em 1986. E o descontrole que se seguiu que levou a avaliação do governo para o buraco na época. Foi o fim da superinflação, com Itamar Franco, que elegeu e reelegeu Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Todo mundo na esquerda sabe que a alta de preços é ruim, mas pouca gente no governo parece entender por que os preços sobem. Os motivos são diversos. No caso dos alimentos, passa por questões climáticas. O cenário externo, com Donald Trump, tem muito impacto. Mas, não é só isso. No fim do ano passado, quando havia desconfiança se seriam alcançadas metas fiscais que o próprio governo estabeleceu, gente graúda disse que isso não era importante, desde que fosse feita justiça tributária e social. O problema é que a sinalização de não haver controle de gastos, num cenário internacional complexo, fez a bolsa cair e o dólar subir. O efeito foi sentido lá no supermercado. E repercute agora na popularidade do governo.
Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda, está certo quando diz que o mercado está mais tenso e menos previsível. Também é verdade que o Banco Central manteve os juros elevados num momento em que o conjunto dos indicadores não justificava índice naquele patamar. Porém, igualmente é fato que o governo pesou mais a mão que o razoável em relação ao antigo comando do Banco Central, cujas ações tinham objetivo justamente de conter a inflação.
Lula queria uma economia mais aquecida. O Banco Central, agora com presidente indicado por ele, aumentou os juros e já indicou que aumentará mais ainda. E o motivo passa pelo entendimento de que a economia está aquecida demais, com risco de mais inflação.
Não há política social que funcione quando a inflação é alta. Existe a crença no governo de que os programas assistenciais são o mais importante de tudo. Mas, preços em alta atingem principalmente os mais pobres. Particularmente quem não tem salário formal, nem perspectiva de recomposição. Corroem inclusive o valor das bolsas.
O que a história mostra
Olhando um pouco para a história. Quando Napoleão chegou ao poder na França, era o fim da Revolução Francesa. O povo estava cansado de conflitos, guerra civil, guilhotinas e confusões. E Napoleão foi, no primeiro momento, o estabilizador. Uma das medidas cruciais foi na área monetária, para controlar a inflação. Na vida cotidiana, poucas coisas são mais relevantes que a estabilidade. E poucas coisas causam mais instabilidade do que preços que sobem muito e constantemente.
O que ocorre no vizinho, apesar de tudo
Na Argentina, Javier Milei tinha, até os mais recentes números comparados, popularidade parecida com a de Lula. Apesar de polêmicas, trapalhadas, um episódio pessimamente explicado com criptoativos e um drástico aumento da pobreza. Esse último fator seria razão para demolir um governo, mas o que ele mantém de aprovação tem relação com a queda rápida de uma inflação — embora ainda absurda — que vinha em patamares que inviabilizavam a economia.
A vida real
Em resumo, poucas coisas importam tanto para a população quanto estabilidade. E ela depende fundamentalmente de preços sob controle. E o controle da inflação significa estabilidade da moeda. Isso passa por controle das contas públicas. O debate que pode ser filosófico ou conceitual se reflete nos preços da comida no supermercado. E tem potencial para implodir qualquer governo, em qualquer parte do mundo.
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