A crise do negócio dos ônibus e o impacto para a população
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A crise do negócio dos ônibus e o impacto para a população
Ao longo da história, empresários pressionaram o poder público pelo aumento do valor das tarifas, mas hoje os usuários migram para transporte por aplicativo
Foto: FERNANDA BARROS
TRANSPORTE coletivo é crucial na cidade
Os meios digitais mudam comportamentos, afetam a política e transformam também a economia. Fortaleza atravessa hoje uma crise no transporte coletivo, relacionada à metamorfose pela qual passa o negócio. A situação caiu no colo do prefeito Evandro Leitão (PT), com status de emergência máxima. Há remédio urgente para a suspensão das linhas de ônibus, mas ainda não solução definitiva. Esse tipo de conflito existe há bastante tempo, mas a realidade é hoje diferente.
O setor de transporte coletivo enfrenta dificuldades com a queda do número de passageiros. Já foi superior a 1 milhão de usuários por dia, hoje a quantidade é de 520 mil. Ainda é um mundo de gente. Poucos setores atendem tantas pessoas. Mas nenhum negócio escapa ileso a uma queda da clientela pela metade.
Ao longo da história, empresários pressionaram o poder público pelo aumento do valor das tarifas, mas hoje isso é cada vez mais problemático. Há alternativas que explicam a diminuição de passageiros. Os aplicativos de transporte, principalmente por moto, são opções. Com o preço da passagem, muitos já buscam outras opções. São levados diretamente ao próprio endereço. Colegas me relataram que, para alguns, o ônibus nem é uma opção. A depender de horário e local, o deslocamento da parada até a residência é um perigo. Se o preço do ônibus sobe, mais gente deixará de usar transporte coletivo.
A passagem de ônibus custa hoje R$ 4,50. A ida e a volta sai por R$ 9. Ao longo de um mês, em todos os dias úteis, o valor se aproxima de R$ 200. É mais de 10% de um salário mínimo. É impeditivo para muitos. Experiências em Fortaleza, quando a passagem foi mantida congelada por prazo significativo, mostraram que a quantidade de passageiros cresce. Se o preço aumenta, as pessoas vão a pé, buscam outro meio ou simplesmente evitam deslocamentos.
O que, então, há de se fazer? A sustentabilidade financeira do sistema — das empresas, portanto — é de interesse público. O cenário tem evoluído para cada vez mais subsídios. Chegar ao valor justo é um debate de décadas, desde quando existia a Câmara de Compensação para fazer esse cálculo. Se o caminho será esse e de quanto será o subsídio é um debate técnico. Mas o setor é essencial, e a população não pode ser punida.
A melhor maneira de evitar a migração para Uber e afins é ter serviço com qualidade e preço competitivo. Clientes terem alternativa não é o problema numa economia de mercado. Ao contrário.
O dilema das motos
A opção pelo transporte via motos traz um efeito colateral nada desprezível: a quantidade de acidentes com moto. A baixa qualificação dos condutores, somada à imprudência, é crítica para a saúde coletiva. São muitas mortes e mais ainda os feridos, com lesões que podem levar meses para serem curadas. A situação é dramática, pois muitos são trabalhadores informais, com família para sustentar e que se veem repentinamente sem renda por longo período.
A despeito de tudo isso, as pessoas migram para esse tipo de opção e impactam o transporte coletivo. O poder público deve se debruçar sobre o aspecto da segurança viária. Mas é um delírio imaginar interrupção ou corte no transporte por aplicativos. Desconheço, na história do capitalismo, algum serviço que a tecnologia viabilizou, que encontrou demanda e veio a ser abandonado. Nem com aquilo que foi tornado ilegal isso aconteceu. Há de se buscar regulações, mas tais instrumentos vieram para ficar, até serem substituídos por algo mais conveniente.
O pecado fundamental
Em toda essa crise, a questão fundamental e inaceitável é o fato de a população ser pega de surpresa. As empresas parecem desvalorizar a importância do próprio serviço. Uma escola ou um hospital não fecha sem aviso prévio. A Prefeitura diz ter sido pega de surpresa. Se for assim, as concessionárias desrespeitaram os usuários e a administração.
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