Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: FÁBIO LIMA
CAPITÃO Wagner., Roberto Cláudio, André Fernandes, Alcides e Emília Pessoa na filiação de Ciro ao PSDB
Políticos fazerem acordos com ex-inimigos é a coisa mais comum do mundo da política. Ao se filiar ao PSDB ao lado de adversários de tempos recentes, Ciro Gomes recordou casos que envolvem o PT.
Recordou que Lula, nos dois primeiros mandatos, teve como vice José Alencar, que era do PL, mesmo partido hoje de Jair Bolsonaro e que apoia o novamente tucano. Verdade que muita coisa mudou. Aquele PL era uma força de centro, bastante pragmática. Na época, diferentemente do que o ex-governador diz, houve muita polêmica sim, inclusive dentro do PT. Pelo fato de o vice ser um grande empresário — justamente a sinalização ao mercado que a cúpula petista queria — e porque o PL era, na época, a sigla da Igreja Universal. Alencar e os aliados da denominação evangélica saíram da legenda em 2005 para o PRB, atual Republicanos. Mas o PT e o PL não eram inimigos naquela época, muito menos Lula e Alencar.
Ciro, no discurso, mencionou que Michel Temer (MDB) foi vice de Dilma Rousseff (PT). Mas o então PMDB vinha dentro do governo Lula desde o começo. Não era, naquele momento, um pacto entre ex-adversários, embora tivessem estado em lados opostos até a primeira eleição de Lula. Depois, Temer viria a ser acusado pelos petistas de tramar um golpe contra Dilma, embora o partido mesmo depois nunca tenha tratado como erro a composição com o emedebista, em 2010 e novamente em 2014. Foi algo visto como necessário para vencer, principalmente na dificílima reeleição de Dilma. É do pragmatismo da política, a que o tucano recém-filiado igualmente recorre. Sobre isso, cabe reconhecer que, desde muito antes, o ex-ministro e ex-governador cearense já criticava o PMDB. Isso no Brasil, porque no Ceará a coligação foi mantida até aquele ano de 2014, quando Eunício Oliveira (MDB) rompeu com o governismo. Vale registrar que a primeira vez em que ouvi falar de Eduardo Cunha foi quando Ciro o responsabilizou por operações estranhas na Câmara, bem antes de assumir a presidência da Casa.
O novamente tucano abordou por fim a atual chapa entre Lula e Geraldo Alckmin (PSB). De fato, o vice-presidente disse coisas bastante pesadas sobre Lula, a respeito de voltar “à cena do crime”. Era uma declaração que Ciro assinaria.
Ele poderia citar vários outros exemplos. Em 2014, Camilo Santana (PT) foi eleito numa agressiva campanha contra Eunício Oliveira (MDB). Ciro inclusive foi personagem bem participativo. Lula fez acordos com Paulo Maluf e Fernando Collor. Entre muitos outros casos.
Motivos e limites
A razão para essas alianças é clara: o pragmatismo. Os acordos visam competitividade ou governabilidade. Inimigos em comum são ótimo empurrão nessa direção. Na filiação ao PSDB, o ex-ministro falou ainda algo sobre o que tem razão. "É muito fácil a gente se aliar com quem pensa igual". De fato, a aliança faz sentido entre diferentes.
O problema talvez esteja na eloquência de Ciro. Ele é muito enfático, nas críticas e nos elogios. Quando os ventos mudam, mudar de direção causa mais estranhamento.
Cobranças
Ciro reclama como se apenas houvesse cobrança a ele. Quando o PT faz, tudo bem. Não é verdade. O PT foi questionado sobre acordos com Collor e Maluf. Alckmin teve de se explicar sobre o que dizia de Lula e argumentou que tinha sido iludido pela Lava Jato. Eu escrevi — e bastante, bastante mesmo — sobre Camilo e Eunício se comporem depois de tudo que falaram.
O pré-candidato tucano sabe que há explicações a serem dadas, tanto que mencionou isso no primeiro encontro com os novos aliados, em maio. “As nossas diferenças precisam ser esmerilhadas de forma tranquila e dentro do diálogo”. O tempo do discurso dedicado a essa questão é outra mostra disso. Ele inclusive admitiu que errou, embora tenha sido genérico. Mais ainda quando falou sobre como lidar com as divergências.
Ele entende isso, apesar dos babões que se irritam quando questionamento tão óbvio é feito.
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