Cid Gomes não sabe como se posicionar diante de crises
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Cid Gomes não sabe como se posicionar diante de crises
Cid é um dos mais importantes políticos que o Ceará já teve. Não sou eu que irei ensiná-lo como agir como líder. Mas ele parece não entender que o governante não pode aparecer apenas quando tem coisas positivas para falar. Precisa dar a cara a tapa mesmo no momento mais complicado. Se o povo está sofrendo, ele precisa se mostrar parte do mesmo sentimento. Precisa ser a referência
Foto: FERNANDA BARROS
CID Gomes muitas vezes prefere o silêncio, mas há ocasiões em que isso não é uma opção
A cidade de Sobral passou a remeter aos Ferreira Gomes. O grupo esteve no poder por 28 anos e mudou a história do Município para melhor. Das muitas declarações políticas sobre a tragédia na escola Professor Luis Felipe, as da família acabam tendo significado diferente. A secretária e deputada licenciada Lia Gomes (PSB) fez um apelo por unidade entre os entes. O ex-prefeito Ivo Gomes (PSB) fez uma publicação de alguém visivelmente tocado pelo que aconteceu. Pareceu-me muito adequada a defesa de uma cultura de paz — algo que ele pregou durante o mandato. Uma fala que não transpareceu qualquer ingrediente de exploração partidária. Ciro Gomes (PDT), por sua vez, foi bastante agressivo. Disse que o governador Elmano de Freitas (PT) e o ministro Camilo Santana (PT) têm as mãos sujas de sangue.
O papel da oposição é criticar mesmo, e não é de se esperar que o governo receba elogios pela situação. A mensagem de Ciro tem compreensível indignação, mas parece dedicar toda a carga de energia e emoção contra os adversários. Tudo dentro do previsível.
O que me surpreendeu foi, até o momento em que esta coluna era escrita, não haver manifestação alguma de Cid Gomes (PSB). Ele tem trajetória ligada à cidade, e se orgulha muito disso. Foi prefeito, e mudou a história sobralense. É senador. É muito querido pelos conterrâneos — bem mais que Ciro. Não, ele não tem o direito de ficar em silêncio.
Com certeza ele não faz isso por não se importar. Tenho certeza de que está impactado. Mas parece não saber como se expressar. A trajetória mostra que ele demonstra não saber como lidar com crises.
Entre 2011 e 2012, quando houve paralisação da Polícia Militar, foi notável o sumiço dele. Espalhou-se até que ele estaria fora do Brasil, o que não era verdade. Apareceu em fotos de trabalho. Apostou na operação dos bastidores. Mas não falou nada enquanto o Ceará estava com medo e tomado pela insegurança.
Quando houve acordo com os amotinados, participei da primeira entrevista concedida por ele. Perguntei por que ele não dissera nada antes. Ele respondeu que não tinha nada a dizer naquele momento. Não tinha como tranquilizar as pessoas se não tinha a segurança de que elas podiam mesmo estar tranquilas.
Cid é um dos mais importantes políticos que o Ceará já teve. Não sou eu que irei ensiná-lo como agir como líder. Mas ele parece não entender que o governante não pode aparecer apenas quando tem coisas positivas para falar. Precisa dar a cara a tapa mesmo no momento mais complicado. Se o povo está sofrendo, ele precisa se mostrar parte do mesmo sentimento. Precisa ser a referência. Eu não, mas certamente Winston Churchill tem algo a ensinar a ele. No momento mais sombrio da Segunda Guerra Mundial, foi a público dizer à população: “Não tenho nada a oferecer a não ser sangue, trabalho, lágrimas e suor”.
No racha de 2022, quando o governismo e a família implodiram politicamente, a solução do senador também foi silenciar. Nem com os aliados ele tratou.
Ele agiu diferentemente durante outro episódio em que os policiais se amotinaram. Foi em fevereiro de 2020. Não sei se para exorcizar a imagem de fraqueza e omissão que ficou de 2012, ele avançou sobre os integrantes do movimento com uma retroescavadeira e levou dois tiros. Parece-me que errou ali pelo extremo oposto.
Melhor que nada, mas bom não é
A suspensão da licença da Semace para o desmatamento da Floresta do Aeroporto chega evidentemente tarde, mas é melhor que nada.
São apontadas várias irregularidades, inclusive desmatamento além do que permitia a licença. Pode parecer que não adianta mais pois a vegetação já foi destruída. O dano está consumado, mas é fundamental que a possível irregularidade não seja premiada. O recado não pode ser de que compensa violar regras ambientais e fazer na marra. Se não, será um estímulo para mais e mais infrações contra a natureza.
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