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Candidatura de Flávio, então, é uma ameaça?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Candidatura de Flávio, então, é uma ameaça?

Só quem ficou feliz com o simulacro de pré-candidatura foi a base de Lula. Se pudessem escolher o adversário, Flávio talvez só não fosse mais adequado que os irmãos Eduardo ou Carlos
Tipo Opinião
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Na entrevista ao O POVO na semana passada, o governador Elmano de Freitas (PT) comentou sobre os muitos pretendentes ao Senado na base aliada e as recusas em recuar. “Nenhum pré-candidato vai dizer que não é candidato e não vai até o final lutando por sua candidatura”. É assim para quem quer se viabilizar. Daí quando, em menos de 48 horas, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que pode se retirar da disputa presidencial, embora cobre um preço por isso, já ficou evidente que ele não levará a disputa adiante. Ele já começa falando que pode desistir e em tentativa de barganhar. É um teatro tosco, tão ao gosto do bolsonarismo.

Só quem ficou feliz com o simulacro de pré-candidatura foi a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se pudessem escolher o adversário, Flávio talvez só não fosse mais adequado que os irmãos Eduardo ou Carlos. A militância recebeu com a empolgação de quem assiste à tinta secar numa parede recém-pintada. O centrão torceu o nariz, incrédulo. O mercado ficou de cabelos em pé.

Mas Flávio alegou ter “um preço”. Desiste se o pai dele, Jair Bolsonaro (PL), for solto e puder coocorrer. No dia seguinte, falou outra coisa. Afirmou ser “irreversível” a entrada na corrida pelo Palácio do Planalto. “Minha candidatura não está à venda”, completou um dia depois de colocá-la na prateleira. Dá para acreditar na irreversibilidade de algo vindo de quem apresentou três versões entre a sexta e a segunda-feira?

No bolsonarismo tudo sempre pode mudar. Já comentei que o apoio a Ciro Gomes (PSDB) para governador do Ceará já foi descartado três vezes. O galo ainda vai cantar muito.

O fato é que, da forma como posto, pertinho da porta de saída, o lançamento de Flávio tem ares de ameaça. Aos próprios aliados.

A Padaria Espiritual e a política

A Padaria Espiritual é talvez o episódio mais marcante e celebrado da rica história da intelectualidade no Ceará na virada do século XIX para o século XX. Aquela efervescência deu origem às sociedades abolicionistas que se juntaram a movimentos como o dos jangadeiros e levaram ao pioneirismo no fim da escravização de pessoas. Foi um período em que cearenses — embora geralmente com formação ou mesmo trajetória fora da província/estado — se destacaram em áreas diversas. O maior historiador brasileiro na época foi Capistrano de Abreu. O mais importante jurista, Clóvis Beviláqua; o mais destacado compositor do período, Alberto Nepomuceno. A Padaria Espiritual foi um dos marcos.

Décadas depois, viria a se tornar comum dizer que o programa de instalação, de autoria de Antônio Sales, antecipou aspectos que estariam presentes na Semana de Arte Moderna paulista, de 1922 — embora a produção literária dos membros não tivesse nada de modernista. A Academia Cearense de Letras (ACL) decidiu reeditar a iniciativa. Uma empreitada ousada. Nesta quarta-feira, 10, haverá a posse dos membros dessa nova Padaria Espiritual.

A nova geração de “padeiros” foi selecionada em concurso entre estudantes da rede pública. Serão empossados 20 jovens do 9º ano do ensino fundamental ao 2º ano do ensino médio.

Na Padaria original — essa é a razão de o assunto estar nesta coluna — vários dos membros não foram apenas literatos, mas pessoas de destacada atuação política. O primeiro “padeiro-mor”, Jovino Guedes, foi deputado estadual. Antônio Sales, que assumiu a função de “primeiro-forneiro”, também foi deputado estadual, além de ter ocupado cargos de secretário de Estado. O terceiro “padeiro-mor” foi Rodolfo Teófilo, que não teve mandato eletivo, mas foi ferrenho opositor do todo-poderoso Nogueira Acióli. Escreveu alguns livros de crítica ao então presidente do Estado. Entre eles, Memorias de um engrossador: (homens e cousas do meu tempo). Numa época de saúde pública quase inexistente, Teófilo travou ainda uma luta pessoal para vacinar a população contra a varíola. O poder público não apenas não ajudou como chegou a atrapalhar. Foi há mais de um século, mas poderia ser em tempo bem mais recente.

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