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Poder público segue perdido no enfrentamento das facções
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Poder público segue perdido no enfrentamento das facções

Passou a ser travada disputa entre Governo do Estado e Governo Federal sobre ajuda que não foi dada, blindados que não foram cedidos, protocolos que não foram cumpridos
Tipo Opinião
POLICIAIS na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha favela, no Rio de Janeiro, durante operação policial (Foto: Mauro Pimentel/AFP)
Foto: Mauro Pimentel/AFP POLICIAIS na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha favela, no Rio de Janeiro, durante operação policial

A operação policial no Rio de Janeiro mostra que o problema, que já se sabia extremamente grave, é ainda mais profundo do que se poderia imaginar. Nunca morreu tanta gente em uma ação do tipo já realizada no Rio. Isso é um fracasso. Morreram dezenas de pessoas apontadas como envolvidas com facção — embora sobre muitas delas quase nada se saiba no momento em que a contagem ainda é feita. É muito cruel para a família que acabou de perder alguém e ainda ver o nome da pessoa associada a crime, sem direito a defesa e sem julgamento. Sobre muitos deles, sabe-se que há sim envolvimento com organizações. Mas ainda é difícil estimar quantos podem ter sido vítimas colaterais. Se são comuns em ocorrências muito menores no Rio, que dirá em algo dessa magnitude. E há os policiais mortos e outros tantos mais feridos. Os criminosos usaram drones para lançar explosivos contra a Polícia. É assustador.

Passou a ser travada disputa entre Governo do Estado e Governo Federal sobre ajuda que não foi dada, blindados que não foram cedidos, protocolos que não foram cumpridos. De um lado um governador do PL, do outro um presidente do PT. A combinação não colabora. O jogo de empurra é o pior dos mundos.

Como as facções serão enfrentadas? A operação impõe o questionamento. A situação do Rio de Janeiro, até pela geografia, é bastante particular. Embora o controle territorial lá seja de outro nível, o problema se reproduz por cidades do Brasil todo. Combater com uso da força é necessário. No caso desta terça-feira, 28, não me parece que as autoridades estivessem preparadas para aquilo a que se propuseram. Os policiais ficaram expostos, criou-se uma situação na qual a vida na cidade foi afetada como um todo. A população está com medo e as rotinas estão de pernas para o ar. E não me parece que tenha sido dado um golpe incapacitante.

É preciso enfrentar o crime organizado com força e energia, mas eu não gostaria que aquilo ocorresse na minha cidade, onde minha família vive. Ah, então vamos tolerar as facções, fazer tréguas tácitas com o crime? Não, isso só torna o problema maior e mais grave com o tempo.

É necessário estar pronto para esse embate. Uma mortandade daquele tamanho, com as consequências urbanas, não é aceitável. Os preparativos, pelos resultados, não foram adequados.

Papel federal

Mais importante que a discussão sobre quem pediu, quem não pediu, o fato é que o Governo Federal precisa entrar decididamente nesse embate. Isso não é feito no governo Lula. Tampouco foi no de Jair Bolsonaro (PL) nem no de Michel Temer (MDB), tampouco nas administrações petistas anteriores. O bolsonarismo adorava faturar quando havia queda na criminalidade, mas fingir que não era com ele quando havia piora. O fato é que, após os quatro anos de governo Bolsonaro, a situação ficou pior e não melhor. O mesmo vale para Lula.

Outro André

O deputado federal André Fernandes (PL) comentou sobre a aliança de oposição e foi enfático ao dizer que a oposição precisa do senador Eduardo Girão (Novo) no bloco. Fernandes é entusiasta da pré-candidatura de Ciro Gomes (PSDB), mas Girão defende que é necessária uma candidatura do campo conservador, o que ele não acha que Ciro seja. O senador do Novo marcou para 30 de novembro o lançamento da pré-candidatura a governador.

A fala de Fernandes é, até aqui, o aceno mais enfático para que Girão integre o bloco. A maioria dos outros líderes oposicionistas fala favoravelmente a ele e entende que ele pensa diferente. Mas não me pareceram fazer lá muita questão do apoio. Talvez pelo desempenho ruim na eleição de 2024 em Fortaleza.
Porém, o que já saiu de pesquisa até aqui mostra que o cenário muda com Girão presente ou não. Quem diria que André seria o mais conciliador e disposto a fazer aceno pelo entendimento.

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