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Os Bolsonaro achavam que não haveria consequência?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Os Bolsonaro achavam que não haveria consequência?

Pressupor o recuo do Judiciário por uma pressão econômica estrangeira movida por interesses políticos seria o achincalhe das instituições
Tipo Opinião
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro com Donald Trump (Foto: Associated Press)
Foto: Associated Press O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro com Donald Trump

É incerto o futuro do embate entre Brasil e Estados Unidos e, depois dos acontecimentos desta sexta-feira, 18, é de se esperar novas medidas de retaliação. Para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), porém, é muito difícil projetar qualquer perspectiva além da condenação. Já era antes e a pressão via tributação das exportações aos EUA evidentemente agravou a situação dele.

O que Eduardo Bolsonaro (PL) e companhia acharam que ia acontecer? O sujeito foi a outro país pedir sanções à terra natal — e alardeou isso aos quatro ventos. Usou o aumento de tarifas para exigir das autoridades brasileiras o encerramento do julgamento contra o pai. As pessoas têm dimensão do que isso significa? Acham que é normal, que é legal ou aceitável?

É preciso muito déficit intelectual para não perceber que se trata de uma das mais ostensivas tentativas de obstrução de Justiça da história. Era claro que isso teria consequências.

Será que imaginavam que o Supremo iria dizer: “Nossa, vieram as taxas. Vamos então arquivar a denúncia apresentada contra o ex-presidente que teria tentado um golpe de Estado”. É imaginar se tratar mesmo de uma bodega, não uma nação. Sem ofender as bodegas, gosto muito, inclusive.

Mesmo a ideia de que o Congresso Nacional correria para votar a anistia era complicada de dar certo. Não que este Legislativo que está aí seja capaz de aprovar qualquer coisa que atenda aos interesses convenientes. Mas essa já não é uma pauta simpática e que lhes agrade. Era preciso subestimar a péssima repercussão perante a opinião pública das retaliações estrangeiras ao País para achar que o parlamento iria perdoar réus perante o STF a pretexto de atender à pressão internacional.

Pressupor o recuo do Judiciário por uma pressão econômica estrangeira movida por interesses políticos seria o achincalhe das instituições.

Mudança de discurso

Bolsonaro disse que Donald Trump se incomodou por o presidente Lula, em reunião do Brics, falar em substituir o dólar nas operações entre os países. Isso é fato, mas é uma mudança de discurso do ex-presidente. Dias antes, ele buscava se aproveitar da taxação para se livrar do processo judicial. “A solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre os Poderes nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia, também a paz para a economia”. Era chantagem escancarada — precisa ser um completo parvo para agir assim. Agora ele quer dizer: “Não era por minha causa, era em função dos Brics”.

Já de tornozeleira, Bolsonaro falou o seguinte: ""Tarifa foi para o mundo todo. A carta, ele me cita porque fizemos um bom governo juntos lá atrás, por dois anos. Ele tem um carinho especial por mim". Agora que apertou ele quer tirar o corpo fora.

Além de pai e filho

Dois aspectos se repetem na defesa do ex-presidente e de aliados. Um cobra liberdade de expressão e outro aponta crueldade ao proibir contato entre pai e filho. Bem, o ex-presidente não recebeu medidas cautelares por causa de opiniões que manifestou, mas por uma articulação tornada pública pelo próprio clã para que um governo estrangeiro aplique punições ao Brasil, e por usar essas punições para barganhar em relação à ação judicial a que responde.

Da mesma forma, o contato proibido não é pelos vínculos entre eles, mas por estarem nesse processo do que Alexandre de Moraes definiu como tentativa de “interferir no curso de processos judiciais, desestabilizar a economia do Brasil e pressionar o Poder Judiciário”.

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