Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Do ponto de vista Pois vejamos: a China é hoje muito mais importante para a economia nacional que os Estados Unidos. Em 2024, as exportações para a China somaram 94,4 bilhões de dólares. Para os EUA, 40,3 bilhões — menos da metade. Em termos de balança comercial, o saldo entre exportações e importações, com o país de Donald Trump há praticamente empate, com vantagem de algumas centenas de milhões para eles. Em relação ao país de Xi Jinping, o superávit brasileiro passa de 40 bilhões.
Por causa disso, alguém acha que se deve ser subserviente aos interesses chineses e atender a quaisquer exigências que venham de Pequim?
Foto: SAUL LOEB / AFP
DONALD Trump usa tarifa para pressão política
O discurso bolsonarista, liderado por Jair e Eduardo, apregoa que o Brasil não tem alternativa a não ser atender a todas as exigências que os Estados Unidos fazem para reverter a taxação sobre produtos nacionais. Segundo a família, que se posiciona como se fosse porta-voz da Casa Branca, a condição para isso seria a anistia. A carta de Donald Trump diz outra coisa: “Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta”.
Antes, a carta menciona que o que qualifica como “caça às bruxas” por meio do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) “deve acabar IMEDIATAMENTE!” (maiúsculas do autor). Mas não fala em rever as taxas por causa disso. Cita a abertura dos mercados — com os quais os têm superávit desde 2009 — como uma possibilidade de, talvez, quem sabe, porventura, mudar a política. Quem diz algo diferente disso são os Bolsonaro, pretensos porta-vozes.
Caso as autoridades do Estado brasileiro decidissem por uma anistia, que a essa altura seria forte candidata a maior ato de servilismo a interesses estrangeiros em mais de 200 anos, faria isso sem qualquer garantia de Washington e com base no que dizem os principais beneficiados pela eventual medida.
O apogeu da patetada coube ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). “Cabe a nós termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas no Brasil, para depois anunciar que vamos fazer anistia”, disse o indivíduo em entrevista à CNN.
“A gente vai continuar com o nosso orgulho, né? Somos brasileiros? Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que se resolve essa situação?”, falou o altivo patriota. “Nós não estamos em condições de exigir nada por parte do governo Trump; ele vai fazer o que ele quiser, independente da nossa vontade”, acrescentou.
É isso mesmo o que defendem os “patriotas”, a turma do verde-amarelo, da camisa da seleção? Que, diante da pressão de uma potência estrangeira, o País entregue tudo, atenda a ultimatos, aviltantes que sejam?
Pois vejamos: a China é hoje muito mais importante para a economia nacional que os Estados Unidos. Em 2024, as exportações para a China somaram 94,4 bilhões de dólares. Para os EUA, 40,3 bilhões — menos da metade. Em termos de balança comercial, o saldo entre exportações e importações, com o país de Donald Trump há praticamente empate, com vantagem de algumas centenas de milhões para eles. Em relação ao país de Xi Jinping, o superávit brasileiro passa de 40 bilhões.
Por causa disso, alguém acha que se deve ser subserviente aos interesses chineses e atender a quaisquer exigências que Pequim eventualmente faça? Se o País decide sobretaxar o Brasil, resta baixar a cabeça e ceder?
Taxação como estratégia política
A postura de Washington não encontra respaldo econômico e se baseia na política. Horas antes do anúncio da taxação, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou uma moção de louvor e regozijo a Trump. No mesmo dia, o colegiado aprovou a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para explicar a visita de Lula à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar em Buenos Aires. Um dos autores do pedido, o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), disse que a atitude de Lula “transforma a política externa brasileira em ferramenta de militância ideológica”. Enquanto isso, vai assistindo ao que Washington faz.
Pois bem, é realmente de se discutir a visita de Lula a uma condenada no cumprimento de pena, em meio a agenda oficial num país que é parceiro importante e estratégico. A relação com o governo Javier Milei já é ruim e fica ainda pior.
Agora, imagina se o Lula resolve aumentar impostos sobre produtos da Argentina por causa da prisão da aliada dele. E por isso a população pagará mais caro por produtos importados da Argentina. O que não diriam os bolsonaristas?
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