A dificuldade para encaixar Ciro com o bolsonarismo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A dificuldade para encaixar Ciro com o bolsonarismo
Não dará para ser o candidato do bolsonarismo no Ceará e levar os votos do bolsonarismo, o tempo de rádio e televisão, os recursos, sem abraçar Bolsonaro
Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
CIRO Gomes, Jair Bolsonaro e Padre Kelmon em 2022
A chance de Ciro Gomes (PDT) ser candidato a governador do Ceará no próximo ano estava em crescimento ao menos até sofrer um baque, semana passada, quando o deputado federal André Fernandes (PL) afirmou que o PL terá candidato próprio. No bloco de oposição, a decisão não é vista como irreversível, nem mesmo como algo que tenha passado pelas instâncias. O parlamentar foi anunciado como futuro presidente estadual do partido, mas ainda nem assumiu o cargo. A declaração, feita em primeira mão ao colega Vítor Magalhães, foi entendida mais como um recado. Na mesma manhã, enquanto Jair Bolsonaro (PL) colocava tornozeleira eletrônica, Ciro divulgava um vídeo no qual fazia menção à “burrice dos Bolsonaro” em relação à tarifa imposta a produtos brasileiros pelo governo Donald Trump. A fala foi mal recebida, ainda mais naquela ocasião. O indicativo do principal líder do bolsonarismo cearense é de que não serão aceitas críticas como as de Ciro. A dificuldade que isso impõe à aliança não é pelo que André anunciou na semana passada, mas pelo que ainda pode ocorrer no período de um ano que falta até as candidaturas serem oficializadas.
Ciro pretendia restringir o debate da aliança local ao Ceará, para não avançar sobre diferenças nacionais “talvez incontornáveis”, segundo ele. André já sinaliza que assim não vai funcionar. Não sei se a expectativa será de fazer do palanque local da oposição a sustentação também da candidatura presidencial bolsonarista. Isso pode complicar as conversas, a depender principalmente de quem disputará no plano federal. É possível que PL, União Brasil e PSDB não estejam juntos. O PL é a principal força política do bloco. A mensagem de Fernandes é de que, no mínimo, não será tolerado ataque de quem receber o apoio deles no Estado.
Ciro até foi mais contido que de costume sobre o ex-presidente. O alvo principal do vídeo foi o PT. O ex-presidente e família entraram como dano colateral. Talvez pela circunstância da publicação do vídeo, André sinaliza que “fogo amigo” pode inviabilizar os entendimentos. Não dará para ser o candidato do bolsonarismo no Ceará e levar os votos do bolsonarismo, o tempo de rádio e televisão, os recursos, sem abraçar Bolsonaro. A questão é: Ciro assumirá esse papel? Conseguirá, pelo menos, controlar a língua?
Pacificadores
Ao defender Jair Bolsonaro em relação à tornozeleira, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), falou que o ex-presidente sofre "humilhação" e apregoou: “Não haverá pacificação enquanto não encontrarmos o caminho do equilíbrio. Não haverá paz social sem paz política”. A escolha de palavras é interessante.
A pacificação a que o governador se refere envolve deixar sem punição pessoas que planejaram um golpe de Estado. O plano existiu. A única dúvida que pode restar é sobre responsabilidades. Inclusive, a parte que poderia soar mais extrema, o plano para matar autoridades como o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, foi admitido pelo general da reserva Mário Fernandes. Ele entrará no comboio da anistia? O sujeito queria matar presidente eleito, vice-presidente eleito e ministro do Supremo, e a pacificação é deixá-lo sem condenação? Isso é equilíbrio?
Assim como houve um caminhão com bomba interceptado próximo ao aeroporto de Brasília. Houve tentativa de invadir a sede da Polícia Federal. E a destruição das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Na pressão para deixar essas pessoas sem punição, há movimentação nos Estados Unidos para tributar produtos brasileiros.
E são esses os que apregoam equilíbrio e pacificação? É com a impunidade dessas pessoas que se alcançará paz social e política?
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