Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: FERNANDA BARROS
VEÍCULOS da Polícia Civil do Ceará
O número de homicídios no Ceará caiu ao longo de uma década, tanto no Ceará quanto no Brasil. No Estado, a situação melhorou mais que no País. A redução no Ceará foi de 33%, enquanto ficou em 20% em todo o Brasil. Os números do Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) soam surpreendentes: quer dizer que o País ficou menos violento? E o Ceará reduziu ainda mais a quantidade de homicídios? Não bate com o sentimento das ruas. Porém, os números são consistentes. Há alguns motivos para não haver sentimento de que a violência diminuiu. O principal deles é que a violência ainda é muito grande. No Brasil, em 2023, foram 45.747 homicídios, conforme o Atlas. Uma calamidade. Desses, 2.992 foram no Ceará. Não é possível sentimento de segurança ou de melhora diante desse quadro.
O Ceará teve, em 2023, 6,5% das mortes resultantes de crimes no País, num estado que tem 4,3% da população. Em 2024, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 3.272 mortes violentas intencionais no Estado — um índice mais abrangente.
Outro motivo para as pessoas não sentirem a redução da violência é por não se tratar de um processo contínuo. Não há uma melhora gradual ao longo de uma década, com redução constante da violência. Pelo contrário, o processo é acidentado e cheio de altos e baixos. Não há constância, de modo que é quase impossível para a população sentir mudanças positivamente.
Oscilações ao longo do tempo
A série considerada começa em 2013. Aquele ano foi o mais violento da história do Ceará até então. Mas em 2014 ficou pior. Em 2015, melhorou um pouquinho. Em 2016, a redução da violência foi ainda maior. Mas, em 2017, a coisa degringolou. Foi o ano mais violento da história do Ceará até hoje. O ano de 2018 foi um pouco melhor. É o segundo mais violento já registrado.
Em 2019, houve considerável melhora. Em 2020, piorou muito. De 2021 a 2023, houve graduais reduções dos homicídios. Pelos números da SSPDS, 2023 foi de estabilidade e 2024 teve ligeira piora. Em resumo, é uma gangorra.
Quando se fala de uma década em que houve redução, é preciso considerar que, no Ceará, no máximo houve três anos consecutivos de melhora — pequena — nos indicadores.
Os fatores-chave da violência
O Ceará tem menos homicídios que uma década atrás, mas a violência se tornou mais complexa. O fator que se alastrou nesse período são as facções criminosas. As mortes violências são o principal indicador da violência, mas não o único. Os grupos estão organizados, têm presença ostensiva em territórios. Impedem o acesso da população a serviços públicos e privados, cobram pedágio de empresas, até expulsam pessoas de casa.
Dois fatores principais influenciaram o sobe e desce dos homicídios no Ceará. Recorde de homicídios até então, 2013 foi o ano que se seguiu ao motim de policiais militares da virada de 2011 para 2012. Aliás, 2012 já havia tido violência recorde.
A queda do número de mortes em 2016 teve relação com uma trégua de facções. Em 2017, o novo recorde de homicídios foi ocasionado pelo fim da trégua. Em 2019, quando houve a maior melhora, foi o ano que começou com onda de ataques e se seguiu com ampla repressão a facções, com transferência dos chefes para presídios federais. As organizações sofreram um golpe ali. Em 2020, quando houve nova alta, foi mais um ano de motim na Polícia Militar.
Facções criminosas e a relação do governo com as forças de segurança têm sido os fatores cruciais para a segurança melhorar ou piorar no Ceará. Não por acaso o governo Elmano de Freitas (PT) faz aceno sobre esse segundo ponto com a recriação de um hospital para a Polícia Militar. Com todos os questionamentos decorrentes.
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