As velhas receitas não funcionam, nenhuma delas, contra facções
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
As velhas receitas não funcionam, nenhuma delas, contra facções
Antes, existia o imaginário de que a vida de delinquência era o que restava às pessoas sem perspectivas. Por isso a educação sempre foi tão importante. Hoje, na estrutura empresarial adotada, o crime deixa de ser espaço meramente para quem não tem instrução. Profissionais de diferentes ramos passam a ser recrutados
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
MINISTRO da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro
O problema das facções criminosas alcançou complexidade tal que não será resolvido por nenhuma das soluções já tentadas no Brasil, da direita à esquerda. Uns vibram, outros se horrorizam com o que aconteceu no Rio de Janeiro, mas penso que ninguém está iludido de que a organização criminosa alvo esteja destruída ou seriamente debilitada. O governador Cláudio Castro (PL) disse que a operação foi um “duro golpe na criminalidade”. Eu esperaria algum tempo para medir esse efeito todo.
Sadismo e instintos primitivos
Existem os que já estão satisfeitos apenas por haver uma pilha de corpos. Não sabem quem são os mortos, o que fizeram. Não se importam por não terem sido julgados nem terem tido direito a defesa. Aí é do patamar do sadismo. A operação atende aos instintos primitivos de uma gente rudimentar.
Educação já não basta
Existe a visão progressista de defesa de políticas preventivas, com ação social e educacional. Isso tudo é fundamental, mas não é mais o bastante para combater o problema da criminalidade. Não há mais apenas a violência pulverizada. São organizações com atuação até no Exterior. Hoje o enfrentamento pela força, nos territórios, é necessário. Mas o Rio de Janeiro mostrou que não é simples, não é suficiente e provavelmente não é eficaz.
As políticas preventivas hoje são mais desafiadoras. Antes, existia o imaginário de que a vida de delinquência era o que restava às pessoas sem perspectivas. Por isso a educação sempre foi tão importante. É fato que, para algumas atividades marginais, o risco era compensado pela possibilidade de remuneração muito além do que seria possível num subemprego. Hoje, porém, na estrutura empresarial adotada, o crime deixa de ser espaço meramente para quem não tem instrução. Profissionais de diferentes ramos passam a ser recrutados para trabalhar nos cada vez mais intrincados negócios da ilegalidade. Até faculdade as organizações pagam para formar seus quadros.
A força maior das facções
Um desafio na repressão está na forma como as facções passaram a atrair jovens. O crime, como escrevi, deixou de ser apenas o último recurso dos desvalidos. A mudança envolveu a imagem de glamour dos grupos criminosos. A ideia de poder, de aventura, faz com que pertencer a esse mundo se torne sonho e desejo. De certa forma, guarda similaridade com organizações terroristas, para as quais um fator abstrato — no caso, a ideologia — é crucial na atração de integrantes.
Contribui para essa atratividade o fato de as facções viabilizarem vida de luxo. Para uns poucos que chegam ao topo e moram nos condomínios da elite. A alta rotatividade nas funções de mando, resultado de prisões e mortes, pode assustar, mas também pode acabar sendo um atrativo para quem ambiciona em ascender. O enfrentamento precisa ser também no campo simbólico.
Importante, mas insuficiente
Algumas máximas viraram chavão, como usar a inteligência e cortar as fontes de recurso, asfixiar financeiramente as organizações. Isso é sem dúvida fundamental, mas tampouco resolve sozinho. Os negócios ilegais envolvem elevado risco. Até por isso tentam migrar para atividades não violentas, como corrupção com o poder público, que oferecem menor perigo, às vezes quase nenhum. Porém, o cerco econômico não é fácil. Além disso, mesmo que o lucro caia bastante, ainda assim pode ser vantajoso para os envolvidos. O risco está precificado.
Para onde?
Dito isto, para onde ir? Eu não faço a menor ideia. A receita do Governo do Ceará, adotada há mais de uma década, igualmente não deu resultado até hoje. A do Rio de Janeiro é o caminho? Parece ser o que acreditam os que aplaudem, inclusive na Câmara dos Deputados. Deve servir para atender os impulsos bárbaros de uma gente cruel e triste. Daqui a seis meses vamos ver como estará a situação.
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